No mercado de São Brás de Alportel, há um pouco de tudo: bancas de fruta e legumes, doçaria regional, um café, talho, charcutaria, bancas de peixe, padaria, florista, loja de produtos biológicos e até uma geladaria. Mas quem por lá passa, principalmente ao fim de semana, pode ainda deparar-se com outras coisas, como demonstrações gastronómicas.
Foi exatamente por estas características que o Mercado de São Brás de Alportel, restaurado em 2010, foi o escolhido para acolher o primeiro aniversário da Rede Regional de Mercados Locais, que se assinalou esta terça-feira, 12 de Novembro.
Nota-se que o momento de celebração foi o motivo da entrada de várias pessoas no mercado naquele dia, mas quem conhece bem outras instalações sabe que, em comparação, o mercado de São Brás ainda consegue ser um local de encontro de várias pessoas, de diferentes gerações e nacionalidades.
«Aqui, as pessoas sabem que estão a comprar o mais fresco do que vem da terra e do mar. Produtos que vêm das mãos das pessoas que nós conhecemos. Se todos fizermos um bocadinho desta compra com consciência e tivermos esta atitude de ajudar aquilo que é nosso, conseguimos fazer com que a economia local prossiga, porque a verdade é que há espaço para todos», diz Marlene Guerreiro, vice-presidente da Câmara de São Brás de Alportel, ao Sul Informação.
Num dos corredores laterais, é possível encontrar uma banca onde se lê “Demonstração Gastronómica”, de onde já vem o cheiro a massada de peixe feita com os ingredientes das bancas vizinhas.
Pode parecer que tudo está ali de propósito para o aniversário da Rede Regional de Mercados, mas não. Esta “Demonstração Gastronómica” trabalha todos os últimos sábados do mês, desde 2010, mas nem sempre com as mesmas pessoas atrás do balcão.
«Ao sábado, há sempre complementos de animação, quer seja com as demonstrações gastronómicas ou com as mostras de empresas novas, artesanato, produtos locais, etc… Já são 14 anos desta nova “era”, digamos assim. Quando reabrimos, percebemos que não podíamos reabrir apenas um edifício, tínhamos de reabrir com uma nova dinâmica e forma de estar no mercado e, de facto, acho que temos conseguido», acrescenta a autarca.
Na Padaria do Mercado (é mesmo assim que se chama), encontramos Alina, de 34 anos, que prontamente se disponibiliza a falar com o nosso jornal.
A Padaria é do seu pai e já existe «há mais de 30 anos», mas os últimos tempos não têm sido fáceis.

«Antigamente, vendíamos muito mais, víamos mais pessoas aqui e isso também se deve à entrada de grandes supermercados na cidade, o que faz com que fique difícil para os pequenos comerciantes resistir. A população mais velha valoriza ter aqui um mercado com muita oferta, a mais nova nem por isso. Digamos que são a geração do microondas, quanto mais rápido melhor. Não têm a paciência de esperar, de vir escolher, porque não foram habituados a esta coisa de vir à praça. Isso já não está incutido nos pais e os pais não passam para os filhos», lamenta a vendedora.
Ainda assim, Alina considera que iniciativas como as que São Brás realiza são positivas e trazem mais pessoas ao mercado, principalmente ao sábado.
A conversa é interrompida por uma cliente habitual. Alina até já sabe que bolo a freguesa vai pedir e confessa que é dos clientes habituais que o negócio vive, mas, ainda assim, não deixa de ter fé no futuro.
«A geração futura é o melhor, temos de contar com eles, por isso não seria uma má iniciativa trazer os miúdos a fazer compras para eles verem o que temos aqui», sugere.
A vida dos vendedores dos mercados municipais pode até já ter sido melhor e mais facilitada, mas isso não faz com que não haja gente jovem a querer continuar o negócio de família.
É o caso de Alina, mas também de José Martins, filho de vendedores daquele mercado há 26 anos. José, de 31, abriu a sua própria banca de peixe em Janeiro.
«Sempre quis vir para cá trabalhar, os meus pais nunca viram isso com muito bons olhos, porque queriam uma vida diferente para mim, mas eu sempre quis. Entretanto, houve um vendedor que se reformou e eu ganhei a banca dele no leilão», conta.

José já trabalhou em vários sítios, mas não tem dúvidas de que é aqui que se sente mais feliz, principalmente ao sábado, dia em que o número de fregueses aumenta bastante.
Além São Brás de Alportel, a Rede Regional de Mercados Locais engloba os Mercados de Sagres, Vila do Bispo, Aljezur, Odeceixe, Almádena, Odiáxere, Barão de São João, Bensafrim, Espiche, Monchique, Alvor, São Bartolomeu de Messines, Alcantarilha, Pêra, Algoz, Moncarapacho e Silves, onde, há um ano, este projeto foi apresentado.
«Os 18 mercados são muito heterogéneos, há uns que estavam praticamente desativados, há outros que já tinham dinamismo e que se redinamizaram e são esses também que incentivam os outros», explica Aura Fraga, diretora da Vicentina – Associação para o Desenvolvimento do Sudoeste, entidade de promove este projeto.
Apesar de o balanço deste ano de atividades ser «muito positivo», a responsável salienta que este é «um projeto complexo» e que «não é fácil o processo de desvio do consumo das grandes superfícies para os mercados, que já está instalado».
«O facto é que é preciso consolidar o projeto para que o impacto se possa sentir ainda mais, mas o que sentimos é que tem havido grande adesão dos produtores e consumidores, que sentem que se está a dar grande atenção. Os produtores são sempre um bocadinho pessimistas, mas, de qualquer maneira, ficam agradados e colaboram connosco», continua.
Nesse caso, segue-se agora, segundo Aura Fraga, «uma fase de consolidação do projeto com comunicação para as comunidades, dando continuidade ao que já foi feito», sem esquecer o que ficou para trás.
A Rede Regional de Mercados Locais foi criada em 2023, dando continuidade a um projeto que já existia e que era financiado pelo PADRE (Plano de Ação para Desenvolvimento dos Recursos Endógenos).
Para o futuro, a Vicentina espera que o número de parceiros aumente e que a rede possa englobar mais concelhos.
Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação