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Orwell em 2024, a distopia tecno-digital

Caro leitor, logo que tiver oportunidade faça uma breve incursão por quatro livros fundamentais que marcaram a história do século XX. São eles, de Oswald Spengler, A decadência do Ocidente, de 1918, de George Orwell, 1984, publicado em 1949, de Francis Fukuyama, O fim da história e o Último Homem, de 1992, de Shoshana Zuboff, A era do capitalismo da vigilância, publicado em 2019.

Estamos em 2024 e todos eles, cada um a seu modo, são preciosos para entender o nosso tempo, o tempo do modernismo tecno-digital e, quem sabe, o tempo de uma distopia tecno-digital à maneira de Orwell. Por isso, trago a distopia de Orwell até 2024.

Neste pós-modernismo tecno-digital em que vivemos, a velocidade é uma ditadura e já ninguém sabe muito bem onde colocar os limites do razoável e do bom senso.

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Não é, aliás, por acaso, que o lema vencedor de Évora Capital da Cultura 2027 se intitula o vagar e a arte da existência.

De facto, é muito difícil de entender porque se investe tanto em tecnologia e tão pouco em humanidade. No preciso momento em que se assiste à banalização do mal e à digitalização das guerras, só falta mesmo, da parte do Grande Irmão, uma novilíngua, uma máquina semântica e o ministério da verdade para lidar com o mercado da desinformação e contrainformação que inunda o espaço público.

Vivemos uma década de grandes transições e uma mudança civilizacional de grande alcance, eu diria uma mudança paradigmática onde se confrontam todos os dias os valores e os interesses corporativos que informam a distopia tecnológica da sociedade algorítmica e os valores, princípios e direitos que informam a utopia humanista e democrática representativa da comunidade de cidadãos livres.

Vejamos algumas linhas de força desta distopia orwelliana:

1) A tecnologia é fonte de velocidade, a velocidade é fonte de poder, o poder inibe o pensamento que delega, cada vez mais, nas máquinas inteligentes e nos algoritmos;

2) A cada velocidade corresponde uma leitura ou perceção da realidade que variam muito com a compressão do espaço-tempo onde a imagem prevalece sobre a linguagem, o reflexo sobre a reflexão e a emoção sobre a opinião;

3) Os écrans enlouquecem-nos, são uma espécie de droga eletrónica da colónia virtual para onde todos estamos a emigrar, eles prevalecem sobre a oralidade e a escrita enquanto o fluxo de imagens e emoções paralisa o espectador;

4) Na compressão espaço-tempo da distopia tecnológica a forma prevalece sobre o conteúdo, o instantâneo prevalece sobre o passado e o futuro, enquanto a cultura da urgência e da emergência impedem a empatia e a alteridade;

5) O progresso tecnológico dissimula os acidentes da tecnologia, mas o risco de colisão e o acidente estão iminentes, a sociedade torna-se vigilante para prevenir as surpresas e os acidentes inesperados, as perceções do medo crescem e são superiores às ameaças;

6) O paradoxo acentua-se, uma atenção urgente, uma distração permanente; a segurança no espaço público declina, há uma deslocação para a miniaturização da política, a automação e o policiamento, ninguém confia em ninguém, crescem a internet dos objetos, a televigilância, a rastreabilidade e a ocultação do real em ambientes simulados;

7) A aceleração da velocidade atinge desigualmente os subsistemas sociais e provoca desconexão e caos; precisamos de reinventar ritmos de velocidade para cada setor, se quisermos, uma inteligência do movimento, uma economia política da velocidade para que todos os subsistemas sociais possam comunicar entre si;

8) Os direitos humanos estão ameaçados pela compressão do espaço-tempo, cheios de tecnologia, vazios de humanidade; o crescimento da digitalização, realidade aumentada e virtual, internet dos objetos, automação, inteligência artificial e ambientes simulados, criam uma realidade paralela, uma second life que põe em risco a nossa sanidade mental;

9) Um Estado democrático cada vez mais vigilante e securitário, uma sociedade civil cada vez mais para-civil, bancos de dados que mais parecem panóticos digitais, litígios permanentes sobre a violação e o uso abusivo da nossa privacidade e segurança pessoais;

10) Perante a iminência de uma distopia tecnológica temos de preservar, a todo o custo, a autonomia e independência das ciências, da arte e da cultura e fazer um apelo especial à investigação e desenvolvimento das ciências humanas e sociais neste princípio do século para que nos ilumine o caminho face à hegemonia oligopolista das grandes tecnológicas e nos prepare para a grande transformação à maneira de Karl Polanyi (1944).

 

Nota Final

A menos de oito dias das eleições americanas, estamos à beira de uma distopia tecno-digital onde a estrela maior é o dono da rede social X.

ste é, pois, um aviso à navegação, olhe-se ao espelho, desacelere e faça uma revisão da matéria dada.

 

 

 

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