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Telmo Manuel Machado Pinto tem 53 anos, é casado e pai de duas filhas e um filho. É engenheiro civil e empresário, foi jogador profissional de futebol até aos 36 anos, tendo jogado na I e II Ligas, em clubes como a União de Leiria e o Paços de Ferreira.
Ao longo dos últimos doze anos foi presidente da Junta de Freguesia de Quarteira, uma das maiores do país.
É agora o candidato do Partido Socialista à Câmara Municipal de Loulé, tentando dar seguimento aos doze anos de liderança autárquica socialista de Vítor Aleixo, que já não se pode recandidatar.
Esta é a primeira entrevista que o Sul Informação vai fazer ao longo do ano a candidatos às Câmaras e a autarcas cessantes.

Sul Informação – Quem é o Telmo Pinto?

Telmo Pinto – Eu faço parte de uma geração aqui do concelho que, aos 10 anos, começou a vir estudar para Loulé. Eu vinha às 7 e meia da manhã no autocarro e ia-me embora às 6 e meia da tarde para Quarteira. Ou seja, aos 10 anos vim para aqui, porque só havia Ciclo Preparatório em Loulé. Ainda estudei nos antigos contentores, ao lado do estádio, o que é uma referência.
Todo o concelho de Loulé estudava aqui, por isso conheço muita gente de todo o concelho. Passei aqui a minha juventude toda. E depois foi aqui também que comecei a jogar futebol. Comecei em Quarteira e depois passei para o Louletano, onde subi aos seniores. Em Quarteira só joguei na formação. E depois tornei-me profissional de futebol, mas nunca deixando os estudos. No ano em que entro para a Universidade, para Engenharia Civil à noite, estava a jogar no Louletano.
Fui jogar para Leiria, para a Académica, para o Paços de Ferreiras, Espinho, Esposende. Estive seis anos fora daqui, tentando sempre conciliar com a Universidade. Mas vim acabar o curso de Engenharia Civil no Algarve. Ainda joguei futebol mais seis anos aqui em baixo. Ou seja, no total, eu joguei no Louletano cerca de 11 anos nos seniores. E no meio fiz este percurso todo pelo Norte de Portugal. Acabei o curso com 36 anos. Sinceramente, estava todo roto, como se diz na gíria do futebol, já estava preso por arames. Foi na altura certa.
Tenho o curso de terceiro nível de treinador, mas nunca quis continuar no futebol.
Acabado o curso de Engenharia Civil, fui trabalhar para uma empresa. Passados dois anos, montei uma empresa minha, que ainda hoje tenho, com uma sócia, uma empresa de engenharia, de projetos, fiscalização de obras, de investimentos.
Foi nesse percurso da empresa que falei com uma pessoa ligada ao PS de Loulé, o Vítor Faria, que já faleceu, que me convidou para ser candidato a presidente da Junta de Freguesia de Quarteira. Fiquei muito contente com o convite, mas disse logo que não ia aceitar. “Estou muito feliz por me terem convidado. Mas não vou aceitar”.
Nessa altura, eu e o Vítor Aleixo não nos conhecíamos. E um amigo comum insistiu comigo, numa esplanada de um café em Quarteira: “tu não vais? Tu tens de falar é com o Vítor Aleixo”.
E foi nessa conversa com o Vítor Aleixo que eu acabei por aceitar. Ele não me pressionou, disse-me só: “eu tive a oportunidade de vir para a política mais cedo e não quis, mas arrependo-me. Isto é desgastante, é cansativo. Mas nós aqui temos um universo de conhecimento que não adquires noutro sítio. E é gratificante aquilo que tu aprendes aqui”. E foi mesmo isso. Eu aceitei e ganhámos as eleições.
O percurso que vem a seguir mostra que levei isto a sério, com o trabalho que fizemos aqui na Junta de Freguesia. Em termos de orçamento, esta era a terceira ou quarta maior Junta do Algarve. Hoje está entre as dez maiores do país, só suplantada pelas de Lisboa. Mas isto dá muitas dores de cabeça, porque eu gosto de apresentar trabalho.
E foi assim que eu cheguei aqui, a esta posição, de estar a acabar com as minhas funções na Junta de Freguesia e a iniciar o processo de ser o candidato do PS à Câmara Municipal de Loulé.

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SI – O processo de escolha do candidato do PS para a Câmara não foi fácil, nem pacífico, com o atual executivo verdadeiramente “partido ao meio”. Teme que isso possa influenciar a sua candidatura?

