Nova cobertura do aeroporto de Faro será construída sem que a aerogare encerre

Empresa de Leiria é especialista em soluções para problemas complexos

A empresa Blocotelha, de Leiria, está a construir a nova cobertura do aeroporto de Faro e irá montar esta estrutura com 370 toneladas de peças metálicas sem obrigar ao encerramento da aerogare.

A obra, que está a ser desenvolvida em consórcio com a Casais, prevê a montagem de uma cobertura que será produzida no polo industrial da construtora, em Porto de Mós, Leiria.

«Projetos como aquele que estamos a fazer em Faro são de complexidade elevada do ponto de vista técnico, mas do ponto de vista de organização também são muito exigentes. Conhecemos a atividade do Algarve e vamos passar 24 meses – prazo da obra -, a trabalhar no período noturno e diurno com a aerogare em funcionamento, o que nos oferece muitos desafios», adiantou à Lusa o diretor comercial da Blocotelha, Erico Ferraria.

Este responsável garantiu que o desenvolvimento deste projeto é possível, tendo em conta as «capacidades que a empresa foi desenvolvendo e adquirindo ao longo dos anos», criando soluções como «o skinzip [um sistema construtivo moderno, adaptável a qualquer projeto], uma solução muito específica, com opções técnicas usadas nas grandes infraestruturas, onde a manutenção e a ambição arquitetónica são bem patentes».

Segundo Erico Ferraria, as soluções criadas são um misto de «construção metálica» e «de soluções dos perfis autoportantes com formas côncavas e convexas, a fechar com um sistema skinzip», o que «permitiu ao dono da obra manter a arquitetura que tinha».

A Blocotelha tem estado envolvida nas intervenções de grandes aeroportos, tais como Orly (França), Aeroporto Internacional de Ivato (Madagáscar), Aeroporto do Porto, Aeroporto de Beja, Terminal Norte e Terminal de Carga do Aeroporto de Lisboa.

«Nos Estados Unidos, também já fomos solicitados para fazer dois aeroportos com aquela solução. Investimos nesta solução [skinzip] para complementar e dar seguimento ao sistema autoportante», uma inovação com que a Blocotelha se distinguiu no seu início.

«Ao longo dos anos, esse sistema permitiu-nos posicionar, crescer e abrir um leque de oportunidades, uma vez que permite responder a um conjunto de formas arquitetónicas e de soluções arrojadas, que nos obrigou a andar junto de projetistas e a crescer não como um construtor direto puro metálico, mas como um empreiteiro metálico», sublinhou Erico Ferraria.

A empresa está a desenvolver uma obra de renovação no centro de Paris, «que é transformar um edifício emblemático numa zona de escritórios e lazer».

«Estamos numa fase onde as questões ambientais, a sustentabilidade e a economia circular são cada vez mais exigências patentes, nossas também, mas essencialmente externas», destacou o diretor comercial.

Nesse sentido, a empresa tem uma preocupação com a reciclagem e energia verde.

«No final de vida, 95% do nosso material (‘skinzip’) pode ser reciclado e o objetivo é, daqui a dez anos, trabalhar com 95% de energia verde», revelou.

Ao longo de todo o processo há um rastreio qualitativo de todo o material, que tem um código com a composição e origem do produto, que o cliente pode verificar que coincide com o que foi pedido.

Em 2022, a Blocotelha contribuiu com 85 milhões para a faturação total de 250 milhões de euros do grupo (Mekkin), no qual está inserida. Os seus principais mercados são o ibérico Portugal-Espanha, e o centro da Europa, nomeadamente França, Bélgica, Inglaterra.

«Estamos no norte de África, ainda com uma presença em Marrocos e na Argélia. Depois fazemos aquilo a que chamamos projetos spot. Concorremos a obras, como já fizemos no Gabão, no Gana, em Madagáscar, no Brasil ou na Colômbia, em que nos juntamos ao empreiteiro, estudamos a logística, criamos as condições de meios humanos e logísticos para podermos executar durante um determinado período um projeto num determinado quadrante. A base de toda esta parte é a capacidade de engenharia da empresa», assumiu Erico Ferraria.

Isto porque a Blocotelha dá «todo o apoio de fabrico».

«Na qualidade de empreiteiro, fazemos essencialmente gestão de empreitadas. Ou seja, não nos limitamos a fazer um projeto, a desenvolvê-lo e a fabricá-lo: tratamos da logística local e de envios e tratamos de toda a gestão em obra», explicou.

Erico Ferraria disse que dada a sua «dimensão e especificidade», a Blocotelha escolhe os projetos em que quer entrar. «É uma empresa que procura a complexidade. Dificilmente participamos em projetos simples».

A Blocotelha foi solicitada para um projeto de grande dimensão, numas ilhas do Pacífico. A certificação que a empresa possui permite entrar em determinados mercados. «Em França, estamos em fase de construção da maior central de transformação em Paris, acabámos a unidade quatro do aeroporto. As duas empreitadas juntas talvez sejam maior do que qualquer empreitada em Portugal».

A empresa está ainda no ITER (International Thermonuclear Experimental Reactor), um projeto internacional que envolve cerca de 50 países, «que estão a tentar criar um processo de energia alternativo ao atómico».

«É um contrato megalómano. Estamos no CERN, um projeto também de interesse tecnológico importante. Mais de 70% da nossa faturação é internacional, mas queremos continuar em Portugal a fazer bons projetos», referiu.

Erico Ferraria disse que a Europa está com uma «clara tendência para a reindustrialização». «As gigafactories, que estão a acontecer numa tentativa clara de não ficarmos tão dependentes de terceiros, como o gás, dão-nos aqui uma visão clara de boas oportunidades».

Empregando mais de 500 pessoas, a Blocotelha quer continuar a crescer «no mínimo 10%» ao ano.

A Alemanha é um dos mercados onde a Blocotelha quer marcar presença. «A estratégia passa também por termos uma atuação de projetos ‘spot’ fora da Europa e um mercado essencial na Europa», sublinhou.

 

 

 



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