Há vida no Mercado de Moncarapacho, mesmo com poucos comerciantes

O Sul Informação está a visitar os 18 mercados que fazem parte da Rede Regional de Mercados Locais

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

Na banca de Lisdália Esperança, há um pouco de tudo o que a terra dá: legumes, fruta, pão, frutos secos, compotas e até bolos. É a vendedora mais recente do Mercado de Moncarapacho, mas também a que tem o maior número de bancas (três), que divide com a filha.

«Eu já fazia parte dos Mercados de Olhão, mas depois alguém saiu e eles convidaram-me para vir para aqui com os meus produtos. Trato mais da parte dos legumes e frutas, os doces e frutos secos é a minha filha que faz, mas hoje não pôde vir», diz ao Sul Informação, à medida que vai atendendo quem por ali passa.

Lisdália tem 50 anos e, por isso, depois da filha, é, além da vendedora mais recente, a mais jovem. Estando no mercado de Moncarapacho apenas há dois anos, começou a trabalhar «nos contentores», onde o Mercado funcionou durante as obras de requalificação que terminaram no Verão.

O Mercado de Moncarapacho, agora renovado, é um dos 18 que fazem parte da Rede Regional de Marcados Locais e que, por isso, também recebeu a iniciativa “Há Petisco no Mercado”, coordenada pela associação de desenvolvimento Vicentina, que estabeleceu inúmeras parcerias para levar àvante este projeto, financiado pelo PADRE – Plano de Ação para o Desenvolvimento dos Recursos Endógenos, integrado no CRESC Algarve 2020.

Quando por lá passámos, o movimento não era pouco.

Foram muitos – e até de várias faixas etárias – os que quiseram perceber o que por aqui se passava e provar o petisco do dia: uns folhadinhos de queijo de cabra com azeitona britada e pistácios.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

À medida que os iam levando à boca, as reações eram de satisfação e, com o petisco na mão, lá iam os fregueses passeando pelo mercado e apreciando o que as bancas tinham para vender.

Neste local, recentemente renovado, ainda há bancas por ocupar e as lojas estão todas vazias.

Além de Lisdália, são mais meia dúzia os vendedores que dão vida ao Mercado de Moncarapacho, que conta com mais uma banca de fruta e legumes e três de peixe.

Também com produtos da terra, encontramos Aldina Santos, que abriu a sua banca há pouco tempo.

«Já cá estava antes, como funcionária, mas depois a pessoa para quem eu trabalhava fechou a sua banca e eu fui para o fundo de desemprego. Quando a praça reabriu, pensei que podia experimentar vender. Abri atividade e vim ver como corria», conta, ao nosso jornal.

 

Aldina na sua banca de frutas e legumes. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

O dia da iniciativa “Há Petisco no Mercado” foi diferente do habitual, porque, na maior parte do tempo, o movimento é pouco.

«São precisos mais negociantes aqui. Como somos poucos, as pessoas não vêm muito e preferem comprar nos supermercados. Antes funcionava bem, mas agora fechou muita coisa e sem o talho…»

Higina Carlos, da banca do peixe, queixa-se do mesmo.

«A população aqui é mais idosa e notámos um grande decréscimo com a abertura do Intermarché mesmo aqui ao lado. Isto é uma terra pequena. Quando não havia grandes superfícies, havia mais pessoas no mercado, agora, como há, chegam ali e levam tudo: carne, peixe, legumes… O talho aqui faz muita falta», desabafa, enquanto vai amanhando o peixe.

Trabalhadora neste mercado há mais de 10 anos, considera que as mudanças após as obras de requalificação podiam ter sido mais benéficas.

 

Higina Carlos. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«O melhor foi terem posto água, porque as bancas ficaram muito altas, o peixe, quando o pomos aqui em cima na banca cai lá para baixo, estão muito inclinadas, não consigo chegar ao peixe. Foi também muito tempo nos contentores e as pessoas deixaram de vir», desabafa, reforçando que o maior problema é a quantidade de lojas vazias.

«Há pessoas a querer ocupar os espaços, e isso é bom sinal, mas desde Setembro que querem e era bom que os concursos já tivessem sido abertos», continua.

Armando Graça, vendedor de peixe neste mercado há 35 anos, considera que as obras foram benéficas, mas também salienta a falta que um talho faz.

«Não nos podemos queixar muito. Isto estava muito frágil, chovia cá dentro e agora tem melhores condições, podemos trabalhar mais à vontade e é o que vejo disto. Quanto ao talho, o senhor que cá estava tinha tantos anos de trabalhar aqui como eu, mas, pronto, as condições também não eram as que ele desejava e foi-se embora».

Ana Paula tem também uma banca de peixe composta, porque, como diz, «é preciso ter de tudo um pouco», ainda que «o poder de compra seja pequeno e muitos optem pelos carapaus, cavalas e peixe mais em conta».

Nesta manhã de quarta-feira, cruzámo-nos com vários compradores, mas Ana Paula também se queixa da falta de movimento.

 

Ana Paula. Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

«O sábado é sempre o melhor dia, mas são precisos mais negócios aqui e iniciativas como esta que chamem as pessoas, mais velhas e mais novas», diz a comerciante também com 10 anos de casa.

Eduardo Cruz, presidente do conselho de administração dos Mercados de Olhão, que gere os espaços de Olhão, Moncarapacho e Fuzeta, garantiu estar prevista para breve a abertura de concursos para as vagas disponíveis nos três mercados e reforçou a importância de não os deixar morrer.

«O que vemos aqui é produto fresco e isto é que faz a diferença dos outros formatos comerciais. Não é produto com outro ciclo de vida. Além disso, tudo o que possamos fazer aqui para atrair outros públicos diferenciados é positivo», diz.

 

Foto: Mariana Carriço | Sul Informação

 

Quem também o defende é Francisco Justino, encarregado coordenador dos Mercados de Olhão, que, com estes eventos, espera «reavivar mais o hábito das pessoas de virem ao mercado».

Já Márcio Viegas, presidente da associação Vicentina, salienta como o Mercado de Moncarapacho é um bom exemplo.

«É um mercado pequenino, assim como a maioria dos mercados desta rede regional. O que pretendemos é dinamizar a rede nestes territórios mais periféricos relativamente aos principais mercados do litoral. Este é um bom exemplo, de uma obra recente, mas que precisa também das novas gerações para sobreviver. É preciso mostrar que é bom consumir local, também porque é preciso ter atenção aos circuitos curtos e à nossa pegada ecológica, além da questões da saúde».

Prestes a terminar, Márcio faz um balanço muito positivo da iniciativa “Há petisco no Mercado”, reforçando que, em Moncarapacho, a adesão foi muito boa.

Agora, como defendem os vendedores, é continuar a trazer mais iniciativas destas, para que a alegria se mantenha ao longo da semana.

 

Fotos: Mariana Carriço | Sul Informação

 

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