O Governo criou um grupo de trabalho para definir, até 31 de Dezembro, a capacidade de carga humana e determinar as condições de acesso e visita à Gruta de Benagil, no litoral de Lagoa. O grupo vai ainda «avaliar a possibilidade de criar uma taxa única de acesso», ou seja, um pagamento.
O grupo de trabalho, que é coordenado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve, é composto por vinte entidades, entre as quais sete Secretarias de Estado, a Câmara de Lagoa, o Turismo de Portugal e a Região de Turismo do Algarve, entre outras.
O acesso a esta gruta natural, sobretudo durante o Verão, é um verdadeiro caos. Como se pode ver no vídeo que publicamos neste artigo (ver abaixo), há barcos de todos os tamanhos e tipos a entrar no imenso algar, mas também motos de água, canoas, caiaques, pessoas em padel ou em colchões insufláveis, banhistas a nado, até crianças com braçadeiras, criando situações em que «só nunca houve uma catástrofe por milagre», como disse ao Sul Informação o presidente da Câmara de Lagoa.
Há embarcações, marítimo-turísticas ou privadas, que vêm da vizinha praia de Benagil ou de Carvoeiro, mas também de zonas mais distantes, como Ferragudo, Portimão, Lagos, Albufeira ou mesmo Faro. Os barcos chegam a fazer fila, às dezenas, à entrada do frágil algar.
A gruta de Benagil – que localmente é conhecida como Algar do Zé Rodeira – já foi considerada como uma das mais bonitas de todo o mundo, aparece em todos os guias turísticos, consta em cartazes e vídeos de promoção… mas sempre como se fosse um local paradisíaco, sem ninguém. Ora, a realidade é bem diferente e há anos que se fala da necessidade de regular o acesso àquela zona sensível do litoral
Por isso mesmo, o autarca Luís Encarnação, nas suas declarações ao Sul Informação, manifestou-se muito contente com o despacho hoje publicado em Diário da República, criando o Grupo de Trabalho.
«Ainda recentemente, na tomada de posse do presidente da RTA, insisti junto do ministro do Ambiente na necessidade de criar regras não só para a gruta de Benagil, mas para toda aquela faixa de costa desde a praia da Marinha à de Benagil. Temos de colocar tudo no mesmo prato da balança, porque os problemas são os mesmos».
Só que, para já, apenas avança o estudo do acesso à gruta de Benagil. José Apolinário, presidente da CCDR Algarve, entidade que vai dirigir o grupo de trabalho, defendeu, em declarações ao nosso jornal, que, «quando se quer fazer tudo, não se faz nada».
«Toda a gente percebe que tem de haver medidas regulatórias e que tem de se diminuir a carga naquele local. Há compromissos a que temos de chegar, sopesando o facto de ser um dos pontos mais belos e mais visitados do mundo e o facto de ser preciso garantir a segurança e a preservação ambiental» daquela gruta, acrescentou.
Apolinário defendeu que, para já, é preciso dar «pequenos passos», numa questão que envolve inúmeras entidades – pelo menos as vinte que integram o grupo de trabalho. Na opinião do presidente da CCDR Algarve, é preciso «ter sobretudo compromissos e autorregulação».
Lembrando que, em Portugal, já há medidas semelhantes impostas noutra joia do litoral, as ilhas Berlengas, Apolinário salientou ainda que o grupo de trabalho irá «tentar construir uma proposta, porventura faseada, mas com medidas concretas, que garantam a preservação ambiental e a segurança».
O presidente da Câmara de Lagoa disse que a criação do grupo de trabalho para estudar apenas o caso da gruta de Benagil não o deixou «totalmente satisfeito, mas é um princípio, é o pontapé de saída para se começar a olhar para esta questão».
«Nós temos consciência do caos em que se tornou a praia da Marinha e Benagil, sujeitas a grande pressão. Não são só os barcos que vêm por mar, são as dezenas de caiaques, canoas, pranchas de padle que saem da praia, com vendas agressivas», sublinhou Luís Encarnação.
«O Município, sozinho, não tem competências para resolver estes graves problemas. Mas não temos baixado os braços e este despacho do senhor ministro do Ambiente resulta da nossa solicitação e insistência».
Para o autarca lagoense, não há dúvidas de que «a gruta de Benagil e toda esta zona de costa não têm capacidade para receber todos quantos as querem visitar. É preciso fazer um ordenamento, definir capacidade de carga, criar regras».
A Câmara de Lagoa, que faz parte do grupo de trabalho, manifesta-se, por isso, muito interessada em dar o seu «contributo».
«A nossa preocupação é que estamos a matar a galinha dos ovos de ouro. A praia da Marinha e a gruta de Benagil são ícones não só do Algarve, como do país», frisou Luís Encarnação.
«O problema é que estas zonas estão transformadas no oposto daquilo que a publicidade turística mostra: em vez de serem um paraíso, são o verdadeiro caos».
O grupo de trabalho, além das vinte entidades que o compõem, de acordo com o despacho conjunto, pode ainda «convidar outras entidades cujo contributo seja considerado relevante».
O prazo para apresentação das «conclusões e da sua proposta» termina a 31 de Dezembro próximo.
Objetivos do Grupo de Trabalho:
a) Fixar a capacidade de carga humana para efeitos de acesso às Grutas de Benagil, considerando a sensibilidade e estabilidade das mesmas e as condicionantes de segurança a garantir às pessoas e bens;
b) Definir as formas e condições de acesso às Grutas de Benagil;
c) Definir o tipo de embarcações autorizadas a aceder às Grutas de Benagil, bem como a forma de proceder nesse acesso, nomeadamente, comprimento, boca, calado, lotação máxima, tipo e atividade, velocidade e outros procedimentos a realizar pelas embarcações;
d) Definir os mecanismos de controlo de acesso às Grutas de Benagil;
e) Avaliar, propor e desenvolver medidas de reforço de segurança no acesso às Grutas de Benagil;
f) Avaliar, propor e desenvolver mecanismos de fiscalização e controlo do cumprimento do limite da capacidade de carga humana fixado;
g) Avaliar a possibilidade de criar uma taxa única de acesso às Grutas de Benagil.
Quem integra o Grupo de Trabalho?
a) um representante do Gabinete do Secretário de Estado da Defesa Nacional;
b) um representante do Gabinete do Secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços;
c) um representante do Gabinete do Secretário de Estado do Mar;
d) um representante do Gabinete do Secretário de Estado do Ambiente;
e) um representante do Gabinete do Secretário de Estado da Conservação da Natureza e Florestas;
f) um representante do Gabinete do Secretário de Estado da Administração Local e Ordenamento do Território;
g) um representante do Gabinete da Secretária de Estado das Pescas;
h) um representante da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve;
i) um representante da Comunidade Intermunicipal do Algarve;
j) um representando da Câmara Municipal de Lagoa;
k) um representante do Turismo de Portugal, I. P.;
l) um representante da Região de Turismo do Algarve;
m) um representante da Direção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (Pescas e Sustentabilidade);
n) um representante da Autoridade Marítima Nacional;
o) um representante do Instituto Português do Mar e da Atmosfera;
p) um representante do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I. P.;
q) um representante da Agência Portuguesa do Ambiente, I. P.;
r) um representante da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos;
s) um representante da Associação de Empresas de Animação Turística do Algarve – Algarve Anima;
t) um representante da Docapesca – Portos e Lotas, S. A.
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