Cineclube de Faro leva ciclo “Libertar a Memória” à Fortaleza de Sagres

Uma vez por mês, sempre aos sábados, às 17h30, durante os meses de Junho a Setembro, perfazendo quatro sessões, com entrada livre

Debaixo do Tapete

O Cineclube de Faro leva este ano à Fortaleza de Sagres o ciclo de cinema Libertar a Memória, com coordenação artística de Luísa Baptista, integrado no programa DiVaM – Dinamização e Valorização de Monumentos 2023, com o apoio da Direção Regional de Cultura do Algarve.

O ciclo Libertar a Memória decorre uma vez por mês, sempre aos sábados, pelas 17h30, durante os meses de Junho a Setembro, perfazendo quatro sessões, com entrada livre.

«Através de escolhas acuradas de filmes e/ou documentários, vamos abordar o tema Patrimónios (des)confortáveis do DiVaM 2023. Decidimos que a melhor maneira de o fazer seria de forma plural e integrada, abrindo essas escolhas a um grupo de curadores convidados que, embora com percursos pessoais e profissionais diversos, têm em comum a proveniência direta ou familiar de territórios afetados pela colonização e estão ligados entre si pelo estudo, pensamento, cultura e Acão em temas de memória e pós-colonialismo e suas consequências ainda presentes», explica a organização.

O cinema assume-se aqui como «um instrumento e linguagem transformadora, de educação e conhecimento daquilo que é a necessária releitura da História e da realidade convencionada por uma ideologia eurocêntrica pré-estabelecida, assumindo aqui o seu lado menos luminoso, tenso e por vezes conflituoso», acrescenta.

«Olhando os acontecimentos atuais, parece que talvez a História não esteja assim tão bem contada», diz ainda a organização.

Assim haverá os contributos de Gisela Casimiro, Luca Argel, Suzano Costa e Kitty Furtado que, em cada mês, «serão responsáveis pelo conteúdo a exibir e participam através de uma forma indireta (será uma surpresa) em cada uma das sessões».

Recorrendo a diversas propostas cinematográficas que abordam temas como (des)colonização, escravatura, segregação social, lugares e identidades, formas de organização, dicotomias sociais e culturais, heranças de pós-memórias, «abrimos através deste meio, espaço para uma pluralidade de perspetivas e visões alternadas de questões fragmentárias da sociedade tão necessárias como estas que circundam o tema de Patrimónios (des)confortáveis».

Para completar as exibições, haverá também uma curadoria literária da responsabilidade de Marta Lança e do projeto Buala – livros escolhidos para enquadrar, desafiar e abrir novos caminhos e consciência para estes temas e que poderão ser adquiridos em cada sessão.

Libertar a Memória conta com Buala e a livraria A Internacional (de Lagos) como parceiros e com o apoio da Multicópias – Centro de Soluções Gráficas.

A programação detalhada do ciclo de cinema Libertar a Memória poderá ser consultada aqui.

 

 

QUEM É QUEM

 

GISELA CASIMIRO é escritora, artista, performer e ativista. É autora de «Erosão», «Giz», «Estendais», e do texto e dramaturgia de «Casa com Árvores Dentro».

Publicou em várias revistas e antologias, como «Reconstituição Portuguesa», premiada em Cannes.

Foi cronista do Hoje Macau, Buala, e Setenta e Quatro. Atuou em espetáculos de Ana Borralho & João Galante, Romeo Castellucci, Raquel André e Cristina Carvalhal.

Participou de exposições nas Galerias Municipais do Porto e Lisboa. Integra a Coleção António Cachola. Co-coordena o Clube de Leitura do Batalha. É membro da UNA – União Negra das Artes.

 

CATARINA DEMONY nasceu em Lisboa em 1992, mas foi na vila algarvia de São Brás de Alportel que cresceu.

Com 16 anos, foi viver para os Estados Unidos e depois para Londres, onde se licenciou em Jornalismo na universidade de Kingston, e estudou também na Austrália.

