O primeiro Centro de Saúde Universitário do país, que junta prestação de cuidados de saúde, ensino e investigação no mesmo espaço, abre oficialmente as suas portas hoje, segunda-feira, 2 de Junho, com a promessa de, em breve, dar médico de família a mais 1.800 utentes. Para atrair mais profissionais, o presidente da Câmara de Loulé anunciou a criação de uma bolsa anual de 200 mil euros.

«Quero anunciar hoje que Loulé vai destinar uma verba anual de 200 mil euros para criar uma bolsa de investigação clínica aplicada», revelou Vítor Aleixo, no sábado.

O autarca louletano discursava na sessão de inauguração do novo equipamento, que culminou as comemorações da Semana do Município.

Os médicos de medicina geral e familiar que trabalhem no Centro de Saúde Universitário terão direito a uma bolsa, «desde que liguem o seu trabalho a um projeto de investigação científica», explicou o autarca louletano.

O objetivo da bolsa, criada em parceria com o ABC – Algarve Biomedical Center, passa por «financiar» projetos de investigação em qualquer área de saúde e «atrair novos médicos a Loulé», aproveitando também os novos projetos na área de saúde já existentes na cidade e outros que ainda só estão no papel, mas vão avançar em breve.

O novo edifício de serviços de saúde que começa hoje a funcionar, junto ao atual Centro de Saúde, conta com quatro valências divididas por dois pisos. Conta com dezenas de gabinetes de consulta, para prática e ensino em contexto formativo, salas de formação, de reuniões e uma sala de videoconferência.

No rés-do-chão, estarão a Unidade de Saúde Familiar Lauroé, que, com a integração de mais um médico e um enfermeiro, aumentará em cerca de 1800 o número de utentes (de 13450 para 15250), e a Unidade de Cuidados de Saúde na Comunidade Gentes de Loulé, que percorre as nove freguesias do concelho, abrangendo 71 mil utentes numa área superior a 760 km².

No 1º piso, estarão os serviços de gestão do Agrupamento dos Centros de Saúde Algarve Central, que administram toda a logística dos Centros de Saúde de Olhão, São Brás, Faro, Loulé e Albufeira, e o espaço que lhe confere o caráter inovador de ser o primeiro do género no país – uma unidade de formação e investigação em cuidados de saúde primários, que será gerida pelo ABC.

Poderá «estabelecer pontes» com escolas de medicina do país e de todo o mundo, facilitando o acesso «a investigadores de referência internacionais», disse Rubina Correia, diretora clínica para os cuidados de saúde primários da Unidade Local de Saúde do Algarve.

A responsável aproveitou o momento para anunciar o lançamento, pela ULS/Algarve, de «uma rede colaborativa de investigação em cuidados de saúde primários».

«Já desenhada, já com alguns fundos e que reunirá uma equipa multiprofissional, com o objetivo de responder com ciência aos desafios concretos da população, impulsionar a inovação e contribuir para a fixação de profissionais qualificados na região», enquadrou.

O presidente da Câmara de Loulé recordou que a ideia deste projeto nasceu em 2010. «Nós estamos em 2025, vejam bem os anos que isto durou», comentou Aleixo sobre «a história de avanços e recuos» que implicou dois protocolos caducados, antes de, em 2020, ter sido introduzida a componente do centro de saúde universitário.

«Será um espaço de partilha, com vários espaços diferenciados para investigação e formação. É um salto em frente em relação à abordagem convencional de quando se construía um Centro de Saúde, há aqui ambição e inovação e é por isso que é o primeiro do país. Os louletanos devem estar satisfeitos e orgulhosos», sublinhou Aleixo.

A obra custou 7,3 milhões de euros, repartidos entre município (65%) e Ministério da Saúde (35%).

Vítor Aleixo realçou que Loulé «deve estar sempre na linha da frente» na «ambição de servir as pessoas», dando como exemplos o Centro de Simulação cirúrgica, o Laboratório de Genética e o serviço de ressonância magnética, que já funcionam no concelho, e o futuro Edifício Mariano Gago, que contará com a máquina PET (Tomografia por Emissão de Positrões), para fazer diagnósticos a doentes com cancro, e um Centro de Procriação Medicamente Assistida. Um «ecossistema de ciências biomédicas», caraterizou.

Na presença do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, José Apolinário, foram vários os apelos para que seja aprovada a candidatura deste projeto a fundos europeus, no âmbito do Algarve 2030.

«Há de ter financiamento, de certeza, mas é um investimento de 30 milhões de euros. Não há problema. A Câmara de Loulé tem essa disponibilidade financeira e tem de ser ambiciosa a esse ponto. Temos de colocar a fasquia alta, para atrair jovens e fixar talentos, como já está a acontecer», vincou Aleixo.

O presidente da Unidade Local de Saúde do Algarve, Tiago Botelho, considerou o Centro de Saúde Universitário «estruturante» para concelho, região e país, por unir no mesmo espaço as vertentes de «cuidados de saúde, ensino e investigação, pré e pós-graduada».

O dirigente apontou ainda o facto de as relações da ULS com o ABC terem sido normalizadas desde o início do seu mandato, em Novembro do ano passado, «reconciliação» que permitiu «abrir caminho para projetos transformadores» no Algarve, referiu, numa referência ao futuro Edifício Mariano Gago.

Para servir todos estes projetos, Paulo Águas, reitor da Universidade do Algarve, apontou o objetivo de, numa década, a academia aumentar dos atuais 1800 para 3 mil estudantes em cursos na área da saúde, da medicina à terapia da fala, passando por enfermagem, fisioterapia, e dietética e nutrição.

O presidente da Câmara de Loulé anunciou ainda que a obra de requalificação do antigo Centro de Saúde, onde está instalada a USF SerraMar, será adjudicada esta segunda-feira, em reunião de câmara, por 1,9 milhões de euros, com financiamento de 800 mil euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

Fotos: Edgar Pires | Sul Informação