Reduzir o desperdício alimentar – bom para o Ambiente e para a sua carteira

É nossa obrigação aprender a poupar e gerir melhor o que servimos à nossa mesa

O desperdício alimentar é, presentemente, um problema global bastante sério, a nível económico, ambiental e social, em Portugal e no mundo.

De acordo com a Food and Agriculture Organization das Nações Unidas, cerca de um terço de todos os alimentos produzidos anualmente a nível mundial é desperdiçado.

Na prática, é como preparar três suculentos pratos de bife e colocar um, de imediato, no lixo. Isto vale para a sua família e todas as famílias no planeta terra! Assustador, não?

Na verdade, o desperdício não acontece só ao nível do consumo. É logo na produção e na distribuição – os outros segmentos do sistema alimentar – que as perdas começam.

De acordo com os autores do estudo português “PERDA – Projeto de Estudo e Reflexão do Desperdício Alimentar”, realizado em 2012, “em países como os Estados Unidos ou o Reino Unido, há perdas ao longo do sistema da ordem dos 50 e 30%, respetivamente, ou seja: nos EUA, metade da comida produzida acaba como resíduo, antes mesmo de chegar ao prato.

Na fase de produção, na de distribuição e nas nossas próprias casas, vão-se deitando fora quantidades de comida cuja produção implica impactes ambientais negativos a vários níveis, e que, se fossem aproveitados em vez de desperdiçados, poderiam ter impactes sociais positivos”.

O “PERDA” chegou à conclusão de que, em Portugal, o desperdício alimentar anual ronda 1 milhão de toneladas de alimentos, das quais 324 mil toneladas são desperdiçadas ao nível do consumidor.

Importa, pois, reduzir o desperdício alimentar, porque, quando temos um alimento na nossa casa – uma peça de fruta, uma batata, uma couve, um frango – já muitos recursos foram utilizados na sua produção: recursos naturais, mão-de-obra, recursos financeiros, energia, comunicação, entre outros.

O que significa que, enquanto consumidores, se descartarmos algum alimento ou parte dele, por esta ou aquela razão – quer seja porque sobrou no prato ou deixámos passar o prazo de validade – não estamos somente a desperdiçar o dinheiro que pagámos por ele, estamos igualmente a desperdiçar tudo o que esse alimento gastou, até chegar a nós.

No Ocidente, comemos muito, por vezes mal e desperdiçamos muita comida.

Num planeta em que um sexto da população passa fome (“We are the World” é um êxito do século passado, 1985, para ser mais exata, mas bem podia ser do século XXI, pois ainda há muitas crianças com fome em África e noutras partes do mundo…) e onde um terço dos problemas ambientais advém da produção e consumo de alimentos, constatar que existe um desperdício alimentar mundial é, no mínimo, alarmante.

Vivemos um momento da história da Humanidade em que a utilização racional dos recursos que temos é cada vez mais premente.

Somos cada vez mais pessoas a disputar cada vez mais recursos, num planeta que não possui reservas ilimitadas – o peixe no mar está a escassear, os terrenos agrícolas também…

Segundo o relatório da World Wildlife Fund (WWF – Fundo Mundial para a Natureza) e a Global Footprint Network, o dia 10 de Maio marca a data em que os Europeus esgotaram o seu orçamento natural anual.

Ou seja, durante o resto do ano de 2019, a Europa vai viver “a crédito” do capital natural – uma “pressão ecológica sem precedentes” que inclui desflorestação, perda de biodiversidade, diminuição das populações de peixes, falta de água doce, erosão do solo e poluição do ar.

É importante que todos tomemos consciência disso – agora!

Precisamos de refletir profundamente sobre o insustentável sistema de produção, consumo e desperdício alimentar que continua a reger a sociedade atual e, principalmente, precisamos de agir.

O primordial contributo individual que todos nós podemos dar começa com pequenas atitudes, pequenas alterações na nossa rotina diária, em casa, e no momento das compras, que, no final, podem fazer uma grande diferença. No ambiente e na nossa carteira. Atitudes e técnicas que reduzem a quantidade de comida que desperdiçamos e que até nos podem ajudar a poupar nas contas no final do mês.

Lembre-se sempre: comida desperdiçada é dinheiro esbanjado. Evitando o desperdício, os gastos com a alimentação podem ser realmente reduzidos, acredite.

