Nos últimos anos, temos assistido a um avanço significativo na capacidade tecnológica do Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas também a uma crescente consciencialização sobre as desigualdades no acesso aos cuidados de saúde, especialmente em regiões mais periféricas.
Como estudante de medicina e investigador na área das tecnologias aplicadas à saúde, acompanho com entusiasmo e sentido crítico os esforços institucionais que procuram aproximar o diagnóstico avançado das populações.
Um exemplo paradigmático deste esforço é o novo projeto da Unidade Local de Saúde do Algarve (ULS Algarve), que inclui, entre outras medidas, a aquisição de um equipamento de Tomografia por Emissão de Positrões (PET-TAC) – o primeiro da região.
O PET-TAC é uma ferramenta avançada de imagem médica que combina dois exames complementares: a Tomografia por Emissão de Positrões (PET), que deteta alterações metabólicas nas células, e a Tomografia Axial Computorizada (TAC), que fornece imagens anatómicas detalhadas.
Juntas, estas técnicas oferecem uma visão precisa da localização e da atividade tumoral no organismo, sendo particularmente úteis na deteção precoce do cancro, no estadiamento da doença e na avaliação da resposta ao tratamento.
Até agora, os doentes oncológicos do Algarve viam-se privados de uma solução regional, sendo assim necessárias longas deslocações.
Estas deslocações não só implicam custos logísticos e emocionais significativos, como também introduzem atrasos críticos no processo de diagnóstico e tratamento, um fator que pode comprometer o prognóstico.
A instalação de um PET-TAC em Loulé, no âmbito de uma parceria estratégica entre a ULS Algarve, o Município de Loulé e o Algarve Biomedical Center (ABC), representa um avanço real e necessário.
A candidatura apresentada ao programa PO Algarve 2030, aliada ao financiamento do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência), totaliza cerca de 17 milhões de euros em investimento, dos quais 8 milhões já estão assegurados.
Este projeto não se limita à instalação do PET-TAC. Pretende criar uma rede integrada de diagnóstico e tratamento oncológico, envolvendo não só os hospitais de Faro, Portimão e Lagos, mas também centros de saúde em Silves, Albufeira, Olhão e Tavira.
Este reforço da rede pública de saúde tem uma ambição clara: superar as assimetrias territoriais no acesso a cuidados de saúde oncológicos, melhorando a capacidade diagnóstica e terapêutica da região e promovendo uma abordagem verdadeiramente centrada no doente.
Assim, devemos celebrar os três pilares fundamentais no plano da ULS Algarve, saber: (1) A prevenção e diagnóstico precoce, através de rastreios, exames de imagem e análises laboratoriais mais acessíveis e eficazes; (2) O tratamento específico oncológico, que irá proporcionar terapias direcionadas, quimioterapia e radiologia de precisão, e (3) Os cuidados ao doente oncológico, com base no reforço do acompanhamento clínico, apoio psicossocial e os cuidados paliativos.
Além do PET-TAC, o projeto prevê a aquisição de um equipamento de Ressonância Magnética de 3 Teslas, uma tecnologia de última geração que permitirá exames de imagem com maior resolução e sensibilidade, e ainda, dois aparelhos de TAC com fluoroscopia, inexistentes até hoje no SNS do Algarve.
Como profissional dedicado ao desenvolvimento e aplicação de tecnologias médicas, considero estes investimentos não apenas estratégicos, mas urgentes.
Equipar as unidades de saúde com ferramentas de diagnóstico de ponta permite diagnósticos mais precoces, planos terapêuticos personalizados e uma redução significativa de erros clínicos.
Afinal todos queremos reduzir a distância ao mesmo tempo que aumentamos a equidade no acesso aos cuidados de saúde.