Tudo começou há 45 anos com apenas um homem, David Assoreira, e o seu carro. Hoje, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve tem cerca de três centenas de funcionários, muitos deles técnicos superiores em diferentes áreas, e é, entre outras coisas, a entidade a quem é confiado o “saco do dinheiro” dos Fundos Europeus para a região algarvia.

A CCDR – que, quando foi criada, era apenas CCR, Comissão de Coordenação Regional – homenageou, no passado dia 21 de Março, aquele que, para todos os efeitos, foi o seu fundador, oficialmente mandatado para o efeito.

A homenagem foi inserida na sessão de comemoração dos 45 anos da CCDR Algarve, que contou ainda com intervenções de antigos e atuais dirigentes desta entidade, com o objetivo de fazer uma reflexão sobre o desenvolvimento regional e o impacto dos fundos europeus, ao longo de quatro décadas.

Em 1980, numa altura em que trabalhava no Ministério das Finanças, David Assoreira foi desafiado pelo então ministro da Administração Interna a mudar-se para o Algarve e criar uma CCR no Algarve, que, na prática, significaria a emancipação da região algarvia da já existente Comissão de Coordenação Regional do Sul, sediada em Évora.

«Não foi uma tarefa fácil, foi um grande desafio para a minha vida profissional e pessoal. Mas outras CCR já estavam implementadas, já tinham feito algum caminho e os seus presidentes eram pessoas com muita experiência e conhecimento, com as quais aprendi imenso», revelou o primeiro presidente da CCDR, na sessão de dia 21.

«Foi um desafio que o ministro da Administração Interna me fez. Disse-me: “Preciso de um homem em quem eu tenha confiança para levar adiante uma tarefa que eu considero difícil. E como conheço o seu trabalho e a sua vida, agradecia que se disponibilizasse”», reforçou David Assoreira, em declarações ao Sul Informação, à margem da sessão.

«Eu respondi: “Vou tentar fazer o meu melhor”. E, perdoe-se-me a vaidade, mas acho que consegui (risos). Tornei algo que não existia numa grande casa de gente extraordinária, que trabalhou comigo e me ajudou imenso. Acredito que todos eles têm muito orgulho no desenvolvimento que esta casa teve», acrescentou.

A tomada de posse deu-se a 4 de Dezembro de 1980, que foi, recordou, «um dia de euforia, mas também um dia triste», uma vez que foi a data da morte de Francisco Sá Carneiro e de Adelino Amaro da Costa.

Nesses primeiros passos, David Assoreira ficou instalado «numa sala do antigo Governo Civil, no rés-do-chão».

Foi aqui que começou a montar uma estrutura que é hoje fundamental, no panorama administrativo do Algarve.

Uma das suas tarefas foi atrair quadros para esse efeito. Francisco Mendonça Pinto, antigo diretor regional da Economia, foi «o primeiro a manifestar a sua vontade de vir para o Algarve», para se juntar à CCR.

Iniciados os trabalhos de instalação da entidade, começou a surgir «muita gente curiosa. Visitámos as Câmaras, às quais pedia ajuda. E, aos poucos, fomos crescendo com pessoas de cá e outras que vieram de fora».

«Quando eu saí, a quantidade de funcionários não devia estar muito longe das que temos atualmente, cerca de 300 pessoas, incluindo os três Gabinetes de Apoio Técnico que existiram na região, que foram de grande utilidade para as Câmaras Municipais», recordou.

Ao todo, David Assoreira presidiu à CCR/CCDR durante 16 anos (1980 a 1996), período em que a CCDR foi, também, uma “escola” de futuros dirigentes regionais.

É o caso dos oradores e da própria moderadora da sessão dos 45 anos da CCDR Algarve, que falaram sobre ordenamento do território e fundos europeus, que contou com o próprio David Assoreira, mas também com José Campos Correia, ex-presidente da CCDR Algarve, e José Pacheco, atual vice-presidente da entidade, sob
a moderação de Valentina Calixto, também ela uma das antigas vice-presidentes desta instituição.

Todos eles conheceram bem o primeiro presidente da CCDR e fizeram questão de deixar elogios.

Campos Correia, por exemplo, salientou a «dignidade, dedicação e liderança» de David Assoreira, enquanto Mendonça Pinto realçou o «reconhecimento justo e merecido a um homem que teve um papel preponderante no desenvolvimento económico e no ordenamento do território na região do Algarve».

É que, como recordou o antigo diretor regional de Economia, no início dos anos 80, ainda antes da adesão de Portugal à União Europeia, o Algarve tinha carência graves, a todos os níveis.

«Faltavam infraestruturas básicas de abastecimento de água e esgotos, equipamentos públicos nas mais diferentes áreas e todos exigiam respostas rápidas, até pelo crescimento do Turismo», lembrou.

Um trunfo determinante para conseguir um desenvolvimento rápido e aproveitar da melhor maneira os primeiros Fundos Comunitários a chegar a Portugal foi o Plano de Desenvolvimento Regional iniciado em 1983, condição para se poder ir buscar dinheiro à Europa.

Nos anos em que David Assoreira dirigiu a CCDR, foram feitas importantes intervenções ao nível ambiental e das acessibilidades, mas também «da renovação urbana, da saúde e das escolas».

«Conseguimos, acima de tudo, mostrar à região, aos organismos regionais e aos municípios que era importantíssimo realizar determinadas ações e que o planeamento era fundamental para que as coisas funcionassem bem. E conseguimos!», concluiu David Assoreira.

Para homenagear este legado, a atual estutura diretiva da CCDR não só promoveu a sessão de homenagem, como decidiu atribuir o nome de David Assoreira ao auditório do edifício-sede da instituição.

O descerramento da placa alusiva a esta homenagem contou com a presença de Hélder Reis, secretário de Estado do Planeamento e Desenvolvimento Regional, e de José Apolinário, o atual presidente da CCDR Algarve.

«As organizações têm de ter memória. Nós olhamos para esta iniciativa como um ato de cultura democrática e de cultura administrativa. Desde logo para perceber como chegámos à CCDR, que foi através da autonomização de uma estrutura no Algarve. Mas também quisemos salientar a importância da governação multi-nível e o papel da capacitação e das pessoas», disse José Apolinário.

«O nosso objetivo foi deixar um reconhecimento a quem estruturou este serviço, na altura com a perspetiva do avanço imediato da Regionalização», concluiu.