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O primeiro número da «Zeus. Revista de Cultura Viageira» vai ser apresentado na Biblioteca Municipal Manuel Teixeira Gomes, em Portimão, no sábado, dia 9 de Novembro, às 16h00.

A revista, com direção de António Cabrita e João B. Ventura e editada pelo Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, tem 186 páginas e grafismo do moçambicano Mélio Tinga.

Dois amigos, António Cabrita, desde Maputo, e João Ventura, em Portimão, que diariamente trocam pontos de vista sobre livros, viagens, arte e cinema, e sobre os vários e comuns prazeres de “outrar-se”, resolveram que as ideias que iam partilhando precisavam de serem concretizadas numa aventura que permitisse agregar outros “pontos de vista” no sulco da rota necessária a reencontrar os caminhos do Outro, nesta época que tende ao reducionismo do pensamento binário, e empreenderam fazer uma revista.

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É uma revista que, através da literatura, dos relatos de viagem e dos motivos da arte, celebra essa reabilitação do Outro como “aquele que não sobra de nós, mas antes nos acrescenta facetas que nos enriquecem, iluminando de maneira festiva o inacabamento que somos”.

O centenário de elevação de Vila Nova de Portimão a cidade, promulgado por decreto pelo, então, Presidente da República, e um dos maiores viajantes e escritores do panorama português, Manuel Teixeira Gomes, impôs-se como pretexto para o arranque.

Daí que este primeiro número conte com o apoio do Município de Portimão. “Esboça-se, aliás, neste gesto, uma outra vocação associada ao conceito da Zeus: descentralizar, essa flexão dos ventos que nos traz um olhar novo”, salientam António Cabrita e João B. Ventura.

Zeus era o nome do cargueiro holandês em que o escritor e “dandy” português zarpou, depois de desiludido com a política no rincão nacional.

Apresentou a sua demissão da presidência da nação, a 7 de Dezembro de 1925, fez as malas e partiu dez dias depois, da doca dos submarinos, em Lisboa, para nunca mais voltar. Sempre errante, à medida das suas viagens, fez crescer a sua esplêndida obra.

O itinerário dos dez anos que lhe restaram de vida e a sua vida ambulante pelo Mediterrâneo é um dos pratos fortes deste primeiro número da Zeus, sob a pena da historiadora Maria da Graça Ventura.

 

Sul Informação

 

Carlos Alberto Osório faz o relato desse embarque e, numa repescada reportagem de época, Norberto Lopes lembra os últimos anos dessa excelsa figura em Bougie, na Argélia.

Destaquem-se também as viagens a Veneza, de João B. Ventura, e a viagem de bicicleta pelo Grande Sertão, seguindo as pisadas de Guimarães Rosa, do compositor e escritor brasileiro Makely Ka.

Continuando com os temas que se desenvolvem neste n.1 de Zeus, Paulo José Miranda, o primeiro prémio José Saramago, num discorrer filosófico, cartografa as miragens que toda a viagem projeta.

Num longo texto, António Cabrita apresenta o poeta-andarilho escocês, Kenneth White e a sua “geopoétique”.

Crónicas várias pontuam a revista, de Maria João Cantinho, Luís Filipe Sarmento e Luís Serpa, tomando sempre o tópico da viagem como motivação.

Não faltam igualmente a ficção e a poesia, de Pedro Teixeira Neves, também autor da capa da revista, de Dinis H. Machado e do moçambicano Florindo Mudender.

João B. Ventura e Carmen Yañez transportam-nos para os sabores gastronómicos e as degustações alcoólicas no México e na Colômbia.

“Num viés mais político, que uma revista deste nosso tempo não pode descurar”, conta ainda com uma excelente reportagem fotográfica sobre uma Ucrânia devastada, de João Porfírio, “ilustrada” pelos poemas que a russa (dissidente) Galina Rymbu, escreveu no seu diário em verso, sobre o primeiro ano da invasão que testemunhou in loco na cidade ucraniana de Lviv, aonde se havia refugiado com a família, devido à perseguição política.

E no seio da própria UE, na Grécia, Fausta Cardoso Pereira, que trabalha com crianças refugiadas, capturou a matéria prima para o seu testemunho sobre as expectativas desses jovens e os deslizes morais que a hipocrisia destes tempos débeis labora com a sua morosa burocracia e as suas indefinições de carácter político.

João B. Ventura e António Cabrita assinam as recensões finais de alguns livros.

Ambos afirmam crer que estes sejam “motivos de sobra para nos acompanhar, na sessão de apresentação desta revista urbana e cosmopolita que, pelo cultivo do seu género híbrido (onde a literatura, as artes e o pensamento se mesclam com o tema das viagens) saberá aplacar o leitor que gosta de desfrutar da divulgação de personagens e de narrativas de espectro mais alargado”.

A apresentação da Zeus estará a cargo da jornalista Elisabete Rodrigues, diretora do Sul Informação.

 


«Há um aspecto surpreendente nas narrativas do Marco Polo e que nunca é mencionado, por desconhecimento. Chamemos a esse aspecto oculto o “complexo de Marco Polo”.

O ilustre viajante veneziano ditou no cárcere as suas aventuras de viagem ao seu companheiro de cela, Rustichello da Pisa, que as fixou. Só que este, um autor de romances de cavalaria, cortesão e amante do fantástico, achava-as pouco atractivas para o público da época, visto que Marco Polo se cingia a descrições e relatos “absurdamente realistas” e decidiu, para lhes acrescentar interesse e verosimilhança, inoculá-los de alguma gordura mitológica e do bestiário maravilhoso da época.

Tudo o que é mais factual e de natureza documental em As Viagens é do próprio Marco Polo, que se revelou um repórter abnegado e escrupuloso, avant la lettre, em relação às terras que visitou, enquanto as derivas mitológicas que enquadram o livro com o contexto da sua época e as crenças de que esta padecia couberam a Rustichello da Pisa, seu transcritor e um escritor experimentado que “conhecia o seu público”.

O que é certo é que o carácter híbrido que Rustichello lhe deu defendeu o livro, tornando-o um dos maiores sucessos de sempre. A constante antropológica que o «complexo de Marco Polo» ilustra, na sua sábia dosagem de imaginário e de documentalismo, é ainda hoje um dos receituários mais eficazes, quer no domínio da literatura, quer na motivação para as viagens, pois já ninguém viaja sem um bornal de referências que lhe valide, ora a reapropriação emotiva das emoções descritas por outrem, ora a construção dum “ponto de fuga” pela heteronomia.

Ou seja, tanto as viagens como a literatura, como foi acentuado pelo encenador Peter Brook, procuram combinar a proximidade do dia a dia com a distância do mito – porque sem essa proximidade não conseguimos relacionar-nos e sem essa distância não conseguimos maravilhar-nos.

Cremos ser nesta esteira que navegam os critérios editoriais desta revista, Zeus».

 

 

 

 

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