A destruição das Alagoas Brancas

Se os políticos falham, que sejam os cidadãos a movimentar-se e a forçar uma política justa que nos escapa

A Região tem assistido impotente à destruição das Alagoas Brancas, o que resta de uma importante zona húmida do concelho de Lagoa e da qual, conforme reza a História regional, se originou o próprio nome daquela cidade algarvia.

O Sul Informação tem dado conta do caso e é mais um exemplo da triste sina dos charcos temporários, como já ocorre há anos com os charcos temporários do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina (Parque Natural? – não insultem mais os parques naturais…).

Existe farta bibliografia sobre estas ocorrências, pelo que não cabe aqui dar novidades sobre os charcos temporários, tão característicos da bacia do Mediterrâneo, apenas reforçar que são habitats da maior importância no contexto da biodiversidade – tão ameaçada que está em todo o mundo e particularmente nesta região a que nos liga a nossa condição mediterrânica.

Sendo zonas que alternam anualmente um período de inundação e outro de seca, possuem uma flora e uma fauna adaptadas a estas condições, por isso são em regra constituídas por espécies vulneráveis e algumas mesmo ameaçadas.

Na fauna, entre répteis, anfíbios e aves, incluem-se espécies notáveis como seja um cágado, alguns insectos vulneráveis como as libélulas e, entre as aves, o íbis negro.

A história dessa zona húmida revela como os poderes locais e regionais, no seguimento da incompetência nacional, têm sido inaptos ou, mais explicitamente, culpados por este crime ambiental, numa época em que tanto ouvimos retóricas oficiais sobre os grandes êxitos da política ambiental.

Revela-se também aqui a falta de educação ambiental, tão descurada no nosso País ao longo do tempo, que nos faz encontrar hoje políticos e decisores, se não negacionistas, pelo menos pouco receptivos para a situação ambiental portuguesa e mundial.

Está à vista por todo o país o caos das próprias Áreas Protegidas e a sua falta de organização eficiente, embora, para os responsáveis, nunca tenham estado melhor.

Não é por falta de competência e dedicação de muitos técnicos que dão o seu melhor à causa da Conservação da Natureza (CN) – é por falta de directrizes superiores e pelo abandono generalizado dessa politica num Ministério do Ambiente desfigurado no seu papel de promotor da Qualidade de Vida, onde com a CN, a par do Ordenamento do Território, foi possível, quando “antes tudo estava mal”, criar a legislação fundamental de defesa e de construção do Ambiente e que aguentou décadas até os agora iluminados acederem ao Poder.

Para o descalabro das Alagoas Brancas contribui, pois, a já antiga falta de estratégia conservacionista da Autarquia, mas também a ausência de superior vigilância e promoção de legislação que compete aos órgãos regionais que são o ICN(F) e a CCDR.

Se os políticos falham, que sejam os cidadãos a movimentar-se e a forçar uma política justa que nos escapa; não podemos deixar de ser profundamente críticos e acabaremos por concluir que custa a aceitar, mas é o país que temos…

 

Autor: Fernando Santos Pessoa é arquiteto paisagista e engenheiro silvicultor. Foi fundador do Serviço Nacional de Parques… e escreve com a ortografia que aprendeu na escola

 

 

 



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