Sem medidas para acabar com «roubos», produtores de alfarroba podem cortar EN125

Agricultores quiseram demonstrar o seu descontentamento pela ausência de medidas

Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

Estão «fartos de ser roubados», querem que o Ministério da Agricultura avance com uma lei e, se nada for feito, não descartam cortar o trânsito na EN125 durante o Verão. Centenas de produtores de alfarroba manifestaram-se na tarde desta sexta-feira, 29 de Julho, em frente à Câmara de Loulé, e exigem respostas por parte do Governo. 

Os agricultores quiseram demonstrar o seu descontentamento pela ausência de medidas que os protejam e mitiguem o reconhecido flagelo do furto de alfarroba na região.

Em declarações ao Sul Informação, Horácio Piedade, presidente da Agrupa – Agrupamento de Produtores de Amêndoa e Alfarroba, explicou que o grande objetivo da manifestação foi «sensibilizar a senhora ministra [Maria do Céu Albuquerque] para um decreto-lei que tem na sua gaveta há um ano».

O documento de que fala Horácio Piedade é uma proposta de lei que resultou de um grupo de trabalho, criado pela Direção Regional de Agricultura e Pescas, que juntou a Agrupa, a AIDA (Associação Interprofissional para o Desenvolvimento da Produção e Valorização da Alfarroba), a ASAE, a Autoridade Tributária, a GNR e a AMAL.

 

Desse grupo, saiu uma proposta que passava pela associação de um título de posse ao ato de venda: ou seja que, quando se vende alfarroba, passe a ser necessário provar que se é o proprietário legítimo desse fruto.

Macário Correia, antigo presidente das Câmaras de Faro e Tavira (PSD) e ex-secretário de Estado do Ambiente, atual agricultor, foi um dos rostos que marcou presença na manifestação de hoje.

No seu discurso, apontou críticas ao facto de esse documento não ter ainda saído do papel.

«Há mais de um ano que há um documento interessante que obriga o titular das alfarrobas a associar a venda e a fatura à identificação de que é proprietário de alfarrobas. Todos temos caderneta predial, documento da Conservatória e o parcelário com as culturas, mas, quem vende alfarrobas roubadas, não tem nada disso, nem apresenta nada», considerou.

José Cebola Teresa sabe bem o que é ser «roubado».

«Todos os anos, sou vítima de roubos e este ano também já fui. Levaram-me umas 10 arrobas (150 quilos), mas, no ano passado, levaram mais de 50 arrobas», contou à reportagem do Sul Informação. 

 

O produtor, que tem terrenos no concelho de Loulé, quer que seja feita «alguma coisa».

«Esta lei ajudava muito porque isto tem de mudar. Eu, todos os dias, passo com o meu carro nas propriedades, mas nem assim. Por isso, vim à manifestação, porque quero ver a questão resolvida», acrescentou, de cartaz na mão.

Para Horácio Piedade, outro dos objetivos deste protesto foi «pedir às autoridades que fiscalizem mais enquanto não há essa documentação».

Questionado sobre o porquê de a lei não sair do papel, o presidente da Agrupa disse que também gostava de saber a razão. O certo é que «há roubos todos os dias: nós estamos aqui e de certeza que, neste momento, algum destes produtores está a ser roubado», ilustrou.

Apesar de não haver uma contabilização, este responsável estima que já tenham sido «roubadas milhares de arrobas de alfarroba».

«Este ano, a venda abriu a 40 euros a arroba e isso também é um incentivo ao roubo», acrescentou.

Já Macário Correia não poupa nas críticas ao Governo. «O Estado cobra-nos impostos, exige-nos papéis, mas o Estado tem também de nos dar algo em troca: os mecanismos que nos protejam enquanto trabalhadores. O que se assiste hoje é que, durante a noite, de lanterna acesa, lá anda uma carrinha com meia dúzia de pessoas à procura de alfarroba: o que é facto é que hoje em dia não há um mecanismo claro que permita controlar os circuitos de comercialização», disse.

 

O antigo autarca também apontou baterias tanto à ministra da Agricultura, como a Pedro Valadas Monteiro, diretor regional de Agricultura e Pescas.

«É muito estranho que, no Terreiro do Paço, haja alguém que não nos ouve nem compreende: estranho é que, no Patacão, esteja alguém que nos virou as costas. Depois de ter feito alguma coisa meritória, de ter criado uma solução, calou-se de uma forma que não é justa. Quem é diretor regional tem de se bater por nós», criticou.

Depois desta manifestação, que contou com a presença de alguns autarcas louletanos tanto do PS, como do PSD, e na qual foi entregue uma carta ao presidente da Câmara Vítor Aleixo para que a leve à ministra da Agricultura, os produtores têm outras ações pensadas, caso nada seja feito.

Uma das ideias passa por cortar a EN125, durante o Verão. «Temos de reunir os sócios, que são cerca de 400, mas isso já foi falado», concluiu Horácio Piedade.

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

 



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