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Entre lençóis e reflexões: Valéria e O Sexo e a Cidade

À primeira vista, tudo parece descomplicado. Quatro amigas, copos de vinho branco a tilintar, confissões sobre sexo e amores que desmoronam ao virar da esquina. Valéria, uma série da Netflix, e O Sexo e a Cidade, originalmente transmitida pela HBO entre 1998 e 2004 — ambas baseadas em livros —, partilham essa aparente despreocupação.

Mas quem mergulha nos episódios e nos diálogos depressa percebe: estas são histórias sobre mulheres a viver num mundo ainda desigual, em que a luta por espaço, dignidade e liberdade de escolha persiste, apesar dos avanços e hashtags.

Separadas por 17 anos, as séries têm denominadores comuns: falam de mulheres que buscam um equilíbrio entre o amor, a carreira, o sexo e a amizade num tabuleiro onde as regras ainda não são justas. Em O Sexo e a Cidade, Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha desbravaram os anos 90 e início dos 2000 ao abordar temas que antes se sussurravam.

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A sexualidade feminina ganhou protagonismo, mas não foi apenas isso: a desigualdade salarial, a maternidade independente, a homossexualidade e a bissexualidade foram debatidas em pleno horário nobre.

Já em Valéria, acompanhamos a protagonista e as suas três amigas inseparáveis — Carmen, Lola e Nerea — enquanto navegam pelas complexidades do amor, do trabalho e da autodescoberta. A série transporta-nos para o universo de uma escritora que não só enfrenta dúvidas amorosas mas também as dificuldades inerentes à publicação de um livro e à desvalorização da ficção romântica, escrita por mulheres, ainda vista como «literatura menor», como se a experiência feminina no amor e na vida não fosse digna de ser escrita com profundidade.

Outro ponto comum é a pura sororidade. Entre Madrid e Nova Iorque, entre um brunch e uma saída à noite, vemos Valéria, Carmen, Lola e Nerea, tal como Carrie e as amigas, a ampararem-se mutuamente, a divertirem-se e a rejeitar sucumbir à pressão social. Esse apoio fortalece-as e incentiva-as a persistir, mesmo quando o mundo lhes fecha portas ou lhes exige demasiado. Mais do que «séries de mulheres sobre sexo», estas narrativas são retratos de uma sociedade em que a igualdade ainda é uma palavra vazia.

A independência financeira e emocional ainda é um luxo, não um direito inquestionável, e a conciliação entre vida pessoal e profissional continua a pesar desproporcionalmente sobre os ombros femininos. O direito a escolher entre a maternidade e a carreira sem ser julgada, reivindicar igualdade salarial e recusar ser reduzida ao papel de «mãe» ou «amante» fazem parte do quotidiano de tantas mulheres.

O discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, no Dia Internacional da Mulher de 2025, reforça essa realidade. Guterres alertou para o facto de a igualdade de género ser ainda uma ilusão e que, apesar de avanços pontuais, as mulheres continuam a ganhar menos do que os homens, a estar sub-representadas em cargos de poder e a carregar o peso do trabalho não remunerado em casa. Em muitas partes do mundo, direitos que pareciam consolidados estão sob ameaça devido a retrocessos legislativos e culturais.

O entretenimento mascara as dificuldades com humor e desejo, mas a mensagem destas séries repercute-se na vida real. Se o progresso permanecer lento e as mulheres tiverem de continuar a provar o seu valor, a luta persistirá. Calar não é opção. Embora o erotismo seja um dos elementos que captam a atenção (spoiler: há muito sexo em Valéria!), a verdadeira matriz destas histórias reside na resiliência e na capacidade de mudança do Ser Humano, Homem ou Mulher.

E se as narrativas que consumimos espelham a realidade, então séries como Valéria e O Sexo e a Cidade são mais do que divertimento: refletem uma sociedade que ainda luta para evoluir e fazem-nos pensar (e agir). Nunca confundir seriedade com importância.

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