Trabalhou em Comunicação em várias ONG, lançou um projeto para contar as histórias dos falantes de língua portuguesa na capital britânica, editou uma plataforma para jovens jornalistas e, mais tarde, tirou um mestrado em Conflito Global na Escócia.

Começou por trabalhar em Jornalismo local no Reino Unido, até se tornar correspondente da agência internacional Reuters em Lisboa, onde leva o que se passa em Portugal ao mundo e faz cobertura de diversos assuntos, desde a economia à política.

É a produtora executiva do Debaixo do Tapete, um documentário sobre o envolvimento dos seus antepassados no tráfico de pessoas escravizadas no Atlântico e as consequências desse passado nos dias de hoje.

Há mais de uma década, a jornalista portuguesa Catarina Demony descobriu que a sua família tinha um passado escondido. Os seus antepassados, os Matoso de Andrade e Câmara, foram dos maiores comerciantes de pessoas escravizadas em Angola entre o século XVIII e XIX.

Nessa altura, deparou-se com uma história familiar conflituosa e, desde aí, decidiu que precisava de a contar. Com o tempo e a idade, começou também a perceber a ligação direta entre o envolvimento dos seus antepassados no tráfico transatlântico e o que estava a acontecer à sua volta: o racismo estrutural, a violência, a segregação.

Este documentário fala sobre uma histórica longe de ser única em Portugal: uma família que fez dinheiro à custa de seres humanos, que foram retirados das suas terras à força e despidos da sua dignidade. Dinheiro esse que, indiretamente, deu à Catarina e a tantos outros os privilégios de que hoje usufruem.

Juntamente com o realizador Carlos Costa, o documentário não conta só a história da família de Catarina mas também fala sobre as consequências da escravatura – e do passado colonial mais recente – no Portugal de hoje.

Ambos querem explicar o porquê do tema continuar a ser um “tabu” na sociedade portuguesa e o porquê de, hoje mais do que nunca, ser importante retirar o assunto “debaixo do tapete”.

 

BÁRBARA OLIVEIRA nasceu no Porto em 1991 e espera tornar-se uma contadora de histórias.

Licenciou-se em 2014 no curso de Design e Animação Multimédia na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre. Durante a licenciatura, realizou uma curta chamada “Kilamba” que recebeu uma menção honrosa no festival “Cinanima”.

Trabalhou como diretora artística e criadora de cenários na curtametragem “Estilhaços”, realizada por José Miguel Ribeiro. Finalizou a sua curta-metragem de fim de curso, co-realizada com João Rodrigues, chamada “Lugar em Parte Nenhuma”.

 

 

JOÃO RODRIGUESnasceu em Lisboa em 1993. Licenciou-se em Design de Animação e Multimédia na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Portalegre.

Estagiou na produtora de animação Praça Filmes, onde fez estudos gráficos e storyboard para o projeto Nayola, realizado por José Miguel Ribeiro. Foi animador para o filme 20 Desenhos e um Abraço e Estilhaços, também realizados por José Miguel Ribeiro.

Co-realizou o filme Lugar em Parte Nenhuma com Bárbara Oliveira, sendo este o seu filme de final de curso.

 

 

MARTA LANÇA (Lisboa, 1976). Formada em Literatura Portuguesa e doutoranda em Estudos Artísticos, tem investigado sobre questões pós coloniais, disputas de memória e produção de conhecimento em plataformas colaborativas.

É trabalhadora independente nas áreas da cultura e jornalismo, fazendo regularmente projetos em Cabo Verde, Angola, Moçambique, Guiné e Brasil.

Criou e edita, desde 2010, o portal BUALA, transdisciplinar e colaborativo que deve o seu nome à palavra de origem quimbundo e lingala no sentido de bairro, periferia.

Valorizando a ideia de comunidade, atuando nos domínios do pensamento, arte e memória, de modo transversal e problematizante, acompanha o debate pós-colonial e as diversas vozes críticas que o têm construído, nos domínios da história, ciências sociais em geral, literatura, cinema, arte e jornalismo.

