Christos Stylianides: Novo projeto da UE ajuda Portugal a responder a «catástrofes naturais»

Entrevista de Christos Stylianides, comissário europeu para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crise, ao Sul Informação

Chama-se rescEU e nasceu para assegurar que «acontecimentos dolorosos ocorridos em Portugal», como os incêndios, «nunca se repitam». Esta é uma das novas medidas da União Europeia, dadas a conhecer por Christos Stylianides, em entrevista ao Sul Informação. O comissário europeu para a Ajuda Humanitária e Gestão de Crise esteve em Portimão, no início do mês de Agosto, e diz estar «muito impressionado com o excelente trabalho» feito neste concelho algarvio. 

Nesta entrevista, Christos Stylianides aborda também uma das questões mais pertinentes da atualidade: as alterações climáticas. Este é mesmo um dos «desafios mais urgentes» e ao qual a União Europeia espera dar resposta com este novo projeto rescEU, de combate a catástrofes.

O comissário europeu fala ainda do sucesso que foi a exposição itinerante “EU Saves Lives”, cuja última paragem teve lugar em Portimão. 

 

Sul Informação – Quais são os objetivos do novo projeto rescEU? Porque é que a UE considerou necessário criar este novo projeto?

Christos Stylianides – A iniciativa rescEU está a tornar o nosso sistema europeu de resposta a catástrofes mais forte, eficiente e eficaz. A rescEU é uma medida adequada no atual contexto das alterações climáticas e constitui uma rede de segurança a ativar quando as capacidades nacionais estão sobrecarregadas.

A rescEU é o resultado da nossa determinação coletiva em assegurar que os acontecimentos dolorosos ocorridos em Portugal em 2017 nunca se repitam. Nem em Portugal, nem em nenhum outro lugar na Europa. É esta a razão da iniciativa rescEU.

As alterações climáticas provocaram um aumento drástico das catástrofes naturais. Os incêndios florestais e as inundações, por exemplo, devastaram uma grande parte da Europa. Portugal sabe bem do que estou a falar. Hoje em dia, as catástrofes naturais são mais frequentes, mais intensas e menos previsíveis.

Em especial, ocorrem frequentemente incêndios florestais ao mesmo tempo em zonas diferentes, o que dificulta a preparação e a resposta.

Os europeus compreendem esta dura realidade. Os cidadãos portugueses e europeus querem — e merecem — soluções reais para problemas reais. Querem resultados concretos.

Por isso, a União Europeia respondeu a essas expetativas tomando medidas concretas, com a criação da rescEU. Estas realizações foram alcançadas graças à dedicação de Estados-Membros como Portugal. Por este motivo, gostaria de expressar o meu sincero agradecimento ao primeiro-ministro António Costa e ao ministro da Administração Interna Eduardo Cabrita pelo forte empenho e apoio de Portugal para tornar a rescEU uma realidade.

A rescEU assenta em três valores europeus fundamentais: sermos solidários, protegermos os cidadãos europeus e salvarmos vidas. A rescEU envia uma mensagem forte e clara a todos os europeus: a solidariedade não é uma palavra vazia. É real e tem impacto nas vidas reais.

 

SI – Como foi implementada a nova reserva rescEU nesta fase inicial? A União Europeia está agora mais bem preparada para ajudar os Estados-Membros a combater os incêndios florestais e outras catástrofes naturais?

CS – Tenho muito orgulho em que a rescEU já seja uma realidade que concretiza o nosso compromisso de estarmos mais preparados e equipados para fazer face à intensidade e complexidade das catástrofes naturais dos nossos dias.

A frota de transição inicial da rescEU já está operacional. Trata-se de um importante primeiro passo, a que se seguirão outras realizações, à medida que vamos construindo a rescEU.

Estamos também a reforçar a prevenção e a preparação, que são pedras angulares de uma resposta eficaz às catástrofes naturais.

Além disso, os nossos esforços de preparação não se limitam à frota de transição inicial da rescEU. Estamos também a reforçar as nossas capacidades de vigilância e coordenação. Fazemo-lo de cinco formas importantes: em primeiro lugar, o nosso Centro de Coordenação de Resposta de Emergência (CCRE), que funciona em permanência, 24 horas por dia e sete dias por semana, foi reforçado com peritos dos nossos Estados-Membros: a equipa de apoio aos incêndios florestais.

 

Christos Stylianides

 

Em segundo lugar, o CCRE está a intensificar o seu papel de coordenação, reforçando a avaliação dos riscos com os Estados participantes.

Em terceiro lugar, continuamos a fornecer, através do nosso moderno sistema de satélites Copernicus, mapas por satélite que ajudam a prevenir, monitorizar e dar resposta aos incêndios florestais, assim como a outras catástrofes naturais.

Há poucos dias, fornecemos esses mapas a Portugal, contribuindo para o combate aos incêndios que ocorreram recentemente.

