





















































































Passaram quase 30 anos – 29 para ser mais exato -, e é curioso olhar para as semelhanças entre as cerimónias do 10 de Junho de 1996 e as deste ano que ontem terminaram. Os protagonistas mudaram, mas o que foi dito tanto por Jorge Sampaio como por Marcelo Rebelo de Sousa, em Lagos, tem evidentes parecenças. A começar pelos «povos irmãos».
As grandes diferenças são mesmo do ponto de vista mais formal: a maneira de celebrar o 10 de Junho foi evoluindo ao longo dos anos e o modelo de cerimónia a que se assistiu ontem, em Lagos, foi diferente desse de 1996.
Houve uma alteração de monta: de uma “tenda”, onde os diversos convidados se juntaram em 1996, passou-se para uma cerimónia mais aberta, virada para a rua, e a que qualquer pessoa pôde assistir.
Os principais protagonistas, como seria de esperar, também eram outros: Jorge Sampaio era o Presidente da República, eleito há poucos meses, António Guterres o primeiro-ministro e António Almeida Santos o presidente da Assembleia da República: todos, de resto, históricos do Partido Socialista (PS).
Durão Barroso, que seria primeiro-ministro mais tarde, estava na primeira fila e o presidente da Comissão Organizadora foi António Alçada Batista.
Ontem, em Lagos, o elenco foi outro: Marcelo como Presidente da República, Luís Montenegro como primeiro-ministro e José Pedro Aguiar-Branco, como presidente da AR. Neste caso, todos vindos do PSD. Lídia Jorge, escritora algarvia, foi a escolhida para a Comissão Organizadora e fez um discurso que, por certo, ficará na história dos 10 de Junho.
Mas foquemo-nos em Marcelo e em Sampaio: no seu primeiro 10 de Junho como Chefe de Estado, Jorge Sampaio escolheu falar dos «povos irmãos de Portugal», nomeadamente Timor-Leste que, na altura, resistia «heroicamente» à violência da Indonésia.
Irmãos, disse Sampaio, «pela história, pelo convício secular, pelo afeto, pelo entendimento e pela língua», acrescentou, aludindo também à criação, que seria efetivada daí a pouco tempo, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP).
29 anos depois, Marcelo também abordou a mesma questão: falou dos vários povos que passaram por Portugal – e por Lagos: «gregos, fenícios, mouros, germanos, nórdicos, judeus, africanos, latino-americanos e orientais».
A longe enumeração tinha um outro significado: serviu como mote para o atual Presidente deixar a maior mensagem de todo o discurso. Ao recordar «esses povos e muito mais» e a «mistura» -, Marcelo rematou: «não há quem possa dizer que é mais puro e mais português do que qualquer outro».
Mas ambos os discursos tiveram uma boa parte dedicada ao presente: Sampaio lembrou como a democracia, em 1996, procurava «novas formas de participação nas decisões e meios de aproximação entre os eleitores e os seus representantes».
É que, defendeu, só com uma «maior abertura das instituições» há uma «consequente ligação às pessoas, à vida quotidiana e aos problemas concretos».
De certa maneira, foi também essa a mensagem de Marcelo Rebelo de Sousa, quando aproveitou para abordar, ontem, a necessidade de «cuidar dos que ficaram ou estão a ficar para trás, entre dois e três milhões, sempre, regime após regime».
«Temos o dever de nos recriar, de nos ultrapassar, cuidar melhor da nossa gente», disse, perante as milhares de pessoas que encheram a Avenida dos Descobrimentos, em Lagos.
Foi também a elas que se dirigiu quando a cerimónia oficial acabou. Houve muitas selfies, gritos por Marcelo e também alguns agradecimentos por Lagos ter acolhido, pela segunda vez, as comemorações do 10 de Junho.
Não há duas sem três?
Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação
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