Jamila Madeira/PS: «A saúde foi e continua a ser a nossa primeira prioridade»

«Numa região que tem uma lógica de mobilidade integrada débil, acabar com as portagens na Via do Infante é hoje uma das principais medidas do PS»

Jamila Madeira – Foto: Cátia Rodrigues | Sul Informação

Jamila Madeira, 48 anos, economista, é deputada socialista, funções que já tinha desempenhado por cinco vezes antes. Foi secretária de Estado Adjunta e da Saúde no segundo Governo de António Costa. Antes, de 2004 a 2009, foi eurodeputada. Entre 2000 e 2004, foi secretária geral da Juventude Socialista. É volta a ser cabeça-de-lista do PS às Eleições Legislativas do próximo domingo, pelo círculo de Faro.

Agora que está a decorrer a campanha eleitoral, o Sul Informação está a publicar entrevistas com os cabeças-de-lista dos 14 partidos ou coligações que se candidatam às Legislativas do próximo dia 10 de Março.

As mesmas questões foram enviadas, atempadamente, a todos os 14 primeiros candidatos, abrangendo os principais temas em foco no Algarve.

As entrevistas são publicadas à medida que as respostas vão chegando à nossa redação.

 

Sul Informação – Quais são as prioridades da sua força política na próxima legislatura para o Algarve?
Jamila Madeira
– As nossas preocupações são as maiores preocupações dos algarvios e estas são a saúde, a seca e a habitação. Três elementos-chave do nosso programa e que tivemos sempre na agenda.

SI – Quais são as expetativas e objetivos da sua força política em relação a estas Eleições Legislativas? O que falta fazer no Algarve?
JM –
Renovar a confiança dos algarvios no PS é o meu objetivo. Acredito que falta fazer muita coisa no Algarve. Não desisto da minha terra pois é aqui que pertenço, sou de cá, é aqui que está a minha vida e onde quero continuar a estar.
Temos muita ambição e isso faz com que se lute sempre por mais e melhor e naturalmente isso fez-me aceitar o convite para encabeçar a lista do PS pelo Algarve. Considero que demos muitos e fortes passos concretos na mudança da nossa região para melhor, mesmo tendo em conta que esta legislatura foi abruptamente interrompida.
O Algarve sabe que as grandes mudanças sempre foram conquista do PS e, por isso, sabem que o Hospital do Barlavento, a Via do Infante, a autoestrada até ao Algarve, a eletrificação da ferrovia Lisboa-Faro e agora Lagos-VRSA, a barragem de Odelouca, o Conservatório Público do Sul, a Faculdade de Medicina, etc, foram conquistas ligadas agora à nossa história, mas que foram tornadas realidade pelo PS.

SI – A seca e a falta de água é um tema premente no Algarve. Que soluções defende, no curto prazo, sabendo-se que a água atualmente disponível só chega até Agosto? E no médio e longo prazo?
JM –
Não temos dúvidas de que a água é uma questão crítica para a nossa região e desde cedo que o sinalizámos.
Por isso construímos um Plano de Eficiência Hídrica e o Governo garantiu 237 milhões de euros.
Este dinheiro servirá para construir a Central Dessalinizadora, que garante 1/3 do consumo humano, captar água no Pomarão e viabilizar a sua expansão até ao Alqueva e Alqueva-Santa Clara-Bravura, reduzir as perdas de água no circuito urbano e agrícola e reutilizar as águas residuais, bem como realizar o estudo de viabilidade da Barragem da Foupana, previsto no OE 2024.
Resolver a falta de água é, por isso mesmo, um nosso propósito e as obras que o concretizam estão a avançar e não podem parar.

