Hotéis algarvios que não “morreram” com a pandemia fecham com a “cura”

Novas medidas governamentais contra a propagação da Covid-19 levaram a mais cancelamentos nos hotéis e há quem pondere fechar no Inverno pela primeira vez desde sempre

Foto: Pablo Sabater | Sul Informação

Já seriam, pelo menos, 70% os hotéis do Algarve a fechar portas durante o Inverno, um número bem acima do normal. E, se a Covid-19 já tinha sido muito penalizadora para a hotelaria algarvia, as medidas para a combater, nomeadamente o confinamento nos concelhos com maior taxa de infeção, deitaram por terra qualquer esperança que os empresários ainda pudessem ter de poder manter as portas abertas na época baixa.

Nas últimas semanas, tem-se sucedido o anúncio de medidas mais musculadas para evitar a propagação da Covid-19 em Portugal, numa altura em que o número de novas infeções é mais alto do que nunca, as mortes por esta doença também e há cada vez mais pessoas internadas nos hospitais.

E se estas decisões do Governo parecem ter tido, até agora, pouca influência na estatística da pandemia, já se fazem sentir, e bem, nos hotéis do Algarve.

«Já posso circular dentro do hotel sem máscara. Sabem porquê? Sou  o único!», ironizou João Soares, diretor geral do D. José Beach Hotel, em Quarteira, e representante no Algarve da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP).

Este desabafo, feito num post no perfil pessoal do Facebook do empresário algarvio, ilustra uma realidade aflitiva para um hotel que, em 50 anos, nunca teve de fechar durante o Inverno, mas que agora está «a ponderar fazê-lo».

Afinal, a taxa de ocupação desta unidade hoteleira, no atual mês de Novembro, terá apenas um dígito, quando normalmente é de 87%.

«Nós começámos o mês de Novembro com 30 por cento de ocupação e, neste momento, estamos com 6% de ocupação», revelou João Soares ao Sul Informação.

 

Hotel D. José, em Quarteira – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Esta descida de última hora deveu-se às restrições impostas pelo Governo.

«Nós tínhamos vários grupos e reservas do mercado nacional, mas, neste momento, com sete milhões de portugueses confinados e com restrições nos concelhos onde residem, é impossível que se desloquem», explicou o diretor do D. José.

E, apesar de não haver nenhuma medida que seja dirigida, especificamente, à hotelaria, as restrições já conhecidas «não ajudam nem incentivam as pessoas a deslocar-se ao Algarve».

«Estamos a ponderar fechar o hotel pela primeira vez em 50 anos. O que acontece é que, com estas medidas anunciadas avulso, torna-se completamente impossível planear o futuro», desabafou João Soares.

Segundo o empresário, houve «muitos cancelamentos do mercado internacional, porque os mercados foram sofrendo alterações permanentes, mas tínhamos a esperança e dirigimos todas as nossas energias para o mercado nacional».

Isto levou os hoteleiros algarvios a pôr em cima da mesa «estadias longas, para as pessoas permanecerem no Algarve durante o período de confinamento, com ofertas especiais para empresas e outros incentivos, nomeadamente em relação às festas».

«Mas as medidas anunciadas, algumas das quais tenho dificuldade em entender, acabaram por deitar por terra todo o planeamento que existia para ver se limitávamos os impactos do Inverno aqui no Algarve», considerou.

A tudo isto juntou-se uma decisão local, da Câmara Municipal de Loulé, em cancelar várias provas desportivas, incluindo o Triatlo Internacional de Quarteira.

«Tínhamos a Taça de Triatlo, que aconteceria no final de Novembro, em que programámos todos os nossos recursos humanos e toda a estrutura para receber as pessoas. Eram mais de cem quartos ocupados, por vários dias, e alguns estágios», contou o hoteleiro algarvio.

«Para nós, é difícil compreender que equipas federadas não possam participar numa prova ao ar livre, cumprindo o evento com todas as normas de segurança e higiene exigidas pela Direção Geral de Saúde, cumprindo com o selo Clean & Safe, numa região onde não há muitos casos», afirmou.

Por tudo isto, «vamos entrar num período muito difícil», acredita João Soares.

