«Como é que se explica que uma família pobre leve cerca de cinco gerações a sair dessa condição, mesmo nos tempos atuais onde as ajudas sociais são maiores? Afinal, será que podemos afirmar que existe uma educação para a Pobreza? Ou estará a pobreza mais normalizada do que deveria (dentro e fora das famílias que se encontram pobres)?». Estas e outras questões vão ser debatidas numa ação de sensibilização sobre o «Estigma da Pobreza», agendada para 21 de Outubro, na Universidade do Algarve.
A ação decorre no campus da Penha, na Escola Superior de Educação e Comunicação, entre as 17h30 e as 20h30, e é de entrada gratuita.
A sessão será dinamizada pelo núcleo distrital de Faro da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN), pela Associação para o Desenvolvimento Pessoal e Comunitário «ATREVO», a «Mandacaru», Cooperativa de Intervenção social e cultural e pelo projeto de comunicação «MUROS: Imaginamos a Eurorregião Alentejo, Algarve e Andaluzia».
A ideia é ouvir a comunidade e refletir sobre os dois lados que se misturam para demonstrar como é preciso anular essa divisão para que “todos que fazemos parte do problema imaginemos em conjunto as soluções; através de uma escuta atenta e ativa e de uma filosofia de base comunitária”.
Segundo Dionísia Pedro, responsável no Núcleo Distrital do Algarve da EAPN, «precisamos de mudar de paradigma, o que implica, no nosso entender, o reconhecimento da pobreza como um fenómeno estrutural e multidimensional, exigindo, por isso, intervenções transversais e integradas tanto dos poderes públicos, como de toda a sociedade, incluindo as próprias pessoas em situação de pobreza e exclusão».
Sofia Vargues, membro da ATREVO, corrobora e frisa que a pobreza envolve várias dimensões e manifesta-se de inúmeras formas.
Para esta associaçãoé importante «renovar o compromiso da tomada de consciência de cada um de nós, no meio que nos rodeia, posicionando-nos face a um mundo que queremos ver mais justo, empático e humanizado».
Por seu turno, Laure De Witte, da Mandacaru, lembra que «a pobreza é política. A pobreza é sistémica. A pobreza é estrutural. A pobreza é uma questão de injustiça. A pobreza não é uma questão de resilência. Não pode haver paz com pobreza. A pobreza é reversível».
Mas «estaremos, na realidade, preparados para uma sociedade sem pobreza; se isso significa abolir um estigma que tem sido tão prevalente e tão arrasador e que muitas vezes existe em nós de forma inconsciente!?», questiona Susana Helena de Sousa, diretora da publicação periódica «MUROS».
A organização está convicta que é preciso fazer algo com o foco intenso no estigma que existe sobre as pessoas em condição de pobreza, considerando que é possível criar uma consciência coletiva diferente.
«Nas escolas, nas instituições e nas comunidades tem de haver uma maior empatia para a diferença e para a equidade. E essa consciência tem de passar das palavras aos atos. Contudo, para isso é preciso sair da nossa zona de conforto e, muitas vezes, enfrentar o medo pelo desconhecido», defende Susana H. de Sousa.
Em nota, a organização recorda ainda que o Algarve é uma «região rica» com a taxa de pobreza acima da média nacional.