Filipe Duarte Santos: Algarve deve usar águas residuais urbanas para combater seca

Especialist colaborou na elaboração do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas, apresentado em 2019

E se, para combater o problema da seca, o Algarve passasse a reutilizar as águas residuais urbanas? Filipe Duarte Santos, um dos principais especialistas portuguesas em alterações climáticas, não tem dúvida de que, se o fizer, a região viverá «muito mais descansada nas próximas secas». Basta, para isso, ultrapassar «um certo conservadorismo». 

O desafio foi deixado esta quarta-feira, dia 7 de Dezembro, à margem da conferência “ODSlocal’22“Caminhos, Dinâmicas, Futuros” que se realizou em Almancil, onde Filipe Duarte Santos participou enquanto presidente do Conselho Nacional de Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS), entidade que colabora na coordenação do projeto “ODSlocal”.

O especialista conhece bem a realidade do Algarve, uma vez que colaborou na elaboração do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas, apresentado em 2019.

Questionado pelos jornalistas sobre se a região já conseguiu passar da teoria à prática, o especialista garantiu que nota uma «grande disponibilidade da parte dos municípios para as questões do ambiente, do desenvolvimento sustentável e, em particular, para as questões da ação climática».

Só que, disse também, tem «faltado reutilizar as águas residuais urbanas».

 

 

«Aí, de facto, tem havido atraso. Alguns municípios têm tido essa iniciativa, o que lhes permite, por exemplo, regar campos de golfe ou utilizar para lavar as ruas das cidades. No entanto, do ponto de vista da administração central, ou seja, do Governo, tem havido um certo atraso neste domínio», lamentou Filipe Duarte Santos.

Para o professor, especialista em alterações climáticas, este tipo «de aplicação da economia circular» passa por «tratar as águas residuais urbanas de modo a que elas possam ser utilizadas para regar campos de golfe, para lavagem de ruas, irrigação em geral» ou, em certas circunstâncias, «com um tratamento muito mais exigente, para consumo humano».

«Eu próprio, já bebi uma cerveja feita com água dessa», gracejou Filipe Duarte Santos que deu o exemplo espanhol.

«Em Portugal, estas APR (Águas para Reutilização) correspondem a apenas 1 ou 2%, enquanto aqui ao lado, em Espanha, são 10%. E Espanha tem regiões onde chove menos do que em Portugal», exemplificou.

Então, o que falta para que se avance?

Para Filipe Duarte Santos, as «entidades têm receio» que a utilização destas águas «não seja agradável para os utentes».

«As entidades pensam: “será mesmo preciso? Então agora vamos andar a regar alfaces com água que passou pelas nossas sanitas? Não precisamos disso: isso é disruptivo, é uma coisa que não é boa. Não precisamos disso em Portugal – temos água que chegue”».

Só que, para o especialista, «é preciso ultrapassar estas dificuldades», bem como «um certo conservadorismo» porque «o mundo está a mudar».

Filipe Duarte não tem dúvidas «nenhumas» de que, além da dessalinização, esta é uma das soluções para atenuar o problema da falta de água do Algarve.

«Isto é economia circular! Trata-se de a a aplicar às águas e viveremos muito mais descansados nas próximas secas», considerou.

 

Ana Abrunhosa

 

De resto, a questão do combate às alterações climáticas – que é um dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável – também foi abordada pela ministra da Coesão Territorial que participou na conferência “ODSlocal’22“Caminhos, Dinâmicas, Futuros”, em Almancil.

As mudança do clima, defendeu, «é uma urgência», mas que nem sempre consegue ser combatida.

«Temos problemas, problemas que estão a ser resolvidos, mas contra fenómenos em que, em minutos, chove o que às vezes chove em meses… São catástrofes», disse.

Ana Abrunhosa reconheceu, ainda assim, que é necessário «fazer investimentos e planear o territórrio para que essas ocorrrências vão diminuindo e para que os territórios sejam mais resilientes».

«Há uma urgência de replanificação das cidades – é por isso que é tão importante também tornar os territórios mais bem preparados, mas isso não é algo que consigamos fazer de um momento para o outro. É também por isso que é importante a participação daqueles que, no dia a dia, trabalham com as populações: as autarquias», concluiu.

 

 



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