PS de Albufeira: decisão de Ricardo Clemente desilude «muitas pessoas dentro e fora do partido»

«O exercício do serviço público e do apoio aos munícipes deve sobrepor-se à procura dos cargos, das suas vantagens ou de algum estatuto social efémero», diz o PS Albufeira

A decisão de Ricardo Clemente, que foi o cabeça de lista do PS â Câmara de Albufeira, de aceitar um lugar de vereador permanente, com pelouros atribuídos, no executivo municipal, assim garantindo maioria ao social-democrata José Carlos Rolo, é «pessoal» e desilude «muitas pessoas dentro e fora do partido».

Num extenso comunicado, divulgado esta madrugada, Vítor Ferraz, presidente da Concelhia do PS, começa por dizer que «é altura de clarificar determinados equívocos, ventilados de forma a deturpar a sequência real dos factos». O líder dos socialistas albufeirenses refere-se sobretudo às alegações de Ricardo Clemente, feitas em entrevista ao Sul Informação, de que teria sido traído pelo seu partido, que teria até negociado com o PSD nas suas costas.

Ora, a sequência de factos narrada por Vítor Ferraz no comunicado – e confirmada pelo nosso jornal junto de outras fontes – confirma que não foi nada assim.

O comunicado da Concelhia do PS começa por dizer que, após as eleições, que deram a vitória à coligação liderada pelo social-democrata José Carlos Rolo, embora sem maioria, «os vereadores eleitos pelo Partido Socialista, aproveitando o facto de a oposição ser maioritária na vereação, começaram a preparar uma estratégia, centrada nas necessidades prementes do concelho», destinada a obrigar «o executivo a ouvir e negociar, algo que faltou no mandato anterior».

Só que, «nesse mesmo dia, o vereador [eleito pelo PS] Ricardo Clemente comunicou a sua abertura para aceitar pelouros», algo que não foi aceite pelo presidente da Concelhia socialista.

«Nos dois dias seguintes, e havendo rumores de um já existente acordo entre o vereador e o presidente eleito, o presidente da Concelhia procurou verificar junto do próprio a veracidade da informação, tendo obtido essa confirmação».

Vítor Ferraz terá então dito a Ricardo Clemente que «essa opção iria desiludir muitas pessoas dentro e fora do partido, que dificilmente o Partido acompanharia essa opção e o que lhe poderia acontecer caso isso viesse a acontecer, pedindo para melhor refletir».

E foi o próprio Ricardo Clemente que assumiu tratar-se de «uma opção pessoal», acrescentando que «o Partido deveria fazer o que entendesse».

Nos dias seguintes, depois de mais alguns avanços e recuos, em telefonema entre o presidente da Concelhia do PS e o presidente da Câmara eleito, José Carlos Rolo confirmou a «disponibilidade do vereador» para aceitar pelouros e integrar o executivo, embora, nessa altura, nada estivesse «definido quanto a pelouros».

Nesse mesmo telefonema, o presidente da Concelhia foi informado que o PSD «queria apresentar uma proposta de acordo conjunta para os três órgãos, uma vez que não pretendia negociar com os independentes».

No sábado seguinte, continua o comunicado assinado por Vítor Ferraz, «realizou-se uma reunião conjunta entre os cabeças de lista e os presidentes da concelhia e da Federação Distrital» do PS (Luís Graça). Nessa reunião, o vereador Ricardo Clemente «voltou a confirmar a sua disponibilidade para aceitar pelouros», confirmando que não estaria presente na reunião da concelhia, que teve lugar a 5 de Outubro.

Nessa reunião, «ficou assente que iria ser ouvida a proposta do PSD». Isso veio a acontecer no dia 11, numa reunião entre uma comitiva do PSD e a Concelhia do PS.

Os socialistas decidiram, porém, rejeitar a proposta final apresentada pelos social-democratas, considerando que esta «transformava a perda de maioria nos três órgãos pelo PSD, numa posição de maioria absoluta, ficando o Partido Socialista numa posição de subserviência, subvertendo a vontade do voto popular que atribuiu mais votos a toda a oposição».

Vítor Ferraz acrescenta, no comunicado, que «esta posição da Concelhia foi acompanhada pelo presidente da Federação Distrital do PS, que reiterou os princípios gerais quanto a coligações com outras forças políticas».

Perante esta sequência de factos, Vítor Ferraz rejeita as acusações feitas por Ricardo Clemente para justificar a sua decisão de aceitar ser vereador permanente. «Tudo o que se passou a partir desta data, foram opções pessoais dos envolvidos», sublinha.

É que, acrescenta, «o exercício do serviço público e do apoio aos munícipes deve sobrepor-se à procura dos cargos, das suas vantagens ou de algum estatuto social efémero».

O PS albufeirense diz ainda que «o voto de um vereador não permanente vale tanto como o de um vereador permanente», sendo que «a estabilidade de um executivo deve conseguir-se através das suas ações e diálogo com as forças representadas e não dos cargos que oferece em troca de uma qualquer fidelidade ou controlo absoluto».

Apesar de tudo o que se passou, o PS, com o vereador que ainda lhe resta, diz manter «o propósito de exercer uma oposição responsável, influenciando a ação governativa, na apresentação de propostas para os problemas do concelho».

 

 



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