Riqueza Desprezada – 8. Mariscos: toxinas ou tóxicos

Somos um povo esforçado, obediente, dócil, ideal para os piratas e predadores imporem aqui o que queiram.

Em vários artigos, tenho afirmado o enorme potencial que temos em capturar mais pescado e mariscos, sobretudo para os exportar. Isso nos daria uns 50 mil empregos, muito necessitados.

Publiquei isso também em Inglês, que chegou a Bruxelas e Frankfurt e o lóbi interpretou que, se outro ministro que não a das Finanças, for ouvido na próxima legislatura, os protegidos do lóbi enfrentarão a forte concorrência portuguesa.

Margareth Tatcher e Bush pai desregularam as finanças. A troika Tony Blair, Bush filho e Merkel criaram o vale tudo dos ativos tóxicos, ou seja, a especulação financeira, sem investimentos produtivos, que trouxe a recessão em 2008. O Nobel da Economia, Joseph Stiglitz já a previra em 2002 e este autor em 2004. A manipulação das bolsas de valores repete-se a cada oito a dez anos, de forma previsível.

Com medo da nossa potencial concorrência em mariscos, pescado e não só, o lóbi de Bruxelas inventou que o marisco algarvio tinha toxinas a mais e fez o “bom aluno” português cortar em 90% a coleta dos melhores mariscos de toda a UE.

Pois aqui são muitos milhares de mariscadores, que eles lá não conseguem dominar, enquanto em França e algures eles estão em poucas grandes cooperativas ou empresas que, para não perderem umas migalhas de uns fundos, aceitam os ditames daqueles que nos trouxeram essa inconcebível recessão.

Os que não morreram com os tóxicos serão eliminados com a peça das toxinas. É um drama, como o grego, berço de uma democracia, hoje asfixiada, tornada um espetáculo para televisão; onde os atores, bem dirigidos, com boa apresentação, dizem o que os lóbis desejam, em transmissão direta. Um triste drama para nós, belo para eles.

Já há muitos que querem governos sem partidos, não só em Portugal. Ou mudanças radicais no sistema eleitoral, como os novos partidos, «Nós – Cidadãos», ou o independente Henrique Neto.

E nós o que fazemos, refilamos e nem sequer temos a coragem de denunciar os abusos. Como explicar que os escândalos do BPN, BES, Lena, conhecidos desde 2008, só agora estão a ser averiguados?

É para calar ou para mudar?

Autor: Jack Soifer é consultor internacional, autor dos livros «Empreender Turismo de Natureza», «Como Sair da Crise», «Portugal Rural», «Algarve/Alentejo – My Love» e «Portugal Pós-Troika»