Uma ponte em tempo de muros no Festival do Contrabando

Festival continua hoje e amanhã, dos dois lados do Guadiana, unidos pela ponte flutuante

«A ponte que hoje aqui construímos cumpre temporariamente um sonho antigo destes dois povos», por isso «lanço o repto para se construir uma ponte definitiva» ou «manter esta estrutura durante um período mais alargado».

As palavras são de Osvaldo Gonçalves, presidente da Câmara de Alcoutim, e a estrutura a que se refere é a ponte flutuante sobre o rio Guadiana, ligando as margens portuguesa e espanhola, que é a atração principal do Festival do Contrabando, que começou ontem e se prolonga até amanhã, domingo, 31 de Março.

José Maria Perez Diaz, alcaide de Sanlúcar de Guadiana, a vila-espelho de Alcoutim, no outro lado do rio, expressou exatamente o mesmo desejo: «que o sonho seja realidade numa ponte mais contínua, que ligue as duas comunidades de forma mais permanente».

E João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve, sublinhou que, durante estes três dias, «a ponte é física, mas é também de afetos, numa altura em muitos acham que a moda é construir muros».

A abertura da ponte pedonal provisória foi o ponto alto da inauguração de mais esta edição, a terceira, do Festival do Contrabando – Tráfico de Artes no Guadiana. À espera que acabassem os discursos, feitos à beira rio, estavam já centenas de pessoas, ansiosas por caminhar sobre as águas.

 

Mas tiveram de esperar ainda mais um pouco. Tendo em conta que o Festival do Contrabando é um dos eventos mais emblemáticos do programa 365Algarve, a secretária de Estado do Turismo recordou os números que o Sul Informação já tinha revelado em primeira mão ontem de manhã, para sublinhar que «a três meses de terminar esta edição, os resultados são francamente animadores».

O presidente da Câmara de Alcoutim também já tinha destacado o apoio precioso do 365Algarve, salientando que «pequenos nadas fazem toda a diferença».

Mas não é só a Alcoutim e ao Algarve que o Festival do Contrabando traz benefícios. María Eugenia Limón Bayo, vice presidente de Coordenação e Políticas Transversais da Diputación de Huelva, sublinhou que «o festival é importante para o turismo da província». De tal forma que Sanlúcar, a vila gémea de Alcoutim, logo ali em frente, do outro lado de um rio tornado mais estreito pela ponte flutuante, também já recebe apoio da província de Huelva para as suas atividades.

Quando foi a hora de finalmente atravessar, em primeiro lugar seguiram as entidades oficiais, com os presidentes das Câmaras de Alcoutim e Sanlúcar e a secretária de Estado Ângela Ferreira à frente. Balouçando com o vento e as águas do rio, chegaram à outra margem, onde foram recebidos por um Guardia Civil, de chapéu característico e bigode farfalhudo, e por um casal de contrabandistas. E houve muitas gargalhadas.

Pelas ruas de Sanlúcar, ouvindo-se falar castelhano, português e, sobretudo, portunhol, a comitiva dirigiu-se até à antiga pousada da vila, onde até se dançou ao som de um paso doble bem animado.

 

 

De regresso ao cais, foi a vez de um grupo português pôr toda a gente a dançar e a cantar ao som do «Apita o Comboio», num dos cafés da vila espanhola. A secretária de Estado sorriu, mas não dançou, enquanto os presidentes da RTA e da AMAL e o diretor regional de Agricultura do Algarve foram dos mais animados na dança.

 

 

Atravessada de volta a ponte, foi a vez de ainda fazer umas compras nas tendas dos feirantes de Alcoutim, com o pão cozido no forno, os doces caseiros e os queijos frescos a garantir as preferências da comitiva.

Mas o Festival do Contrabando irá continuar a traficar artes no Guadiana – ou seja, em Alcoutim e em Sanlúcar, este sábado e domingo.

Pelas ruas das duas vilas gémeas, há muito artesanato genuíno, com artífices a trabalhar ao vivo e até a ensinar as suas artes, há produtos regionais, doces, pão, licores, vinhos, aguardentes, queijos, enchidos, para comprar e comer. E há também muitas tabernas, onde retemperar forças e humedecer a garganta.