Aqui ficam algumas dicas bastante práticas:

– Organize o seu frigorífico e a sua despensa: coloque mais perto os produtos com menor prazo de validade e, mais longe, os produtos com maior tempo de validade. A maior acessibilidade e visibilidade destes produtos promove o seu mais rápido consumo.

– Aprenda a diferença entre “consumir até” ou “consumir de preferência antes de” e use isso, a seu favor: “consumir até” refere-se a produtos com pouca validade e que devem ser consumidos necessariamente até aquela data. É um prazo máximo de consumo, a partir do qual os produtos não podem ser comercializados.
Pense sempre primeiro, antes da compra, se conseguirá consumi-los no prazo de validade indicado. Se não conseguir, não compre ou opte por levar menos, e, dentro de alguns dias, volte novamente às compras.
“Consumir de preferência antes de” refere-se a produtos que devem ser consumidos até um determinado dia, mas que se mantêm aptos para consumo nos dias que se seguem, desde que bem armazenados.
Por vezes, há produtos em promoção com esta informação que podem ser uma ótima forma de poupar, se souber que irá consumir esse produto rapidamente.

– Faça sempre uma lista de compras: nem pense em sair de casa sem uma lista de compras. Esta é a melhor forma de poupar e de resistir à tentação de comprar aquilo de que não necessita.
É preferível fazer compras com maior frequência e comprar menores quantidades de cada vez, do que comprar muito e metade acabar por ir parar ao lixo.
Os alimentos a granel são também mais vantajosos em termos de preço e combate ao desperdício alimentar, além de ajudarem igualmente na redução da utilização do plástico – tema abordado no meu último artigo de opinião.

– Confecione somente as porções adequadas ao consumo da sua família: quando confecionar as suas refeições em casa, tente fazê-lo sem que haja excedentes ou sobras.
No caso de existirem sobras ou excedentes, conserve no frigorífico, de preferência num recipiente fechado, e consuma no prazo máximo de 3 dias, reaquecendo uma só vez.
Confirme, contudo, os alimentos em causa, pois há alimentos como o arroz ou os espinafres que não devem ser reaquecidos, pois perdem as suas propriedades e podem até ser nocivos.

– Aproveite as sobras e partes inutilizadas dos alimentos: há cada vez mais livros e receitas na internet a mostrar como é possível utilizar as sobras e componentes como as cascas e os talos de forma criativa e nutritiva. Basta pesquisar.

Apesar do desperdício alimentar ser elevado, vão surgindo iniciativas que ajudam a acreditar que é possível minimizar o impacto deste flagelo…

Projetos voluntários como o ReFood, Zero Desperdício, Dose Certa, Fruta Feia, dão a conhecer a problemática do desperdício alimentar, a importância da reeducação das quantidades e porções servidas, da qualidade da fruta fora dos parâmetros comercialmente aceites, não só para particulares, mas também para restaurantes e estabelecimentos comerciais, ajudando, ao mesmo tempo, quem mais precisa e para quem “desperdício alimentar” é um conceito meramente abstrato.

Conhece o Good After? Trata-se de um supermercado com encomendas online que distribui para o território nacional, produtos com descontos (mercearia, bebidas, beleza, produtos Bio, etc..) devido ao menor prazo de validade que possuem ou porque foram descontinuados dos supermercados, mas que continuam bons para consumo. Uma ótima forma de poupar e de usar, o que outra forma iria parar ao lixo…

Se, a partir de agora, quando estivermos em casa a preparar as nossas refeições ou no restaurante, olharmos o nosso prato e pensarmos no caminho que esses alimentos fizeram até chegar a nós, estamos de parabéns. Significa que a nossa relação com a comida vai mudar, que estamos mais consciente e sensibilizados para a problemática do desperdício alimentar.

Vamos lembrar-nos mais vezes que há pessoas que passam fome, que os recursos naturais são limitados e que podem ser preservados com os nossos pequenos gestos – e que é nossa obrigação aprender a poupar e gerir melhor o que servimos à nossa mesa.

Porque o amanhã é-nos desconhecido…

 

Autora: Analita Alves dos Santos é uma Mãe preocupada com questões ambientais

 

 

 

Comentários

pub