“Festa dos Anos” está a fazer de Álvaro de Campos «um privilégio para Tavira»

Evento realiza-se este ano entre 15 de Outubro e 30 de Novembro com declamação de poemas, teatro, música, exposições e uma estreia mundial de cinema

Foto: Pablo Sabater | Sul Informação

Como o Dom Quixote, de Miguel Cervantes, «leva pessoas do mundo inteiro a visitar a região de La Mancha», ou há quem «vá a Londres procurar referências do Sherlock Holmes», Álvaro de Campos, apesar de ser um heterónimo de Fernando Pessoa ainda pouco conhecido, tem sido «um privilégio para a cidade de Tavira».

Para celebrar o “nascimento” deste heterónimo, a “Festa dos Anos de Álvaro de Campos”, que começa esta sexta-feira, 15 de Outubro, e se  prolonga até 30 de Novembro, em Tavira, contará com um vasto programa de atividades como a declamação de poemas, teatro, música, exposições e uma estreia mundial de cinema.

A ideia de celebrar o aniversário do heterónimo do poeta português Fernando Pessoa «surgiu em 2015 pela mão da Casa Álvaro de Campos, em parceria com associações do concelho», começa por dizer Tela Leão, presidente da associação Partilha Alternativa, em entrevista ao Sul Informação.

A partir daí, Tela Leão resolveu «começar a convidar mais gente e a tentar fazer uma celebração que envolvesse a cidade», porque «acho que pode trazer para Tavira uma ligação com a personagem e, do ponto de vista do turismo cultural, a cidade pode vir a ser um ponto de interesse», realça.

Com o passar do tempo, Álvaro de Campos, que, segundo Fernando Pessoa, «nasceu em Tavira a 15 de Outubro de 1890, estudou Engenharia Naval na Escócia» mas, no entanto, «não exerceu a profissão por não poder suportar viver confinado em escritórios», vem sendo cada vez mais conhecido, Só que, salienta a programadora cultural, «faltam ainda muitíssimos anos para chegarmos ao ponto de se comparar com, a título de exemplo, o Dom Quixote de Miguel Cervantes».

«Comparando com o Dom Quixote ou o Sherlock Holmes, em que as pessoas visitam as regiões e locais das histórias por causa de uma personagem, com Fernando Pessoa a ser cada vez mais conhecido a nível internacional, Álvaro de Campos está a seguir um pouco essa linha, o que acho ser um privilégio para Tavira e para os visitantes», acrescenta.

 

Tela Leão, presidente da associação Partilha Alternativa – Foto: Pablo Sabater | Sul Informação

 

A celebrar mais uma “Festa dos Anos de Álvaro de Campos”, depois de em 2020 ter sido adaptada ao online devido à pandemia, a Partilha Alternativa apresenta, em colaboração com outras associações do concelho, «várias exposições de artes plásticas e artes visuais, declamação de poemas, peças de teatro, música e dança».

A abrir a iniciativa, esta sexta-feira, 15 de Outubro, a Casa Álvaro de Campos irá colocar “A Mesa Posta com mais Copos | Poemus” na Biblioteca Municipal de Tavira, «uma sessão de leitura de poesia, acompanhada ao som do piano, que vai contemplar fragmentos e poemas dispersos de Pedro Jubilot e alguns versos adaptados do heterónimo de Fernando Pessoa».

Ainda neste dia, em que Álvaro de Campos celebraria o seu aniversário, haverá a leitura partilhada de poemas, entre o ator Vítor Correia (Armação do Artista) e todos os presentes na Praça da República, bem como existirá ainda tempo para a observação da lua com Ricardo Freitas, do Clube Ciência Viva de Tavira.

No dia seguinte, 16 de Outubro, a Banda Musical de Tavira fará uma arruada até ao Jardim do Coreto, «construído no ano de nascimento de Álvaro de Campos», havendo assim «uma ligação que tem levado a música a este espaço», diz Tela Leão.

Dos vários eventos integrados na “Festa dos Anos de Álvaro de Campos”, a presidente da associação Partilha Alternativa destaca o projeto “Vídeos Pessoa”, que «envolveu 25 artistas locais e regionais», e que será apresentado no dia 11 de Novembro nos Cinemas NOS do Tavira Gran Plaza.

«Desde 2015, começou a composição de novos temas musicais com poemas de Pessoa, feitos por cidadãos locais, em que escolhemos seis deles. Organizámos a gravação profissional num estúdio em Olhão e depois esses temas foram distribuídos entre cineastas da região para criarem um vídeo inspirado na música», explica Tela Leão.

Ainda no dia 11 de Novembro, será apresentada a estreia de “Concubina Japonesa”, uma coprodução com o Brasil e Espanha, tendo a ideia surgido a partir de um casal de artistas japoneses depois de uma performance de Tela Leão na “Festa dos Anos de Álvaro de Campos” de 2019.

A curta-metragem pega na história «de um embaixador português que foi para o Japão, casou-se com uma gueixa e acabou por ficar lá o resto da vida» e espelha-a no pai de Álvaro de Campos, «que larga a mulher e o filho em Tavira, vai para o Japão e arranja uma concubina japonesa com quem se casa quando a mulher morre em Portugal».

O projeto, que «vem sendo desenvolvido desde 2019», tem por base três monólogos, o pai, a mãe e a concubina japonesa, pois Tela Leão queria «filmar essas personagens a contarem a sua própria história do seu ponto de vista».

 

 

Para além destas iniciativas, «outras coisas interessantes estão também programadas», podendo ser consultadas no site da “Festa dos Anos de Álvaro de Campos”.

Tela Leão recorda também os anos anteriores do evento, antes da pandemia, quando «houve um período em que o Tuk Tuk Tavira participou com um roteiro poético pela cidade» ou quando «fizemos uma parceria com a Fundação Irene Rolo e eles desenvolveram a ideia do arroz doce com a imagem de Fernando Pessoa em canela», e espera que nos próximos anos voltem a «surgir estas ideias criativas».

A “Festa dos Anos de Álvaro de Campos” tem vindo a conquistar «mais participantes do que propriamente público», mas Tela Leão, apesar de «não fazer ideia do que vai acontecer este ano», em termos de adesão ao evento, afirma em tom brincalhão que «pode ser que vá muita gente».

«Quem quiser participar nas diferentes iniciativas, que consulte o site do evento, informe-se como pode fazer as reservas e que aproveite ao máximo a “Festa dos Anos de Álvaro de Campos”», conclui Tela Leão.

 

 



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