TP – Isso acontece em muitos sítios, há sempre outras pessoas que também ambicionam. E é importante que as pessoas tenham as suas ambições, desde a hora que sejam tratadas de uma forma equilibrada. Primeiro, porque a ambição dos outros pode ser igual à minha. Eu acho que, neste momento, conta também aquilo que o Telmo Pinto tem para apresentar e aquilo que já fez. Porque é a primeira vez que nós temos um presidente de Junta que se candidata à Câmara Municipal de Loulé.
E são 12 anos de experiência. Cheguei à conclusão de que, hoje, com aquilo que as Juntas de Freguesia fazem, que nós não somos uma Junta grande. Passámos o patamar: somos uma Câmara Municipal pequena. E isto acarreta uma quantidade de responsabilidades e de necessidades de conhecimento.
Eu acho que as pessoas vão avaliar por aí. Vão avaliar quem é a pessoa, o seu dinamismo, se responde às necessidades das pessoas de hoje em dia, àquilo com que se preocupam.

SI – Considera que esse trabalho de 12 anos à frente da Junta de Freguesia de Quarteira lhe dá vantagem na corrida à Câmara Municipal de Loulé?

TP – Dá.

SI – E que tipo de vantagem lhe dá?

TP – O conhecimento do trabalho autárquico. Hoje, é preciso muito conhecimento técnico e ter muita experiência por trás para conseguir agarrar uma Câmara. Nós podemos dizer: “ah, depois arranjo pessoas que sabem”. Mas se essas pessoas não forem lideradas, isto é como o futebol ou outra empresa qualquer: não chega. Eu também quero pessoas que sabem e que me acrescentam qualquer coisa ao conhecimento, que saibam mais do que eu em algumas áreas. Mas aquilo que são os alinhamentos, o pensamento, a estratégia que nós temos para o concelho, isso parte do presidente da Câmara. Toda esta experiência autárquica que vem de trás é importantíssima para a gestão de Municípios e até em termos de governos.
Porque eu tenho uma ideia: eu acho que todas as pessoas que chegam à política e que podem fazer parte destes órgãos de gestão pública, seja no Governo, seja aqui nas autarquias, nas Câmaras, deviam passar pela gestão das freguesias, ou nem que fosse apenas pelo associativismo.
Quando me falam em números, para mim não são números. É o António, o José, a Maria, quem é que precisa de casa, quem é que tem as necessidades, porque é que tem as necessidades. E perceber essas necessidades de proximidade não é fácil, não se percebe só de um filme que muitos me contam.
Os autarcas e as pessoas que estão ligadas ao associativismo nas localidades, como Quarteira, como qualquer uma das freguesias do concelho de Loulé, ganham um conhecimento da população e do território, que é importantíssimo para podermos gerir depois num outro patamar.

 

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Telmo Pinto – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

SI – Após tantos anos em Quarteira, caso seja eleito para a Câmara vai dar atenção especial a esta cidade?

TP – Nunca. Sou uma pessoa que gosta de fazer trabalho e de ser reconhecida pelo trabalho que faz. As minhas funções e exigências quais são? São Quarteira e a freguesia, neste momento. As minhas funções e exigências vão ser quais? O concelho de Loulé. Eu quero fazer um bom trabalho em todo o lado. Conheço todo o território e conheço pessoas em todo o concelho, em Almancil, na Tôr, em Salir…
A última coisa que eu vou querer é que me vejam como um mau gestor do concelho e como uma pessoa que não faz nada por cada uma dessas localidades.

SI – O concelho de Loulé é o maior do Algarve e também o mais rico. No entanto, é também um concelho muito diverso, porque tem um litoral que é rico, muito populoso e tem infraestruturas, não só públicas, como privadas, e depois um interior que é mais despovoado e que não tem tantas oportunidades. Como é que pretende atacar estas questões?

TP – Esse é um problema do país. Esta necessidade de coesão territorial e o facto de o interior ficar despovoado está a acontecer em todo lado. Para combater isso, tem de se criar dinâmicas, tem de se fazer uma ligação. Para já, não se pode pensar o território ponto a ponto. Eu acho que isso é um erro. Há pouco tempo tive uma reunião com uma associação aqui do interior do concelho e falámos precisamente sobre isso.
Temos de olhar para o território como um todo. Não é Benafim precisa disto, Alte precisa daquilo. Precisamos de trabalhar em conjunto de forma a fazer esta ligação entre interior e litoral. Na minha casa, a minha mulher gosta de praia e eu não gosto. Felizmente, aqui no concelho de Loulé temos muito para oferecer para além da praia, também no interior.
Para fixar pessoas no interior, temos de criar serviços, temos de criar aquilo que todas as famílias precisam para viver bem no interior.
Vou dar um exemplo: temos a Escola Profissional de Alte. É uma aposta que tem de ser feita. Esta Escola precisa de uma dinâmica e de uma injeção de energia urgente para poder cumprir a sua missão de ser um polo que vai agregar pessoas, para poderem ficar no interior. Temos uma quantidade de produtos no interior que são importantes, mas temos de criar dinâmicas que permitam tirar partido desses produtos.

