O “rooftop” com a melhor vista da cidade de Faro vai estar acessível até final do ano

Ermida de Santo António do Alto está a receber obras para ser ponto de atração turística

Até ao final do ano, Faro vai ter mais uma açoteia (rooftop) que poderá ser visitada e logo aquela que proporciona a «melhor vista» sobre o concelho. A Ermida de Santo António do Alto está a receber obras de restauro por parte da Câmara de Faro e, graças a um projeto vencedor do Orçamento Participativo de Portugal, vai ser dinamizada e reaberta ao público.

Este projeto vencedor, proposto por Samanta Duarte e Ana Morgado, deu um “empurrão” à obra, que estava prevista pela Câmara Municipal, e vem complementar a ideia que a autarquia tinha para aquele espaço.

Além da ermida, que terá sido erguida no século XV, será ainda reaberto o museu antonino, criado já no século XX, e passará a ser possível subir ao topo da antiga torre de atalaia, que ganhou uns metros quando foi adaptada, também no século passado, para receber um depósito de água.

Em tempos, esta torre servia de vigia, para avistar inimigos que entrassem na ria. A partir deste ano, com a vista que proporciona, servirá para chamar turistas.

As obras de restauro exterior arrancaram há duas semanas e foram visitadas, esta sexta-feira, no âmbito da iniciativa “Faro Positivo“.

 

Depois de um restauro do interior da ermida, «estamos agora na segunda fase do projeto, com a obra de recuperação das fachadas. A seguir, vamos para a terceira fase, que passa pela dinamização deste espaço», explicou Rogério Bacalhau, presidente da Câmara de Faro.

Nessa terceira fase, «é preciso criar materiais e fazer dinamização deste espaço. Há que recuperar espaços fechados, como o museu antonino, que aqui houve em tempos, para, em conjunto com as duas raparigas que concorreram ao OPP, podermos ter este espaço aberto ao público. No final deste ano, esperamos ter o projeto totalmente concluído».

Se as obras de restauro exterior, que custam cerca de 36 mil euros, estão a cargo da Câmara Municipal, o projeto de dinamização, no valor de 70 mil euros, será financiado pelo OPP, através da Direção Regional de Cultura do Algarve.

Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro, considera que este é um «projeto da cidadania de duas munícipes farenses interessadas pelo património, que fizeram um projeto para dinamizar um espaço que foi perdendo as suas funções museológicas, turísticas e de visita ao miradouro, que tem uma vista extraordinária. É a melhor vista da cidade de Faro».

Por tudo isto, o responsável diz que este «é um projeto muito importante, que estamos a acompanhar na Divisão de Museus. Esta é  uma ermida extraordinária, pela sua beleza arquitetónica e seu passado. O que pretendemos é que o espaço se torne visitável e o objetivo é que estas recuperações se venham a alastrar a outros espaços religiosos do município».

Este é um espaço que, ao longo dos séculos, teve «várias funções. Teve funções militares, sendo um ponto de vigia para os inimigos que se aproximavam da vila e, mais tarde, cidade, e também há o espaço religioso», que «tem uma “cereja no topo do bolo”. Ainda há os vestígios da antiga ermida, que será dos finais do século XVI, que tem uma abóbada manuelina extraordinária, muito bem conservada, que fará parte do roteiro da visita», revela Marco Lopes.

 

A abóbada manuelina

Essa abóbada ficou “escondida”, depois da intervenção que a ermida recebeu no século XVII, que lhe deu «outra amplitude e dimensão. O barroco é isso mesmo. Foi criada uma nave altíssima».

Entre os motivos de interesse da ermida, «há também este retábulo que foi feito por um dos mais conceituados entalhadores farenses», Manuel Martins. Já a construção do edifício foi encomendada ao mestre pedreiro Diogo Tavares, que também construiu a Igreja do Carmo. «Foi uma obra cara», garante Marco Lopes.

As obras na fachada estão a ser acompanhadas por uma equipa de restauro do Museu de Faro e o seu diretor dá o exemplo da importância deste acompanhamento: «na fachada, há uma cartela que tinha uma data escrita de 1500 e qualquer coisa. Quem foi fazendo o restauro foi, sucessivamente, colocando cal, tentando perceber o que lá estava antes. No entanto, a data verdadeira, que devia lá estar, era 1754. São só dois séculos de diferença», graceja.

A ermida «é uma obra de arte local», acrescenta Marcos Lopes. «Temos a talha, a pintura, os azulejos, a abóbada… É um dos edifícios mais emblemáticos da cidade. É esta ermida que dá nome à Rua de Santo António que, entretanto, foi “interrompida” pela construção do liceu».

 

Marco Lopes

Sobre o museu antonino, que existia no local, o diretor do Museu Municipal de Faro explica que o «recheio que pertencia ao museu foi para as nossas reservas. Foi uma decisão da altura, do final anos 90, por questões de segurança e por falta de visitantes. O recheio está connosco e a ideia é devolver o recheio, com outro enquadramento e outros conteúdos».

Com uma ermida que é uma «obra de arte», uma vista que é «a melhor da cidade» e ainda um museu, Marcos Lopes está certo que este é um espaço que «tem um potencial enorme do ponto de vista turístico. Este local chegou a ser mais visitado do que o Museu Municipal, no final dos anos 60 e no princípio dos anos 70. Teria 10 mil visitantes por ano».

Rogério Bacalhau concorda com o potencial turístico deste monumento, com o seu «miradouro espetacular, com uma vista sobre todo o concelho. Penso que só o depósito de água do Alto de Rodes terá uma cota ligeiramente superior. Esse edifício que está aqui em frente [o liceu] foi um atentado urbanístico. A avenida devia chegar aqui e toda a baixa da cidade teria a visão da ermida. Se hoje fizéssemos o liceu, haveria muitas vozes contra. A ermida perdeu muito com isso, ficou escondida e perdeu um pouco da importância que tinha. O que estamos aqui a fazer é recuperar o património que estava a ser subaproveitado».

O autarca agradece ainda às mentoras do projeto vencedor do OPP, porque, «se não fossem estas duas jovens, não tínhamos o projeto a funcionar desta forma. Tínhamos a ideia de o fazer, mas o facto de ter havido o OPP acelerou-o e ainda bem», conclui.

 

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