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Mário Constantino Gonçalves Correia, ou simplesmente Márinho Barbeiro, como é conhecido pelos armacenenses, comemora 50 anos de abertura da sua barbearia, em Armação de Pêra.

Quando se entra pelo estabelecimento depois da hora de almoço não se encontra cliente algum, por isso houve tempo para conversar sobre a história de como se tornou barbeiro.

Márinho, o mais velho de cinco irmãos, sendo eles o próprio Mário, Alexandrina, Luís, Sílvia e Sofia, veio com a família de Porches para Armação de Pêra, quando ainda tinha cinco anos.

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Frequentou a escola primária, mas chegou a uma altura em que não queria seguir mais os estudos.

Márinho conta ao Sul Informação que não sabia muito bem o caminho a seguir, por isso o pai, que também se chamava Mário, levou-o para trabalhar na sua barbearia (onde é hoje o café do Amadeu, localizado na mesma zona). Havia dias em que o trabalho não o segurava, preferindo ir ter com os amigos.

Por haver muitos episódios de fuga ao trabalho, o pai mandou-o para Silves para trabalhar com um colega. O objetivo era aprender mais sobre a profissão de barbeiro.

O caminho de ida e volta de bicicleta para a cidade silvense começou aos 14 e durou dois anos.

Aos 18 anos, quando já tinha aprendido algumas técnicas, voltou para a barbearia do pai, onde esteve mais dois até ir para a tropa. Mesmo fora da barbearia da família, não escapou a dar um corte de cabelo a todos os colegas da tropa.

De regresso a Armação de Pêra, voltou mais uma vez para a barbearia do pai, durante dois meses.

Em Dezembro de 1974, oito meses depois do povo português ter lutado por um sim à liberdade e à democracia, Márinho decidiu abrir a sua própria barbearia, negócio este que perdura até hoje, na Rua Dr. Martinho Simões, em Armação de Pêra.

 

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Mário filho e, em baixo, o Mário pai – Foto: Cátia Rodrigues | Sul Informação

 

Atualmente, aos 72 anos, recorda-se com orgulho da sua história com o pai. Com mais de 70 anos de trabalho, considera a sua como a mais antiga barbearia de Armação de Pêra. É que esta nunca fechou, ao contrário das quatro outras barbearias que havia na localidade.

Mesmo sendo o mais antigo barbeiro da vila, revela ainda aprender com os clientes, nunca esquecendo as bases.

O pai Mário trabalhou até aos 84 anos, acabando por falecer aos 91. Já o filho pretende alcançar os mesmos anos de trabalho, apesar de ainda «faltar um bocadinho».

«Eu tenho esta idade. Não tenho pensado em desistir, já cheguei até aqui. Vou trabalhar até poder», garante Márinho.

Na altura em que abriu a “casa”, recorda-se de Armação como uma vila de terrenos, vinhas, onde só havia o Hotel Garbe (atual Holiday Inn) e pouco mais.

«O Hotel Garbe era tudo. O resto era só terrenos, não havia mais nada. Nesse tempo, esta rua era a principal, faziam o Mercado no fim da rua, e aqui ao lado, já era o Mercado do Tito, por exemplo. Aqui havia as vendas e as barbearias», recorda Márinho.

Trabalhou sempre todos os dias, de segunda a domingo, e antigamente não havia tempo para almoçar nem para sair do local de trabalho. Hoje, reformado, faz disto um hobby, não se preocupando com o número de clientes que serve.

«Se fosse nesse tempo, estava aqui cheia de pessoas, agora está mais calmo», admite Márinho, «Mas tem dias… Para mim é o suficiente, não preciso de mais».

 

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Notícia do “Márinho” no jornal local “Notícias do Mar” – Foto: Cátia Rodrigues | Sul Informação

 

Apesar de ter menos trabalho, o hábito continua a ser igual. Levanta-se todos os dias cedo, faz uma caminhada de oito quilómetros e vai comprar o jornal às 7 da manhã. Na barbearia, atende os clientes até às 20 horas.

No início da sua carreira, eram muitos os clientes que vinham da barbearia do pai, mas houve outros que tinham a curiosidade de entrar e de experimentar serem atendidos pelo filho Mário. Os clientes eram de Armação de Pêra e arredores, tal como Alcantarilha, Pêra e Silves.

Apesar de ter trabalhado a maior parte do tempo sozinho, também teve os colegas. Recorda-se que, uma vez, empregou uma senhora que não sabia fazer as tarefas de cortar a barba e o cabelo, então teve que lhe ensinar. Outra vez empregou o Armando, um amigo de longa data, mas acabou por incentivá-lo a criar o seu próprio negócio.

Márinho faz muitas formações para trazer sempre coisas novas para os clientes, mas nunca deixou as técnicas antigas do corte da barba “à navalha” ou mesmo o corte “à inglesa curta”, todo raspadinho de lado e com a “pala” por cima.

Há sempre clientes novos, mas os fiéis nunca deixaram de visitá-lo, chamando gerações e gerações para irem lá cortar cabelo ou barba.

O seu negócio tem 50 anos e a realidade é que nunca precisou de publicidade para o anunciar. «Os clientes conquistam-se. Nunca fiz propaganda de nada. O melhor é as pessoas que falam boca a boca, dizem aos outros», conta o barbeiro Márinho.

Este meio século de carreira foi marcado por muitas histórias, mas o que mantém no seu dia a dia é a paixão que tem pelo seu trabalho e a motivação para continuar até não poder mais, tal como o pai e o avô fizeram. O filho de Mário Correia não seguiu as suas pisadas, mas não deixa de o apoiar e de continuar a ser tratado por Márinho, por quem se cruza com ele na rua.

Apesar de morar no Enxerim há 20 anos, nunca pensou em deixar o seu negócio em Armação de Pêra, porque sempre se irá considerar residente da vila.

 

 

 

Fotos e texto de: Cátia Rodrigues, que é finalista do Mestrado em Comunicação e Media Digitais da Universidade do Algarve e está a fazer o seu estágio curricular no Sul Informação.

 

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