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Peças inéditas ajudam Museu de Faro a lançar um novo olhar sobre Nadir Afonso

É «arrojada», apresenta inesperadas peças inéditas de um dos artistas portugueses mais estudados e expostos, mas é também «um casamento perfeito» entre a obra e o espaço de acolhimento. A exposição “Nadir Afonso (1920-2013) – A Irresistível paixão pela pintura”, a primeira de obras deste artista no Algarve, foi inaugurada no sábado, dia 8 de Março, no Museu Municipal de Faro, para dar a conhecer um lado pouco explorado deste pintor português.

Esta é uma mostra «audaz» e «arrojada», como admitem tanto Rita Maia Gomes, curadora da exposição, como Marco Lopes, diretor do Museu Municipal de Faro, que procura lançar um novo olhar sobre «um dos artistas portugueses do século XX mais estudados e com mais exposições».

«A nós, a mim e ao Museu Municipal de Faro, interessava-nos uma exposição que não fosse apenas mais uma mostra do Nadir, mas sim uma que trouxesse alguma novidade e uma oportunidade única para as pessoas conhecerem o percurso deste artista», revelou ao Sul Informação Rita Maia Gomes.

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O nosso jornal falou com a curadora da exposição numa altura em que esta estava a ultimar pormenores da mostra, poucos dias antes da sua inauguração.

Ao todo, a mostra conta com de cerca de 90 peças, que foram divididas em três espaços. A exposição começa no piso 1, tem depois o outro espaço ao lado da primeira sala e termina na capela, no piso térreo.

Enquanto manuseava pequenas placas brancas com a legenda dos quadros, que ainda iria colocar junto às obras expostas, Rita Maia Gomes revelou, sem esconder o entusiasmo e o orgulho, que esta mostra conta com algumas peças inéditas, nunca antes expostas.

Uma delas, um autorretrato de Nadir Afonso, acolhe os visitantes logo na primeira das três salas do museu onde se desenvolve esta exposição temporária.

«A exposição abre com uma obra inédita, que é aquele autorretrato do Nadir Afonso. Esta é uma componente importante desta exposição. É um trabalho de juventude, muito expressivo, que não está datado», contou.

«Esta obra inédita, bem como outra documentação que está patente na exposição, pertencia ao espólio de um pintor chamado Amândio Silva, que frequenta a Escola de Belas Artes do Porto no período em que o Nadir lá está. Ele está em pintura, o Nadir em arquitetura, mas tornam-se muito amigos, amigos próximos. E, no espólio do Amândio Silva, que esteve fechado muito tempo, havia objetos do Nadir Afonso, porque, na verdade, eles tiveram uma grande proximidade artística», acrescentou a curadora da exposição.

Este autorretrato acaba por dar o mote a uma viagem não só pela obra, mas também pela vida de Nadir Afonso, desde a sua juventude e até à sua consagração enquanto artista.

A exposição que pode ser vista em Faro até 1 de Junho, «não abarca a totalidade da sua obra», que foi profícua, estando «balizada entre 1935 e 1959».

«Interessou-me tratar o período de descoberta da pintura do artista, quando ele ainda jovem, em Chaves, se sente atraído pela figura do que é um pintor e pela pintura em si. Foi nesta altura que fez as suas primeiras pinturas a óleo, ainda de registo figurativo, que temos aqui na exposição. São captações da paisagem urbana de Chaves e arredores, de onde ele era natural», enquadrou Rita Maia Gomes.

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O visitante ficará ainda a conhecer «o percurso que ele faz até à descoberta e à maturidade que ele adquire dentro do abstracionismo geométrico. E é essa referência que nós nos habituámos a pensar quando pensamos em Nadir, porque ele é de facto essa figura incontornável do abstracionismo geométrico, onde conseguiu um lugar pioneiro reconhecido a nível internacional».

Na mostra, é focado «esse percurso desde a descoberta figurativa até à entrada no abstracionismo geométrico e até à consagração em Paris, onde a obra dele é reconhecida como sendo pioneira e de vanguarda. A exposição termina cronologicamente em 1959, quando há esse reconhecimento internacional».

«O título da exposição, Nadir Afonso: A irresistível paixão pela pintura, marca aquilo que eu quis tratar na exposição, que é: temos um homem, um jovem que cedo percebe que aquilo que quer fazer é pintura. Sai de Chaves, vai para o Porto, para a Escola de Belas Artes, com o intuito de estudar pintura, mas, quando chega à escola, há um funcionário – esta é uma história que ele próprio conta – que lhe diz: “mas o senhor vai-se inscrever em pintura? Isso não tem saída”. Portanto, alerta-o para a dificuldade de sobrevivência enquanto pintor e convence-o a inscrever-se em arquitetura», contou.

Na exposição que foi inaugurada no dia 8, na capital algarvia, essa história é contada em obras e através de legendas, que nos permitem perceber a evolução deste artista, até chegarmos a uma das suas obras mais emblemáticas, que é a peça que encerra a exposição.

«A exposição termina em 1959, que é o momento em que ele expõe, pela primeira vez, a nível individual, uma exposição antológica em Paris, que é um dos centros da arte internacional, naquela altura», revelou a curadora.

Entre as obras então expostas, contava-se «uma peça de vanguarda que ele produz, que é a Máquina Cinética», que está agora em Faro, «posicionada no altar da Capela, estrategicamente, por causa da consagração internacional que ele consegue com aquele objeto».

