Albufeira foi palco de uma gala estrelada e de emoções

Uma sala cheia e ansiosa para saber as novidades do Guia Michelin, que pela primeira vez teve uma gala exclusiva para Portugal: era assim que estava o auditório do Palácio de Congressos do Algarve, no Hotel Nau Salgados, em Albufeira, na noite desta terça-feira, 27 de Fevereiro.

As expectativas eram grandes. Muitos esperavam o primeiro três estrelas do país, outros que houvesse uma mulher a receber a distinção, já que, dos mais de 30 restaurantes estrelados em Portugal, todos são chefiados por homens. Nem uma, nem outra se concretizaram.

A noite não deixou, contudo, de ser de grande emoção para todos os que subiram ao palco e para os que souberam que as suas estrelas se mantinham.

No Algarve, a boa notícia é que há sete restaurantes que se mantiveram estrelados: Ocean (do chef Hans Neuner, no Vila Vita, em Alporchinhos, Lagoa) e Vila Joya (Dieter Koshina, Albufeira), ambos com duas estrelas, o A Ver Tavira (Luis Brito, Tavira), Al Sud (Louis Anjos, Palmares, Lagos), Bon Bon (José Lopes, Carvoeiro, Lagoa), Gusto (Heinz Beck, no Conrad Algarve, em Almancil, Loulé) e ainda o Vista (João Oliveira, no Hotel Bela Vista, na Praia da Rocha, Portimão), todos com uma estrela.

Em relação ao ano passado, na lista já não consta o Vistas, em Vila Nova de Cacela, de onde o chef Rui Silvestre saiu em Dezembro.

Os restaurantes algarvios somam assim um total de nove estrelas.

João Oliveira, que foi um dos chefs coordenadores da gala, faz um balanço «muito positivo» da noite.

«Expectativas havia muitas, mas não se pode dizer que foram defraudadas, porque o Guia é completamente independente e imprevisível e, por isso, nem sempre acontece o que queremos. Mas correu tudo muito bem e foi um dia muito especial para a gastronomia portuguesa, que daqui a uns anos vai dar frutos incríveis», disse ao Sul Informação o chef do Vista, no Hotel Bela Vista, na Praia da Rocha, Portimão, com 1 estrela Michelin.

Quanto ao Algarve, o chef frisa que a região «sempre esteve bem posicionada no Guia», apesar de, nos últimos anos, não terem surgido muitos projetos «com a devida qualidade que o Algarve deveria proporcionar, por questões de estratégia».

João Oliveira considera, contudo, «que estamos a recuperar» e que «termos a primeira Gala no Algarve foi muito bom porque proporcionou também mais ligação entre os chefs que cá trabalham».

Ainda assim, frisa que não se pode dizer que os resultados tenham sido muito positivos para a região, já que não houve nenhuma nova estrela e se perdeu uma (do Vistas).

Para André Gomes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), estas distinções significam «um reconhecimento para a região muito importante, da nossa diversidade de oferta gastronómica e dos produtos endógenos com os quais estes chefs trabalham».

O responsável pelo turismo algarvio falava ao Sul Informação no final da gala, altura que aproveitou ainda para deixar umas palavras de elogio a todos os profissionais deste setor.

«O Algarve, e o país, continua a sentir muito a dificuldade de arranjar recursos humanos para a área da restauração, mas, de facto, iniciativas como esta creio que são um acrescento para todos aqueles que amam esta profissão e procuram novos desafios», disse, realçando o papel das Escolas de Hotelaria e Turismo, nomeadamente as algarvias, por onde alguns chefs galardoados até já passaram.

Nesta noite de terça-feira, quem também subiu ao palco a representar o Algarve foi o chef Nuno Martins, do Numa, em Portimão, e a chef Noélia Jerónimo, do Noélia, em Cabanas de Tavira, ambos para receber a distinção no âmbito dos novos restaurantes recomendados do Guia 2024.

No palco, houve lágrimas e até se disse um “tragam pão”, expressão utilizada tantas vezes por Noélia no programa de televisão “Master Chef Portugal”, no qual é jurada há duas edições consecutivas.

Mas as emoções não ficaram por aqui. O grande destaque da noite pode dizer-se que foi para Vitor Matos, do Antiqvvm, no Porto, que passou a ser o novo duas estrelas de Portugal. Este chef subiu ainda ao palco para, juntamente com Francisco Quintas, receber a primeira estrela do 2Monkeys, em Lisboa.

Nas Estrelas Verdes (compromisso especial com a gastronomia sustentável), foram galardoados o restaurante Malhadinha Nova, do chef João Sousa, em Albernoa (Alentejo), e Ó Balcão, do chef Rodrigo Castelo, em Santarém.

Este ano, foram também entregues pela primeira vez os prémios Sala (Pedro Marques, do Yetman, de Vila Nova de Gaia), Sommelier (Leonel Nunes, Il Gallo d’Oro, Funchal) e Jovem chef (Rita Magro, Blind, Porto).

Numa altura em que o Algarve se prepara para ser palco de um outro grande evento, o Moto GP, o presidente da RTA destaca que é «muito satisfatório» que a região tenha sido a escolhida para esta primeira Gala Michelin exclusivamente portuguesa.

«A partir do momento em que tivemos conhecimento desta possibilidade, abraçámos o projeto em conjunto com o Turismo de Portugal e colocámos todo o nosso empenho para termos aqui uma grande festa».

Objetivo cumprido, André Gomes espera que esta não seja a última vez que a região recebe o evento, mas frisa que «todo o país tem o seu mérito e merece também esta oportunidade», já que «a oferta gastronómica portuguesa é extremamente conhecida e de alta qualidade».

José Carlos Rolo, presidente do município anfitrião, disse ainda ao Sul Informação que a Gala poderá ter contribuído para os atuais indicadores de «boa ocupação hoteleira que se registam em Albufeira».

A seleção do Guia de 2024 inclui um total de 167 restaurantes, dos quais 39 são Estrelas Michelin (8 de duas estrelas e 31 de uma estrela), 32 são Bib Gourmand e 96 são Restaurantes Recomendados. Em Portugal, há também 5 que têm a distinção Estrela Verde.

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

Gwendal Poullennec, diretor internacional do guia

Mari Paz Robina, presidente do guia Michelin para Portugal e Espanha

Cuca Roseta foi a convidada para atuar duas vezes

No fim da gala houve uma degustação de pratos elaborados pelos chefs