SI – A Saúde é um setor muito deficitário no Algarve e no país. Que medidas preconiza para resolver os problemas da Saúde no Algarve? SI – E quanto ao Hospital Central do Algarve? O que deve ser feito?
JM
– A saúde foi e continua a ser a nossa primeira prioridade. Cumprir o compromisso do novo Hospital Central do Algarve, agora que já tem o perfil assistencial aprovado, está ao nosso alcance. Este propósito não pode parar.
Queremos prosseguir a política de investimento nos hospitais, que tiveram nesta legislatura cerca de 28 milhões de euros de investimento em equipamentos tecnológicos, equipamentos clínicos diferenciados em respostas avançadas de suporte à investigação e resposta assistencial na região.
Nestes últimos anos, instalámos, apetrechámos e explorámos um novo Hospital das Terras do Infante, em Lagos, com o qual foi recuperada a capacidade cirúrgica com duas salas de Bloco Operatório. Este hospital já triplicou a procura local em consultas e, com ele, viabilizámos a recuperação da espera em cirurgias de oftalmologia na região.
Captámos, equipámos e abrimos novas especialidades médicas para a região, antes inexistentes: Cirurgia pediátrica; Neuroradiolgia de intervenção (que permitiu subirmos a resposta de nível A em AVC trombectomia); Cirurgia Vascular; contratações para a Procriação Medicamente Assistida; Medicina Nuclear.
Temos mais 500 profissionais, dos quais 75 médicos e os restantes enfermeiros e técnicos superiores de diagnóstico e terapêutica.
Promovemos a captação de 60 ensaios clínicos em articulação com Universidades. Foram contratados 180 internos e, em integração para as especialidades/ano, ampliámos até 90 para acolhimento dos alunos formados no Mestrado Integrado de Medicina da UAlg;
Neste quadro de evolução, foi ainda assegurado o cumprimento integral do SIADAP para progressão das carreiras e atualização remuneratória de todos os profissionais, pois os nossos profissionais são a nossa maior mais-valia e a quem agradecemos o empenho e dedicação para que a oferta de saúde no Algarve seja cada vez mais robusta para todos, independentemente da sua condição económica.
Ao nível dos cuidados de proximidade, temos em curso as obras para concluir o reequipamento e construção de novos edifícios de cuidados de saúde primários, de que são exemplo Albufeira, Faro, Lagos, Loulé, Monchique, Olhão, São Brás de Alportel, Tavira, Vila Real de Santo António.
São investimentos que rondam os 50 milhões de euros, garantidos pelo Plano de Recuperação e Resiliência, bem como a relevante nova articulação com cada município para garantir qualidade na promoção da saúde e na prevenção da doença, com proximidade na resposta às pessoas e para um efetivo alívio esperado nas urgências, a par da viabilização de um Centro de Referência Oncológico, já com fundos comunitários aprovados.
Queremos continuar a atrair mais profissionais de saúde, com o objetivo de assegurar uma equipa de saúde familiar a todos os algarvios e alargar o programa de hospitalização domiciliária, bem como as equipas comunitárias de saúde mental, para adultos e crianças, em toda a região.
Pretendemos também garantir o aumento do número de camas de reabilitação intensiva do Centro de Medicina Física e Reabilitação do Sul e o reforço do número de camas de cuidados continuados no Algarve.
Reforçámos a capacidade crítica do Laboratório Regional Laura Aires e queremos que continue a destacar-se como unidade de referência regional e nacional.

SI – O Centro Hospitalar Universitário do Algarve e a Administração Regional de Saúde juntaram-se, a partir de 1 de Janeiro, num único organismo, a Unidade Local de Saúde do Algarve. O que pensa desta alteração e que expetativas tem para o seu futuro?
JM – Será um grande desafio, por isso, como todos os desafios e reformas, espero que corra pelo melhor. Representa a integração desde o cuidado mais básico ao cuidado hospitalar mais sofisticado. É um grande desafio.

SI – O anterior Governo, agora apenas em gestão, transformou as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional em Institutos Públicos, agregando novas funções (como a Agricultura e Pescas, bem como a Cultura). O que pensa desta alteração e que expetativas tem para o seu futuro? Trata-se de um primeiro passo para a Regionalização?
JM – Todos os caminhos que levem ao reforço do poder regional são, por mim, bem vistos. Acredito que o reforço democrático da CCDR lhe dará mais força para que essas alterações sejam bem-sucedidas.
Como regionalista, farei tudo para que as opções sejam as corretas.
Naturalmente, quero que a cultura, a agricultura e pescas, educação, sector social, etc. e as demais decisões noutros sectores críticos sejam tomadas na região. Não como balcão de atendimento, mas com poder de facto para decidir sobre os destinos da região e sobre aquilo que queremos para o nosso futuro.

