Só «em último caso» se avançará para a construção de novas barragens no Algarve, nomeadamente as da Foupana e de Alportel, ou de qualquer «obra nova» para aumentar a resiliência hídrica do Algarve, para além das que já estão previstas no Plano de Recuperação e Resiliência, afirmou Maria da Graça Carvalho, ministra do Ambiente e Energia, numa visita a Faro, no domingo.
A governante, que esteve em Faro para inaugurar o Pavilhão da Água e participar na cerimónia de lançamento oficial do concurso público da obra de Tomada de Água do Pomarão, assegurou aos jornalistas que as prioridades do Governo são, por esta ordem, «poupar, reutilizar, evitar perdas, utilizar as infraestruturas existentes, otimizá-las e aumentar a dimensão, se possível, e só em último caso fazer obra nova».
É com base nestas prioridades que o grupo “Água que Une”, «que foi anunciado pelo próprio primeiro-ministro aqui em Faro, logo numa das primeiras saídas que fez quando começou este Governo», está a trabalhar.
«Este é um grupo técnico, presidido pelo presidente das Águas de Portugal, que está a acabar esse trabalho técnico para apresentar ao Governo. Vamos ver quais são os resultados do grupo técnico. (…) Muito em breve, no princípio do ano, será o sr. primeiro-ministro a anunciar os resultados do grupo», revelou a ministra.
Segundo o Público avançou há um mês, a Barragem de Alportel é uma das três que estão previstas num plano para uma melhor gestão da água, a nível nacional, que está a ser criado pelo grupo de trabalho “Água que Une”.
Cerca de um mês antes desta notícia sair, a Associação de Beneficiários do Plano de Rega do Sotavento do Algarve já tinha lançado um concurso público para a elaboração do projeto desta barragem, como Macário Correia, presidente da associação, revelou ao Sul Informação, há um mês.
Os regantes do Sotavento já tinham lançado, no final de 2023, um procedimento idêntico relativo ao projeto da Barragem da Foupana.
A associação, através do seu presidente Macário Correia, tem sido um dos grandes e impulsionadores da construção de mais barragens no Algarve, solução que considera melhor que a dessalinizadora e a Tomada de Água do Pomarão – já criticou, inclusivamente, terem sido primeira opção, em detrimento de mais albufeiras, que também servissem o setor agrícola.
Confrontada com estas críticas, Maria da Graça Carvalho não despe o casaco de ministra, apesar da sua formação técnica.
«Eu posso ter um entendimento como engenheira, não é esse que interessa agora. Eu recebi uma tarefa para cumprir, um Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que estava a meio, que se não fosse executado era perdido para o país», alegou.
Desta forma, a prioridade foi executar. «Fiz a minha parte o mais rápido possível, que era chegar a acordo com a Espanha, abrir os concursos, resolver as questões ambientais, os licenciamentos ambientais e isso está feito. Não havia tempo naquela altura para refazer, para repensar, para ver qual era a melhor solução».
Isto porque estavam em causa, «só na dessalinizadora e no Pomarão, 200 milhões de euros para Portugal e para o Algarve».
Perante a insistência dos jornalistas, sobre se estas duas soluções eram, na opinião da governante, as melhores, Maria da Graça Carvalho disse apenas que isso «não interessa, neste momento».
«São soluções que estão em cima da mesa, que vão ser feitas, que vão dar água para o Algarve usar – a dessalinizadora cerca de 24 hectómetros cúbicos, a Tomada de Água do Pomarão cerca de 30 hm3. Esta é uma quantidade de água considerável para a dimensão do Algarve, onde o consumo humano é cerca de 75 hm3», reforçou.
Para a ministra, «não havia sequer tempo para comparar soluções, havia que executar e é o que estamos a fazer. Não vale a pena cada Governo pôr em causa aquilo que herda, principalmente quando estão em causa fundos que se não forem executados, são perdidos».