 

Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Esta é a história de um empresário que apenas detém um hotel. Mas a história repete-se nos grandes grupos hoteleiros.

«Vamos fechar mais unidades. Já é normal fecharmos unidades no período de Inverno, mas este ano vamos encerrar mais do que é habitual», disse ao Sul Informação Pedro Lopes, administrador do Grupo Pestana para o Algarve.

Para já, esta cadeia hoteleira ainda não decidiu exatamente quantas e quais unidades fechar e só irá «tomar essa decisão em Dezembro».

«A situação tem estado complicada. Se não há voos, ou, quando há, os Governos dos mercados emissores dizem para as pessoas não saírem do país, é claro que o Algarve está vazio. Quem está no Algarve são pessoas que têm cá casa e as pessoas que vêm para estadias longas, por meses. Agora, o turista habitual, que passava um fim de semana ou uma semana, há muito, muito pouco», enquadrou.

Esta baixa procura leva a fortes quebras, que, no Grupo Pestana, são «de 60% a 70% nas receitas, que, no fundo, é o que interessa», em linha com as perdas médias do setor.

«E, agora, vai-se acentuar, no Inverno», avisou Pedro Lopes.

Como se percebe, primeiro a pandemia e, mais recentemente, a terapia governamental para a controlar, afetaram todos os hoteleiros, grandes e pequenos.

«Todos os grandes grupos vão ter a maioria dos hotéis fechados: o Grupo Pestana, o Anantara/Tivoli, o Vila Galé. Já fechavam algumas, mas este ano, por todas as razões e mais algumas, haverá mais unidades a encerrar», assegura Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve.

O Anantara Vilamoura Algarve Resort, por exemplo, irá fechar dentro de poucos dias.

Quanto aos hotéis mais pequenos, houve alguns «que já fecharam e outros que podem encarar a possibilidade de o fazer, nos próximos tempos, porque não há clientes e a situação tem-se vindo a complicar».

 

Elidérico Viegas – Foto: Bárbara Caetano | Sul Informação

 

A AHETA tem vindo a anunciar nas últimas semanas que mais de 70% dos hotéis estarão encerrados na época baixa do turismo, quando, «tradicionalmente, havia 50% que fechava durante o Inverno».

No entanto, admitiu ao Sul Informação Elidérico Viegas, a percentagem de unidades hoteleiras que vão estar fechadas é «um número que tem tendência a aumentar».

Já a AHP, «tinha calculado que cerca de 75% da hotelaria iria fechar. Mas com estas novas medidas, nós acreditamos que serão muito poucas as unidades que se manterão abertas», garante João Soares.

«As condições não o permitem. Se o resto do país está todo confinado, não é possível que as pessoas se desloquem ao Algarve», considerou.

O representante da AHP na região algarvia exige, desta forma, que a prometida ajuda à economia do Algarve chegue quanto antes.

Como foi dito pelo Presidente da República e pelo primeiro-ministro, o Algarve precisava de um plano específico para recuperação da economia, mas ele acabou por nunca chegar, apesar de ter sido anunciado pelo Governo.

«As empresas estão em dificuldades extremas e, muitas delas, ou irão para o lay-off tradicional ou avançarão para despedimentos coletivos, porque não vão conseguir aguentar», acredita o diretor do D. José Beach Hotel.

Isto vai «gerar um clima de insegurança e, principalmente, problemas sociais gravíssimos, numa região que depende quase exclusivamente do turismo».

Já Pedro Lopes prefere ver a questão de uma forma mais abrangente e não a cingir ao turismo algarvio.

«O que se passa é que Portugal, em termos de apoio às empresas, é dos países da Europa que menos ajudas está a dar, o que é uma pena», disse o administrador do Grupo Pestana.

Ainda assim, garante o representante deste grande grupo hoteleiro, na sua empresa não há planos para reduzir o quadro de pessoal.

«Vamos manter os efetivos. Durante o Inverno, vamos fazer aquilo que sempre fazemos: damos férias, folgas. Também não contratámos praticamente ninguém no Verão, pelo que não haverá desvinculações, vamos ficar iguais ao ano passado», assegurou Pedro Lopes.

 

 

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