SI – Que soluções preconiza para as portagens na Via do Infante? SI – E para a conclusão das obras na EN125, de Olhão a Vila Real de Santo António? SI – Um dos grandes problemas do Algarve é o da mobilidade. Estão a ser feitas obras para a eletrificação da Linha do Algarve, prevê-se a criação do Metrobus e fala-se de uma eventual ligação por TGV entre Faro e Huelva/Sevilha. Qual a sua opinião sobre estas questões e que soluções defende?
JM – Numa região que tem uma lógica de mobilidade integrada débil, acabar com as portagens na Via do Infante é hoje uma das principais medidas do PS.
Entre 2015 e 2024, o Partido Socialista diminuiu em 60% o valor das portagens.
Desta feita, vimos agora assumir o compromisso de eliminar de imediato a cobrança de portagens na A22, bem como concretizar as obras de requalificação da EN125, supridos os problemas de litigância que herdámos da direita, para assegurar as ligações e variantes em falta, designadamente a Variante de Olhão e a ligação de São Brás de Alportel, assim como a requalificação da EN125 até à entrada de Sagres.
Mas prosseguimos os desafios e está em obra a eletrificação da Linha de Caminho de Ferro do Algarve, de VRSA até Lagos, pelo que tal mudará a abordagem da ferrovia na região.
Temos também a bom ritmo o projeto de ligação de MetroBus entre Faro, Loulé e Olhão, com conexão à Universidade e Aeroporto, muito relevante para prosseguir a lógica de mobilidade sustentável.
Neste sentido, temos como propósito prosseguir com a política de diminuição do custo dos transportes públicos, financiando a aquisição de passes na rodoviária e na CP, bem como evoluir para o passe intermodal.
A ligação ferroviária internacional é crítica, sobretudo num contexto de medidas de mobilidade sustentável, pelo que a ligação Lisboa-Faro-Sevilha será sempre defendida pelo PS como investimento de futuro para o país e para a UE.
Outra obra que mudará a estratégia de mobilidade do barrocal e serra é o lançamento e concretização da obra de construção da nova Ponte Internacional Alcoutim-San lucar.

SI – O presidente da Região de Turismo do Algarve queixou-se de que o orçamento deste organismo é curto e não é aumentado há largos anos. O que preconiza para este setor, na região algarvia? 
JM – Sou regionalista, acredito na regionalização, por isso mesmo acredito que a maior região de turismo do país tem um papel próprio nesse contexto e sairá naturalmente reforçada por quem a defende.
Não creio que a questão da orgânica do governo deva ser vista de forma algo simplista. Também me recordo que até houve quem embandeirasse em arco com a instalação de uma secretaria de estado do Turismo no Algarve e não vi que isso tivesse sido uma mais-valia.
Aquilo que tem que ser avaliado é o real poder dessa estrutura e não apenas um título.

SI – No caso de questões mais fraturantes, votará na AR de acordo com a sua convicção, mesmo que vá contra as orientações do seu partido?
JM – Sempre encontrei espaço para as minhas convicções dentro do PS e creio que o trabalho é fazer com que o PS perceba sempre as reivindicações e especificidades de uma região particular e única como o Algarve, para que esteja sempre apto a abraçá-las.
E, como em tudo, o caminho faz-se caminhando. Umas vezes mais fácil, outras mais difícil.

SI – Considera que seria útil alterar a lei eleitoral, para criar círculos uninominais e parciais e um círculo nacional de compensação, e assim aproximar mais os deputados dos cidadãos? Porquê ou porque não?
JM – Aproximar o eleito do eleitor sempre foi a minha atitude. Procurarei prosseguir esse fito, mas nunca de forma simplista, por considerar que esse tema não tem uma resposta fácil nem linear.

SI – Quer acrescentar mais algum tema ou questão?
JM – Sim, creio que diversificar a economia do Algarve é crítico para fixar os quadros qualificados que aqui querem ficar.
Para fazer o caminho para uma economia cada vez mais forte, vamos continuar a apostar na diversificação da economia e no combate à sazonalidade, com recurso ao fundo de 300 milhões de euros que o governo do PS conseguiu para o Algarve.
Apoiar a inovação e a indústria tecnológica, continuar a dar fôlego à ampliação de projetos como o Campus Tecnológico da Universidade do Algarve, ao Centro de Simulação Clínica, ao Celerator do Autódromo e ao Algarve Biomedical Center, que são exemplos de como podemos criar emprego, crescer e mudar a face dos nossos recursos humanos e paradigma empresarial e económico.
E, claro, a habitação ,porque habitação a custos acessíveis para quem quer cá morar e trabalhar é essencial. Habitação acessível para Todos.
O Algarve foi a primeira região a assinar Estratégias Locais de Habitação em todos os municípios, com a identificação de mais de 6000 necessidades de Habitação.
Desenvolvemos estratégias para promover habitação para todos os que precisam, sejam jovens, profissionais da saúde, professores, forças de segurança ou outros, através de arrendamento acessível, por via de arrendamento público, apoios à renda ou subarrendamento às famílias ou mesmo em parceria com o privado. Estão em acelerado desenvolvimento.
Temos a noção que só com um forte parque de habitação público é possível dar resposta aos problemas e às necessidades de habitação da classe média.
A direita acha que o mercado resolve os problemas de habitação. Mas nós sabemos que isso não é verdade. Veja-se este problema noutros países, onde assume clara similitude.
Só com forte investimento público, do Governo e das autarquias, angariaremos casas para as pessoas a custos acessíveis. Para as pessoas que trabalham e vivem do seu salário.
Isto sublinhando também a importância da continuação da política de construção e reabilitação de novas residências para estudantes e também o acesso a estas por parte dos estudantes não bolseiros.

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub