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No fundo do mar algarvio, americanos procuram restos mortais de militares da II Guerra

Naquele PB4Y-1, uma versão americana do bombardeiro B-24, seguiam 11 homens. Quando voava, ao largo de Faro, em plena II Guerra Mundial, o avião ficou sem combustível e deu-se a tragédia: a aeronave caiu e despenhou-se no mar. Seis dos tripulantes foram salvos por três heroicos pescadores algarvios, mas dos outros cinco nada se sabe. Os corpos nunca foram encontrados, mas, quase 81 anos depois, há uma missão a decorrer para tentar resgatar eventuais restos mortais dos aviadores desaparecidos. 

A história, apesar de conhecida – e devemo-lo ao jornalista algarvio Carlos Guerreiro e ao livro “Aterrem em Portugal” – merece continuar a ser contada.

Estávamos em Novembro de 1943, em plena II Guerra Mundial. Portugal era, no papel, um país neutral, mas que não escapou totalmente ao conflito. Exemplo disso foram as batalhas aéreas que se deram nos céus do nosso país, bem como a própria história deste PB4Y-1.

vila do bispo

O avião, da Marinha Americana, tinha partido da base de Port Lyautey, em Marrocos, mas perdeu-se, ficou sem combustível e acabou por se despenhar, a 1,2 milhas da ilha de Faro, depois de um dia de patrulha de submarinos e barcos alemães.

O acidente ficaria na história, ainda por outra razão: nessa noite de Novembro de 1943, os algarvios Jaime Nunes, José e Manuel Mascarenhas estavam à pesca perto do local onde caiu o bombardeiro americano.

Apesar do susto inicial, devido ao fumo e às faíscas, decidiram que tinham de ajudar os americanos.

No pequeno barco a remos em que seguiam, conseguiram colocar seis dos tripulantes. Esperaram pela maré até que acostaram no cais de Faro, já na madrugada de 1 de Dezembro.

Os destroços do avião haviam de ser encontrados, no fundo de água, a 20 metros de profundidade, por José Vieira, muitos anos depois.

 

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E as outras seis pessoas? O que lhes aconteceu? É esta parte da história que se quer (agora) contar.

Desde 1 de Setembro que um grupo de militares norte-americanos, em colaboração com outras entidades estrangeiras e nacionais, está numa expedição subaquática, no local onde foi encontrado o bombardeiro.

O objetivo é só um: tentar encontrar «restos humanos» dos aviadores desaparecidos, conta o arqueólogo subaquático Pedro Caleja.

É ele que tem sido o elo de ligação entre os americanos e as entidades portuguesas, tendo feito, por exemplo, um plano de trabalhos.

O Sul Informação encontrou-se com ele no final de mais um dia passado no mar, ao largo de Faro, para onde saem muito cedo. No total, passam cerca de 10 horas em missão.

«Tudo isto partiu de um convite, por parte de uma associação sem fins lucrativos que é a Ships of Discovery. Os trabalhos são feitos em colaboração com a DPAA (Defense POW/ MIA Accounting Agency mission) que é um departamento do Estado Americano que trata de assuntos relacionados com desaparecidos em combate, de prisioneiros de guerra», explica.

Há já «muitos anos» que este departamento sabe que os destroços do avião foram encontrados – daí que esta não seja a primeira missão em Portugal.

«O que muda é que esta é a primeira vez que se avançou para uma escavação, o que implica outro cuidado e dura mais tempo. Foram feitos também mais trabalhos geofísicos, alargando a área para ver se há mais destroços ou não da zona da cauda», explica Pedro Caleja.

A equipa está na zona frontal da asa, entre os motores, e, segundo o arqueólogo, a «escavação está a correr bem».

«A política da DPAA não nos permite dizer se foi encontrado algo ou não. Há toda uma série de trâmites que servem também para não serem criadas falsas expetativas. Na eventualidade de se encontrar algo, as primeiras pessoas contactadas são as famílias, o que, na minha opinião, faz todo o sentido», acrescenta.

O certo é que esta tem sido uma experiência «muito boa» para o arqueólogo.

 

 

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«Eu gosto muito deste tema da arqueologia contemporânea: é um património que nos é mais próximo. Acho que esta questão dos restos mortais dos nossos soldados, a identificação, é algo que nunca foi discutido na nossa sociedade e isso faz falta», considera.

Em toda esta campanha, o grupo de cerca de 20 pessoas tem tido uma embarcação de apoio, operada pela empresa Cruzeiros da Oura. Da equipa fazem parte pessoas que já participaram noutras expedições relativas à II Guerra Mundial ou em sítios associados às Guerras da Correia e do Vietname.

O trabalho no Algarve acabará esta sexta-feira, 20 de Setembro, mas para o dia seguinte está marcado um momento muito especial.

A partir das 10h30, decorrerá uma conferência, na Câmara de Faro, sobre a história deste avião americano.

Os descendentes dos pescadores que resgataram seis dos aviadores e os familiares de um dos tripulantes resgatados estarão presentes, bem como a equipa multidisciplinar de investigadores norte-americanos e portugueses que investigaram a aeronave perdida.

Durante este encontro será abordado o contexto histórico do acidente a partir da perspectiva da comunidade local e dos historiadores e a equipe de pesquisadores descreverá as suas investigações no local.

E mais: no final, haverá uma visita ao memorial que Faro ergueu, em Setembro de 2022, no Largo de São Francisco, e que homenageia a história deste avião – e dos pescadores que resgatam os militares americanos.

 

 

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