Em quarto lugar, apoiamos exercícios regulares no terreno. Por último, através do nosso Centro de Conhecimento, recentemente criado, promovemos a cooperação e a partilha de boas práticas entre os Estados-Membros.

 

SI – Que papel pode ter a União Europeia para ajudar a combater as alterações climáticas? Já existem meios ou projetos para as combater?

CS – Quando falamos de solidariedade, devemos também falar de alterações climáticas. Trata-se de um dos desafios mais urgentes que a humanidade enfrenta atualmente. As alterações climáticas são reais. A ciência é clara. Não pode ser negada. Não são notícias falsas.

Desde 1970, os fenómenos catastróficos naturais aumentaram 400 vezes. E prevê-se que esta tendência se mantenha.

A resposta que hoje damos às alterações climáticas vai definir de que forma viveremos amanhã e de que forma viverão as próximas gerações.

Os europeus compreendem esta dura realidade. As alterações climáticas foram uma questão determinante nas recentes Eleições Europeias. Foram-no especialmente para os eleitores mais jovens, que compreendem a urgência e exigem uma ação imediata.

Por isso, a União Europeia está a responder. Estamos a liderar os esforços para aplicar o Acordo de Paris e pôr o mundo num caminho novo em direção a um futuro sustentável. Para tal, estamos a implementar a Estratégia de Adaptação da UE.

Nenhum país pode enfrentar sozinho os efeitos dramáticos das alterações climáticas. Estamos todos no mesmo barco. É por esta razão que o Sistema Europeu de Proteção Civil foi melhorado com a criação da iniciativa rescEU.

A rescEU é um investimento na nossa resposta às catástrofes naturais a nível da UE. É também um investimento na prevenção e na preparação. A rescEU irá criar uma cultura comum de prevenção em toda a Europa através da partilha de boas práticas e da promoção de uma maior cooperação entre os Estados-Membros.

Também investimos na investigação para compreender melhor os desafios das alterações climáticas. O programa Copernicus de Observação da Terra é disso um exemplo. Pode melhorar as previsões e a análise dos riscos através de serviços climáticos e da partilha de dados. Trata-se de um instrumento fundamental que os Estados-Membros podem utilizar para melhorar a avaliação dos riscos de catástrofes.

 

SI – Como descreveria os resultados da iniciativa «EU Saves Lives»? Qual foi a inovação trazida por esta iniciativa? Que objetivos foram alcançados?

CS – Decorridos dois anos e depois de ter passado por 13 cidades europeias, a campanha “EU Saves Lives” fez a sua paragem final na bela cidade de Portimão. Gostaria de agradecer à presidente da Câmara Isilda Gomes, pela sua calorosa hospitalidade.

Tive também a oportunidade de visitar o Centro Municipal de Proteção Civil e Operações de Socorro e de observar o trabalho realizado no terreno. Devo dizer que estou muito impressionado com o excelente trabalho e a dedicação das autoridades locais e do pessoal da proteção civil à segurança e proteção dos cidadãos e dos visitantes de Portimão.

O encerramento da campanha “EU Saves Lives” em Portugal não foi acidental. Foi simbólico. Representa o reconhecimento do contributo e apoio de Portugal, ao longo de muitos anos, que foi essencial para o nosso sistema coletivo europeu de resposta a catástrofes. É, acima de tudo, uma homenagem a todas as vítimas dos incêndios catastróficos dos últimos anos e também a todos os membros das equipas de primeira intervenção que arriscam as suas vidas para salvar as de outros.

 

 

O nosso principal objetivo com esta exposição de realidade virtual foi dar aos cidadãos europeus a oportunidade única de ver o que a Europa realmente faz. Poderem ver o trabalho real de bastidores, que tem um impacto real na vida das pessoas. E a exposição mostra de que forma a UE protege e salva vidas.

A utilização da tecnologia permite que os cidadãos se sintam como se estivessem no terreno. As pessoas podem vivenciar a resposta coordenada real da UE para ajudar as pessoas vulneráveis. De uma visita ao campo de refugiados Cox’s Bazar, no Bangladesh, que acolhe mais de 700 mil refugiados da etnia Roinja, podem passar para a cabina de pilotagem de um avião de combate a incêndios em Espanha ou acompanhar um projeto educativo financiado pela UE no campo de refugiados de Kakuma, no Quénia, um dos maiores do mundo. A campanha “EU Saves Lives” foi realmente uma experiência fascinante e emocionante.

Estou muito satisfeito com os resultados desta exposição, que foi muito bem acolhida pelos cidadãos em toda a Europa. Esta exposição itinerante foi visitada por mais de meio milhão de pessoas. É um número impressionante.

Por isso, agradeço a Portimão e a todas as outras cidades europeias que organizaram a exposição. E agradeço sobretudo a todos os visitantes que podem agora passar a palavra sobre o papel preponderante desempenhado pela UE no alívio do sofrimento das pessoas vulneráveis em todo o mundo e na proteção dos cidadãos europeus.

 

Fotos: Hélder Santos | Sul Informação

 

 

 

 

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