Esta peça explora «a ideia da pintura em movimento, do quadro que não tem fim. Temos aqui um objeto muito especial, que já não era exposto há muito tempo. Esta Máquina Cénica ainda funciona e na exposição vai estar a funcionar durante curtos espaços de tempo, para os visitantes terem esse prazer e esse deleite de ver o objeto em plena ação».

Apesar de ter já «70 e poucos anos» e de ter sofrido «muitas vicissitudes e circunstâncias até da vida do Nadir, que foi uma vida de movimentações», a obra ainda funciona. «É muito importante para nós tê-la a funcionar aqui nesta exposição».

Parte das obras expostas, como é o caso da Máquina Cénica, são objetos «que saem pouco, circulam pouco e são pouco mostrados, até pela sua fragilidade».

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«É importante dizer que esta exposição reúne um número considerável de obras provenientes dos espólios particulares, de colecionadores particulares. Portanto, é uma oportunidade das pessoas virem ver obras que normalmente não estão acessíveis. Aqui vão estar em articulação, conviver com outras peças e sair desse sítio de exclusividade que é a casa do colecionador. E são peças de muito boa qualidade e honram muito esta exposição».

Esta diversidade de proveniência permitiu, em alguns casos, construir narrativas expositivas que seriam impossíveis, de outra forma. Um dos elementos diferenciadores desta mostra é a exibição de esboços, esquissos e diferentes versões de trabalho de peças conhecidas de Nadir Afonso que podem ser vistas na exposição. Estas diferentes peças, apesar de relacionadas, muitas vezes pertencem a coleções distintas.

«Esta curadoria, que é uma curadoria corajosa da parte de Rita, permite-nos conhecer determinadas facetas do Nadir que normalmente não são exploradas. As exposições de Nadir Afonso que nós estávamos habituados a ver, nos últimos anos, não são iguais a esta. E esse foi um desafio que nós lançámos à Rita e que a Rita também nos propôs, que era mostrar facetas distintas de um Nadir, que habitualmente não eram apresentadas», enquadrou, por seu lado, Marco Lopes, diretor do Museu.

Defendendo que esta foi «uma aposta arrojada, ambiciosa, que vem dentro daquilo que é a linha de programação e a linha da agenda expositiva do Museu Municipal», Marco Lopes lembra que, nos últimos anos, este espaço cultural tem acolhido «um rol de artistas», desde «aqueles que são referências nacionais até aqueles que, não sendo muito conhecidos, são importantes aqui no meio artístico, local e regional. Há espaço para todos».

O mesmo responsável salientou a aposta que o museu farense tem feito de «descentralização cultural do acesso a serviços de grande qualidade, sejam eles particulares ou de instituições públicas. É aquilo que nós temos feito afincadamente. E esta exposição é um bom exemplo disso. Há aqui obras que são inéditas, há obras que não eram expostas há mais de 20 ou 30 anos e há obras que simplesmente não se juntavam e que agora permitem ter um olhar distinto» sobre a obra do artista.

Para conseguir montar esta mostra, foram preciso muito tempo, estudo e dedicação.

«Esta exposição está a ser preparada há bastante tempo. Foi uma exposição complexa e muito trabalhosa, porque envolve um grande número de obras, envolve um grande número de emprestadores. Em termos logísticos, foi um trabalho de grande monta aqui do Museu Municipal de Faro. E foi um projeto muito audaz que o diretor do museu, desde o início, aceitou e abraçou», elogiou Rita Maia Gomes.

«O Museu Municipal de Faro tem premiado o Algarve e o País com exposições de grande qualidade, com projetos de grande importância para a história da arte portuguesa. E esta exposição inscreve-se nesse alinhamento que o diretor tem tido para a programação expositiva. Está aqui muito bem encaixada e é, de facto, uma exposição de referência nacional».

«É a primeira vez que o Nadir é exposto no Algarve, mas, na verdade, o que nós queremos é que as pessoas em todo o país tenham curiosidade e sintam vontade de vir aqui ver esta exposição que é, de facto, uma exposição de envergadura nacional», reforçou.

Esta convicção levou a curadora da exposição a um desabafo.

«Devo dizer que quando apresentei o projeto a muitos dos emprestadores, dos colecionadores particulares, houve alguns que não emprestaram obras para esta exposição, porque ainda existe algum preconceito sobre os museus municipais. A primeira pergunta que muitos me fizeram foi: “mas porquê uma exposição do Nadir em Faro?” E a minha resposta foi: “porque não?” Está aqui em Faro, está maravilhosamente bem e esse preconceito não tem razão de ser», defendeu.

Rita Maia Gomes foi mesmo mais longe: «É uma honra para o Museu de Faro acolher e produzir uma exposição destas. O museu produziu esta exposição porque o Nadir Afonso é um artista de craveira internacional e uma figura incontornável da arte portuguesa do século XX. Mas ouso dizer que também é uma honra para a obra do Nadir Afonso estar aqui neste sítio, neste museu, que é um dos museus mais bonitos que eu conheço. Este claustro, este convento do século XVI… a luz, a harmonia, o equilíbrio que este espaço tem, tem tudo a ver com a obra do Nadir Afonso, com a sua busca precisamente por essa harmonia, pelo equilíbrio, pela forma certa. Eles casam muito bem, é um casamento perfeito!».

Sul Informação

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