UAlg e HPA trazem para o Algarve curso que prepara cirurgiões para «o inesperado»

Curso europeu juntou formandos de vários pontos de Portugal e de outros países europeus e um corpo docente composto por reputados especialistas

Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

Imagine que é um cirurgião de plantão na Urgência e que dá entrada um paciente que nunca antes viu e do qual nada sabe, em estado grave, mas sem traumas ou manifestações exteriores do que o afeta. Julgo que qualquer cirurgião, nesta situação, só tem uma opção: agir depressa, com a provavelmente parca informação que conseguir obter em pouco tempo, para tentar salvar aquela vida.

É para ajudar os cirurgiões a tomar as melhores decisões, quando confrontados com o inesperado, que serve o Curso Europeu de Emergência Cirúrgica, que o Algarve acolheu pela primeira vez nos dias 2 e 3 de Outubro.

O Centro de Simulação Clínica da Faculdade de Medicina e Ciências Biomédicas (FMCB) da Universidade do Algarve, no Campus de Gambelas, em Faro, foi o local escolhido para acolher esta formação avançada, que tem o patrocínio científico da Sociedade Europeia de Trauma e Emergência Cirúrgica e também da Associação Americana de Cirurgia de Trauma, e que o Hospital Particular do Algarve ajudou a organizar.

Em Portugal, o curso é coordenado pelo médico Carlos Mesquita, presidente da Associação Lusitana de Trauma e Emergência Cirúrgica (ALTEC). À semelhança do que aconteceu na primeira edição desta formação a decorrer no nosso país, que teve lugar no Funchal, também no Algarve (a segunda de sempre no nosso país) o curso conta com participantes internacionais e um leque de dez formadores, tanto nacionais quanto internacionais.

Carlos Mesquita e Jonathan Tilsed, diretor da Sociedade Europeia de Trauma e Emergência Cirúrgica (ESTES na sigla em inglês) e o responsável por este curso europeu, falaram com o Sul Informação, no final do primeiro dia de trabalhos, no Centro de Simulação Clínica da FMCB.

 

Jonathan Tilsed e Carlos Mesquita – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

«O ESTES organiza este curso há vários anos. Em Portugal, é a segunda vez. Fizemos o primeiro curso no Funchal e agora decidimos vir aqui para o Algarve, porque a Universidade do Algarve e o Hospital Particular do Algarve nos proporcionaram condições muito boas», revelou Carlos Mesquita.

As duas instituições estão a apoiar a realização do curso «com a cedência de instalações e com outro tipo de apoio».

E, como fizeram questão de salientar os dois responsáveis pela realização do curso no Algarve, «uma coisa que pesou e que facilitou muito a vinda do curso para cá são as excelentes condições que esta Faculdade de Medicina do Algarve, nomeadamente a escola médica e o centro de simulação, tem, que fazem inveja a muita gente».

«Este curso é pensado para ajudar cirurgiões que fazem cirurgia de emergência a ter o conhecimento e as competências de modo a poder lidar e fazer um bom trabalho ao fazer este tipo de operações», resumiu Jonathan Tilsed.

Isso consegue-se ensinando «o processo de tomada de decisões, para que [os médicos] façam as opções certas».

«É o pensamento e capacidade de decisão que fazem toda a diferença. Como cirurgião, podes fazer uma operação brilhante, em termos técnicos, mas se não for o procedimento certo, não vai adiantar nada ao paciente», explicou Jonathan Tilsed.

Este é, de resto, um curso que é, essencialmente, orientado para «cirurgiões já com muitos anos de experiência».

«Alguns dos candidatos são médicos internos desta especialidade, a maioria de cirurgia geral, mas alguns também de outras especialidades relacionadas, como a urologia. Também temos cirurgiões militares, bem como diretores de serviço de hospitais em Portugal e cirurgiões sénior, não apenas gente nova. É uma mistura», disse, por seu lado, Carlos Mesquita.

«Muitas das pessoas que estão a tirar o curso são cirurgiões com muita formação, com prática privada, e tem sido assim onde quer que levemos esta formação. Este curso é pensado para quem quer atualizar as suas competências e quer conhecer os mais recentes avanços em cirurgia de emergência. É o curso ideal para eles», reforçou Jonathan Tilsed.

 

Paulo Sousa – Foto: Hugo Rodrigues | Sul Informação

 

Paulo Sousa, cirurgião que é, também, diretor clínico do Hospital de Gambelas do grupo Hospital Particular do Algarve, foi um dos médicos que frequentou este curso.

E porquê?

«Nós, cirurgiões, temos de estar preparados para enfrentar situações que são menos frequentes, porque é isso que, na realidade, salva a vida dos pacientes», disse.

«Na cirurgia, acontece um pouco aquilo que acontece na aviação, com os pilotos. Nós temos de treinar muitas vezes para não deixar cair o avião (risos). E este curso é um pouco isso: ensinam-nos a estar preparados para lidar com o inesperado», exemplificou.

Paulo Sousa salientou que «em todos os hospitais há pacientes com situações que são mais frequentes, mas volta e meia surgem casos muito poucos comuns e temos de estar preparados para isso. Quanto mais treinamos, quanto mais nos preparamos para lidar com elas, melhor será o resultado».

«No HPA fazemos muita cirurgia de emergência. Só nas Gambelas, devemos fazer umas 600 cirurgias de emergência por ano. No grupo todo, devemos estar a falar de cerca de 1500 operações por ano. Estamos a Falar de Alvor, Gambelas e Madeira», revelou o diretor clínico do Hospital de Gambelas.

Tendo em conta que as cirurgias de emergência mais frequentes são «a apendicite ou as cirurgias da vesícula ou do intestino que complicam»,  a abordagem técnico-científica do curso inclui a sépsis abdominal, obstrução intestinal, isquemia mesentérica, pancreatite e colecistite aguda, entre outras complicações.

«Como estamos a trabalhar com cirurgiões experimentados, as palestras não são aquelas clássicas, em que alguém fala e ninguém pode colocar questões. Aqui é diferente. Estamos a falar e qualquer pessoa na sala pode interromper para fazer uma pergunta», contou Jonathan Tilsen.

No momento em que o Sul Informação falou com os responsáveis pela formação, estavam a decorrer várias sessões paralelas, «com pequenos grupos a discutir casos clínicos desafiantes com um corpo docente muito experimentado».

«Foi o primeiro curso aqui no Algarve, mas a larga maioria dos participantes não é de cá. O que esperamos é que, no futuro, seja possível fazer novamente um curso aqui em Faro, mas essencialmente dirigido a cirurgiões que trabalham aqui na região, em Faro ou Portimão», desejou Carlos Mesquita.

«O Algarve tem, neste momento, condições fantásticas para acolher este tipo de cursos. No HPA temos feito um esforço para conseguir trazer este tipo de eventos para o Algarve, porque este colegas que dão cursos em todo o mundo, normalmente, não viriam cá», acredita, por seu lado,  Paulo Sousa.

«Temos a sorte de ter esta relação de proximidade com alguns centros de simulação, que nos ajudam a trazer este tipo de pessoas cá ao Algarve e colocar a região na rota dos grandes cursos europeus e das grandes formações», concluiu.

 

 

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