 

O CINECLUBE DE FARO, fundado a 6 de Abril de 1956, é uma associação cultural sem fins lucrativos, com estatuto de Utilidade Pública, destinada a divulgar o cinema e utilizá-lo como instrumento de formação e cultura, isto é, estudar, promover e fomentar todos os aspetos relacionados com o cinema, nomeadamente técnicos, históricos, culturais, artísticos e políticos.

Ao longo dos seus 67 anos de existência ininterrupta, os princípios orientadores da sua atividade têm sido a divulgação do cinema de uma forma crítica; o estímulo do interesse por outras artes relacionadas com o cinema; a promoção de ações comuns com entidades e associações culturais; a promoção do cineclubismo e a defesa ativa da liberdade de expressão e de associação.

A sua atividade centra-se na exibição e divulgação cinematográfica em Faro e por todo o Algarve, com um papel relevante na formação de públicos para cinema.

Mas também passa pela edição de catálogos; realização de filmes-concerto, conferências, debates/encontros com profissionais do cinema nacionais e internacionais e espetáculos musicais tendo como pano de fundo o Cinema.

 

LUÍSA BAPTISTA é natural de Odeceixe, formada em Ciências da Comunicação, pela Universidade do Algarve e com pós-graduação em Gestão Cultural no INDEG/ISCTE, Lisboa.

Aqui desenvolveu grande parte do seu percurso profissional como programadora e produtora de vários projetos dos quais se destacam: assistente de produção nas galerias Luís Serpa Projetos e Baginski, diretora criativa de Noites de Porcelana – ciclo de cinema. Produtora executiva na sede da LxFactory – Centro de Indústrias Criativas.

No Algarve, onde reside, foi produtora executiva das Artes Plásticas da Faro, Capital Nacional da Cultura 2005. Na Rizoma Lab – Associação Cultural, organizou projetos, apoiados: concertos multimédia e a mostra “Um Mar de Filmes”.

Concluiu em 2021 a formação em Programação e Exibição de Cinema, organizada pelo Centro de Estudos Comparatistas da Faculdade de Letras da Univ.ersidade de Lisboa, em parceria com o ICA – Instituto do Cinema e do Audiovisual, e em 2022 a formação Acesso à Participação Cultural: uma visão integrada, online – por Maria Vlachou (Acesso Cultura), organizada pela Fundação Bienal Arte de Cerveira.

 

Lugar em Parte Nenhuma

 

SESSÕES LIBERTAR A MEMÓRIA

SÁBADOS || 17h30
Entrada livre com pré-reserva: [email protected]

24 DE JUNHO
Curadoria: Gisela Casimiro
Lugar em Parte Nenhuma (2016) – Portugal, ANI, DOC, 7min Bárbara de Oliveira e João Rodrigues + Debaixo do Tapete (2023) – Portugal, DOC, 48min Catarina Demony & Carlos A. Costa

22 DE JULHO
Curadoria: Luca Argel
Babás (2010) – Brasil, DOC, 20min Consuelo Lins + A que horas ela volta? (2015) – Brasil, Drama, 1h47min Anna Muylaert

26 DE AGOSTO
(referente a 23 de Agosto – Dia Internacional da Lembrança do Tráfico Negreiro e da sua Abolição)
Curadoria: Suzano Costa
I Am Not Your Negro – Eu Não Sou o Teu Negro (2016), França, EUA, DOC, 1h33min Raoul Peck

23 DE SETEMBRO
Curadoria: Kitty Furtado
Eu não sou Pilatus (2019) – Portugal, DOC, 11min Welket Búnguè + Monumento Catástrofe (2022) – Portugal, DOC, 69min Coletivo Left Hand Rotation & Cósmica

Em todas as sessões
CURADORIA LITERÁRIA: Marta Lança com BUALA

 



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