Nas ruas, há sempre animação, em português e em espanhol (aliás, quase sempre em portunhol), pelo que não se assuste se um guarda-fiscal de farda cinzenta o tentar prender por contrabando. Ou se uma velhinha de língua mordaz lhe tentar vender uma galinha pilhada.

É que, se por um lado se celebra a arte, a cultura, a gastronomia e o património natural partilhado por ambas as vilas, por outro a atividade ilícita do comércio é tida como o mote para a (re)criação de tempos idos, onde muitas são as estórias partilhadas de pessoas que atravessavam a nado o rio de modo a poderem sobreviver.

Assim, este sábado, o mercado dos ofícios e a feira abrem às 11h00, a mesma hora a que começa uma oficina de Instrumentos Tradicionais, com Marco Vieira, no Edifício das Finanças, em Alcoutim. Meia hora depois, o Grupo Coral Santa Maria canta na Igreja Matriz da vila portuguesa.

 

 

Às 14h00, o grupo «Sopas de Pão», de Novo Circo Tradicional Alentejano, vai apresentar-se em Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana.
Depois, a partir das 16h30, haverá música, teatro e circo com grupos portugueses, espanhóis e ainda do Chile e da Suíça, tanto num lado como no outro do Guadiana.

Às 21h15, o cais da vila de Alcoutim recebe a atuação dos Artistas del Gremio (Espanha), enquanto às 22h00, no castelo da vila algarvia haverá serões, com Baixinho do Fado e Taberna da Meia Unha, seguindo-se uma noite Chill Out World Music com o DJ Pax Manito.

A partir da meia noite, haverá um pós festival no bar da Praia Fluvial do Pego Fundo, com música de discoteca dos anos 60/70, com o DJ Karlucci.

E amanhã, domingo, dia 31, a animação voltará a ser uma constante ao longo do dia.

Como disse o alcaide de Sanlúcar, este Festival é mesmo «um bom exemplo de convivência e de como podemos estar numa fronteira trabalhando sem fronteiras».

 

Fotos (e vídeos): Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

 

PROGRAMA

 

Sábado, 30 de Março

11.00 – Abertura do Mercado de Ofícios e Feira

– Oficina de Instrumentos Tradicionais, com Marco Vieira, no Edifício das Finanças, Alcoutim

11.30 – Grupo Coral SANTA MARIA (PORTUGAL), Igreja Matriz de Alcoutim

14.00 – SOPAS DE PÃO – Novo Circo Tradicional Alentejano (PORTUGAL), Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana

16.30 – ETXEA-CASA-HOME por AIMAR & CIA CIRCO Y TEATRO (ESPANHA), Pozo Nuevo, Sanlúcar de Guadiana

17.30 – TODO PUEDE PASAR, por Mimo Huenchulaf (CHILE), cais de Sanlúcar de Guadiana

18.30 – ROJO, por Mireia Miracle (ESPANHA), Castelo da Vila, Alcoutim

19.30 – MANTO, por Compagnie Les Malles (SUIÇA), Praça da República, Alcoutim

20.15 – EL TEATRO DE SOMBRA VIAJERO, por ArTEatro (ESPANHA), cais de Sanlúcar de Guadiana

20.45 – Acordeão Génio & Arte, com Bruno Gomes e Rodrigo Maurício (PORTUGAL), Plaza de Espanha, Sanlúcar de Guadiana

21.00 – Encerramento Mercado de Ofícios e Feira

21.15 – Atuação dos ARTISTAS DEL GREMIO (ESPANHA), cais da Vila de Alcoutim

22.00 – Serões no Castelo da vila de Alcoutim com:

BAIXINHO DO FADO e TABERNA DO MEIA UNHA (PORTUGAL)

Noite Chill Out World Music com DJ PAX MANITO

24.00 – Pós festival no bar da Praia Fluvial do Pego Fundo:

DISCOTECA anos 60/70, com DJ KARLUCCI

 

 

Domingo, 31 de Março

11.00 – Abertura do Mercado de Ofícios e Feira

– Concurso de Corte de Presunto Ibérico, na rua El LLano, Sanlúcar de Guadiana.

