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Sul Informação - Emanuel Sancho vence Prémio Museólogo do Ano

A ingratidão de São Brás de Alportel?

São Brás de Alportel é um caso sui generis no Algarve. Desde logo, constitui o único concelho criado na região no século XX e depois com uma só freguesia. Quase uma aldeia gaulesa.

Nos anos de 1980, a vila recebeu dois párocos que marcaram os destinos daquelas gentes, muito mais que espiritualmente, os padres Afonso e José Cunha Duarte. Irmãos gémeos, dedicaram-se à história de São Brás e do Algarve, da recolha de tradições materiais e imateriais, com as quais escreveram diversos livros, oferecendo esse conhecimento a são brasenses e algarvios em geral.

Mas a sua ação foi mais vasta: a recriação da Festa das Tochas Floridas, havia muito extinta em São Brás, tal como noutras terras da região, haveria de pôr aquela vila no mapa das festas da Páscoa em Portugal.

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Um outro legado, não menos importante, foi a recolha de objetos, vestuário, músicas e tradições pelos montes daquele concelho, que levaria à doação, por António Bentes, da sua casa, apalaçada e vasto quintalão, para a instalação do museu que se veio a chamar em sua homenagem «Casa da Cultura António Bentes».

Não fosse a ação dos padres Cunha, não só a vasta coleção de vestuário/indumentária, acessórios e outros objetos etnográficos se teriam perdido para sempre, como o próprio Museu do Traje, de que José da Cunha Duarte foi fundador e impulsionador, não existiria.

Claro que o sucesso que aquele Museu alcançou não foi alheio ao seu diligente diretor, sabiamente escolhido pelos irmãos Cunha, o Dr. Emanuel Andrade C. Sancho.

A sua ação dinâmica e inovadora ao longo dos anos tem sido exemplar e reconhecida por diversos prémios que recebeu, tal como a instituição, de que são exemplo, o de Museólogo do Ano, em 2021, e a distinção, na categoria de “Projeto de Educação e Mediação Cultural”, em 2023, ambos atribuídos pela APOM (Associação Portuguesa de Museologia).

No contexto regional, foi um dos primeiros museus a realizar exposições temporárias, sempre aliadas à publicação de catálogos, como, em 2004, «Da quadrilha à contradança – o Algarve no tempo das invasões Francesas».

Exposições que a comunidade acorre a visitar, aliás de que fomos testemunha em 2016, aquando da inauguração de «As engrenagens do tempo», onde os são brasenses, dos mais pequenos aos mais velhos, compareceram em peso, e onde a presença massiva de muitos jovens adolescentes, e irreverentes, se fez notar, facto inédito nos tempos que correm, e aquilo que devia ser a regra apenas o era em São Brás de Alportel.

Pioneiro foi também o Grupo de Amigos reunidos à volta da instituição. Tudo isto pressupõe um enorme trabalho junto da comunidade a que o esforço e dedicação do diretor não foi alheio.

O Museu do Trajo, com uma ação notável na comunidade local, e no grupo de amigos que sensatamente foram reunidos à sua volta, tem vindo a engrandecer São Brás de Alportel e as suas gentes, mas não só, tem sido um exemplo no Algarve e em Portugal.

Importa dizer que, se excetuarmos os habituais cumprimentos de saudação, em cerimónias de inauguração de exposições ou de apresentação de livros, nunca conversámos com o Dr. Emanuel Sancho.

Mas admirávamos o seu exemplar trabalho à frente daquele Museu, que, com o seu labor e apoio dos irmãos Cunha e são brasenses, soube colocar São Brás de Alportel no mundo da preservação e do exemplo maior daquilo que deve ser um Museu.

Posto isto, não podemos deixar de mostrar a nossa indignação por toda a controvérsia em torno do seu afastamento, levado a efeito pela atual mesa da Misericórdia de São Brás de Alportel (onde aquela instituição se insere), e o total e inexplicável alheamento do Município de São Brás na resolução da contenda, tal como a maioria da sociedade local, por permitirem e pactuarem com um infame e injusto saneamento.

Serão afinal as gentes de São Brás ingratas e incapazes de reconhecer e defender os interesses da sua terra?

O trabalho dos irmãos padres Cunha, há alguns anos radicados na sua terra natal, no norte de Portugal, em prol da comunidade de São Brás, e o empenho do Dr. Emanuel Sancho, mereciam melhor reconhecimento e acolhimento, que a injustiça e ingratidão a que está a ser votado pelas autoridades locais e parte da sociedade civil de São Brás de Alportel.

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