Reencontros, alegria e alívio na reabertura da fronteira em Castro Marim

Fronteira esteve fechada a trânsito não essencial durante mais de três meses

Foto: Bárbara Caetano|Sul Informação

Muitos sorrisos de gente de ambas as margens do Guadiana, cumprimentos efusivos em português, espanhol e portinhol, sempre com as recomendadas cautelas no contacto físico, e o confessado alívio por ver, finalmente, reaberta uma fronteira que há décadas tinha deixado de o ser, para se tornar um ponto de conexões económicas, sociais e afetivas.

Foi num clima de festa que se assinalou hoje, 1 de julho, junto ao Posto de Turismo da Ponte Internacional do Guadiana, em Castro Marim, o final das restrições de circulação entre Portugal e Espanha, que estavam em vigor desde o dia 16 de Março.

«Hoje é um dia histórico. Estamos muito contentes e muito emocionados. Neste período que estivemos separados é que nos demos verdadeiramente conta de quanto nos queremos e de quanto precisamos uns dos outros», assegurou aos jornalistas Natalia Santos, alcaide de Ayamonte.

Conceição Cabrita, presidente da Câmara de Vila Real de Santo António (VRSA) reforça as palavras da sua congénere espanhola, afirmando que «o comércio de VRSA precisa muito dos espanhóis. Precisamos que esta união se volte a dar e com força».

 

Natalia Santos

 

Estas declarações foram feitas momentos antes da cerimónia oficial, um ato que para a autarca espanhola se adivinhava «muito bonito, muito emocionante e que nos dará esperança».

A referida cerimónia esteve para ser, num primeiro momento, uma sessão mais discreta, organizada pela Eurocidade do Guadiana, que junta os concelhos portugueses de Vila Real de Santo António e Castro Marim  ao vizinho espanhol de Ayamonte.

No entanto, o ato depressa se tornou mais alargado, passando a contar não só com os responsáveis destes três municípios, mas também com os representantes de entidades regionais, nomeadamente a anfitriã Região de Turismo do Algarve (RTA), a AMAL – Comunidade Intermunicipal do Algarve e a Junta de Andaluzia.

E nem faltaram presentes para os espanhóis que atravessaram a fronteira, cerca das 13h00, que receberam laranjas algarvias, com Indicação Geográfica Protegida, como forma de boas-vindas ao nosso país.

Todo este aparato tem uma justificação simples: a reabertura da fronteira tem repercussões regionais, tanto no Algarve como na Andaluzia.

«Para além do reencontro entre duas regiões e dois povos irmãos que estavam habituados a viver, praticamente, em coabitação, este é, obviamente, um momento muito importante para o turismo no Algarve, porque o mercado espanhol vem ganhando uma expressão cada vez maior», afirmou à margem da sessão João Fernandes, presidente da RTA.

Em 2019, «este mercado já representou mais de 1,13 milhões de dormidas em hotelaria classificada. Grande parte desta procura, cerca de 44%, é concentrada em três meses, Julho, Agosto e Setembro, que é, precisamente, o período que está aí à porta».

«É feliz este reencontro, não só pelo turismo, mas também pelos visitantes, uma vez que há muitos espanhóis que, não sendo considerados turistas por não pernoitarem no território, vêm com muita frequência ao Algarve», salientou o presidente do Turismo do Algarve.

É que há muita gente que atravessa a fronteira para almoçar, para fazer compras ou até mesmo para fazer surf na Costa Vicentina, voltando para casa no próprio dia. «Isso tem um impacto no comércio e na economia local».

 

João Fernandes

 

«Também é muito importante lembrar que existem residentes espanhóis no Algarve, cerca de 1300, que estavam ansiosos por ver as suas famílias», disse João Fernandes.

O presidente da RTA mostra-se esperançoso de que esta reabertura de fronteiras possa trazer outro fôlego à economia regional.

«Nós vimos já em vários períodos de crise, nomeadamente em 2001 e anos subsequentes e em 2009 e anos que se seguiram, que há perda dos mercados externos e um aumento nos de proximidade. E para o Algarve, os mercados de proximidade são o nacional, que é o mais importante, mas também a vizinha Espanha», rematou.

Para isso, admitiu ao Sul Informação João Fernandes, «será reforçada» a aposta de comunicação em Espanha, um dos destinos onde já foi lançada a campanha “O Algarve fica-te bem” de promoção interna e externa do turismo algarvio.

«Também é de salientar que tem havido um grande interesse dos media espanhóis, sobre o destino em si, mas também sobre os méritos que tivemos na fase de confinamento na aplicação dos planos de contingência e, já na fase de desconfinamento, sobre o manual de boas práticas, que foi uma medida pioneira a nível internacional», disse o responsável pela RTA.

Natalia Santos diz, por seu lado, que «esta é uma reabertura que é importantíssima para toda a região e, sobretudo, para os municípios que compõem a Eurocidade do Guadiana».

«É importante, sobretudo, para o setor turístico e económico, tendo em conta que o nosso comércio local, a nossa hotelaria e os nossos restaurantes e bares vive muito dos visitantes portugueses. Vivemos muitos uns dos outros, estamos totalmente ligados», resumiu a responsável máxima pelo município de Ayamonte.

 

Natalia Santos, Francisco Amaral e Conceição Cabrita

 

«Foi um tempo muito duro, porque nunca estivemos tanto tempo separados. Aqui não há propriamente uma fronteira, há sim mais outra terra chamada Ayamonte com a qual nós temos uma relação de amizade muito forte», reforçou Conceição Cabrita.

«Temos muitas afinidades, quer comerciais, quer de afetos, quer de tradições que já temos em conjunto», enquadrou a presidente da Câmara de VRSA.

Já Francisco Amaral, edil de Castro Marim, considerou que se «está a fazer justiça», ao reabrir esta passagem entre Portugal e Espanha. «Se tivermos em linha de conta que estamos a falar de duas sub regiões que não foram muito afetadas por esta pandemia, se calhar não fazia sentido estarmos mais tempo separados e isolados», afirmou.

«Faz todo o sentido que se retome esta ligação, porque nós somos irmãos. Social e familiarmente estamos muito ligados, muito agarrados», concluiu.

A alcaide de Ayamonte aproveitou para pedir aos cidadãos de ambos os lados da fronteira que «continuem a manter a distância de segurança, conscientes de que o vírus continua entre nós e que temos de ter sempre muito presentes as medidas de segurança, sem baixar a guarda».

Também Conceição Cabrita passou uma mensagem semelhante. «Espero que as pessoas tenham todas as precauções na passagem da fronteira, para que a vida normal se possa retomar», disse a edil vila-realense.

 

Fotos: Bárbara Caetano|Sul Informação

 

 

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