11.15 – CORO DA IRMANDADE DE EMIGRANTES (HUELVA, ESPANHA), pelas ruas de Sanlúcar de Guadiana e Alcoutim

11.30 – Oficina de Instrumentos Tradicionais, com Marco Vieira, no Edifício das Finanças, Alcoutim

14.30 – SOPAS DE PÃO – Novo Circo Tradicional Alentejano (PORTUGAL), Alcoutim e Sanlúcar de Guadiana

16.30 – MANTO, por Compagnie Les Malles (SUIÇA), Cais de Sanlúcar de Guadiana

17.30 – ROJO, por Mireia Miracle (ESPANHA), Castelo da Vila, Alcoutim

18.30 – TODO PUEDE PASAR, por Mimo Huenchulaf (CHILE), cais da Vila de Alcoutim

19.00 – Encerramento Mercado de Ofícios e Feira

19.00 – Atuação do Grupo Coral BAFO DE BACO (PORTUGAL), cais da Vila de Alcoutim

EM HORÁRIO DE MERCADO

Exposição Atelier do Acordeão, Casa dos Condes, Alcoutim

Exposição Memórias de Sanlúcar na Antiga Pousada, Plaza de España, Sanlúcar de Guadiana

Arruadas, animação musical nas duas vilas com:

SÁBADO

BANDO DA TERRA VELHINHA / PILHA GALINHAS / GRUPO MUSICAL TERRA BELA / GRUPO CORAL GUADIANA / VOLTA E MEIA / CUARTETO MARAVILLA / GUADIANA SWING QUARTET / TAMBORILEROS LOS BRAVOS / ACORDEONISTAS ANTÓNIO MANUEL E ERNESTO BAPTISTA / RANCHO FOLCLÓRICO DO AZINHAL

DOMINGO

BANDO DA TERRA VELHINHA / PILHA GALINHAS / GRUPO MUSICAL TERRA BELA / CAVAQUINHOS DO MIRA / VOLTA E MEIA / CUARTETO MARAVILLA / GUADIANA SWING QUARTET / TAMBORILEROS LOS BRAVOS / ACORDEONISTAS ANTÓNIO MANUEL E ERNESTO BAPTISTA / GRUPO DE CANTARES DE CACHOPO “SEARA DE OUTONO”

Teatro e Animação de rua nas duas vilas com:

Rábulas dos contrabandistas, guardas-fiscais e carabineiros / Vendedores ambulantes e mestres de outros ofícios apresentam as mercadorias às gentes da terra / Vivência nas tabernas, sátira social e troca de informações / Jogos populares e rixas de cajados / Jogo Do Pau / TOKAjogar- Jogos tradicionais e antigos / Oficina e demonstração de cana rachada/ Jogo do Pote e Jogos tradicionais / Roda Gigante de época / Oficina de circo para crianças / Teatro de Robertos / performances dos workshops de formação teatral em Alcoutim

Pelos grupos Água Ardente e atores locais de Alcoutim, Terra Velhinha, Ofícios com História, Jogo do Pau, Compañia LATANANA

OFICINAS Projeto TASA:

Dia 30 de Março

Em Alcoutim, Casa dos Condes:

12.00 – 13.00 Oficina de Olaria

14.30 – 15.30 Construção de Moinhos de Vento em Cana

16.00 – 17.00 Criação de Vassourinhas Miniatura de Palma

Dia 31 de Março

Em Alcoutim, Casa dos Condes:

11.30 – 12.30 Oficina de Olaria

Em Sanlúcar de Guadiana, no cais:

14.00 – 17.00 Roda de Cadeiras – encontro de cadeireiros e experimentação do ofício de empalhamento

HORÁRIO da PONTE FLUTUANTE:

Sábado 9.00 às 11.30 – 13.00 às 18.00

Domingo 9.00 às 11.30 – 13.00 às 18.00

HORÁRIO BILHETEIRAS:

Sábado 8.00 às 10.30 – 12.00 às 17.00

Domingo 8.00 às 10.30 – 12.00 às 17.00

Tabernas e mercado de época

Concurso de Fotografia Tráfico de Artes no Guadiana

 

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