SI – Sendo Loulé o município mais rico do Algarve (não é per capita mas no global), que grandes investimentos prevê nos próximos anos, se for eleito? Tem ideias novas?

TP – Nos últimos doze anos, os pensamentos mudaram. Porque a gestão autárquica é a gestão das necessidades e estas são dinâmicas. Há doze anos, quando entrei aqui, o executivo municipal tinha umas ideias. Doze anos depois o que é que aconteceu? Os Censos mostraram que Loulé subiu mais de 12% em termos de população, em contraciclo com o resto do país.
Ou seja, as necessidades aumentaram e agora os projetos têm que ser redirecionados.
Para mim, o grande projeto são as pessoas. Precisamos de ter as famílias a sair de casa e que a sua vida não seja uma incógnita. Ou seja, sair de casa sem saber onde é que vai pôr o miúdo na creche, onde é que vai pôr o miúdo no pré-escolar, onde é que vai pôr o miúdo na escola, porque temos necessidades de mais escolas, demais espaços para o desporto. O crescimento cria necessidades.
São importantes os projetos que têm sido feitos pela Câmara, nas áreas da Ciência, da Tecnologia e da Saúde, importantes a médio e longo prazo, concentrarmos aqui uma quantidade de serviços como o INEM, como a GNR e tudo mais, mas o grande projeto que eu tenho para a frente, neste momento, é responder às pessoas. É importante dizer isto porque é um concelho apetecível, até em termos de investimento.
Neste momento, eu quero dedicar-me mesmo às necessidades das pessoas.
Vou dar um exemplo: um lar de idosos. O que era um lar há doze ou quinze anos? O conceito de lar mudou completamente. Hoje, é muito para pessoas com demência. E nós temos de reestruturar a nossa rede social do concelho e ir ao encontro das necessidades das pessoas. Nós precisamos de apoios domiciliários, precisamos de centros de dia, precisamos do lar no conceito para pessoas com demência, precisamos de uma quantidade de valências que têm de ser equacionadas.
Portanto, o meu grande projeto são as escolas, os equipamentos públicos, o meu grande projeto é responder às pessoas, para que elas não sintam, de manhã quando se levantam, que há uma incógnita na vida delas, porque não sabem onde é que vão pôr nem os mais velhos, nem os mais novos.
Se esses problemas estiverem resolvidos, isso cria uma vantagem que é estas pessoas estarem muito mais libertas e disponíveis e sem problemas para poder trabalhar. E isso mexe também com a economia, porque precisamos de pessoas aptas para trabalhar. Portanto, a minha aposta vai ser mesmo nestas respostas que são urgentes neste momento.

SI – Em relação a projetos concretos, por exemplo, no caso de Quarteira, há muito tempo que se fala na necessidade de uma grande sala de espetáculos. Se for eleito, é que isso vai avançar finalmente?

TP – Isso avançou com o Vítor Aleixo como presidente da Câmara, porque o projeto está acabado.
Há dois projetos grandes que são míticos na discussão de Quarteira. O primeiro é o mercado e o segundo a sala de espetáculos, que não será apenas uma sala de espetáculos porque o Vítor Aleixo conseguiu ir mais longe do que isso. Aquilo vai ser como a Escola de Música de Loulé, vai ser a Escola de Dança em Quarteira. Ficará no início da Avenida Papa Francisco. É lógico que queremos avançar com isso, perceber quais são as maiores necessidades e este é um dos projetos com que nós queremos avançar.

 

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Telmo Pinto – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

SI – Qual é a sua visão para o Parque das Cidades, que é uma estrutura gerida em conjunto entre os Municípios de Loulé e de Faro, à volta da qual tem havido consensos, mas também algumas divergências, nomeadamente, em relação à Estação Intermodal.

TP – Chegou-se a um consenso e vai em breve para a consulta pública o projeto do Metrobus, que vai fazer esta ligação entre Faro, Olhão e Loulé. Eu gostava imenso que, em Loulé, se pudesse chegar a Quarteira e a Almancil, fechando esse circuito.
A estação intermodal é importantíssima, seja mais abaixo ou menos abaixo. O que é preciso é que se decida e que possa ser concretizada. O Metrobus, que vai passar no aeroporto, vai criar uma dinâmica na cidade de Loulé que é urgente. Eu lutarei para que chegue a Almancil e a Quarteira, pelo menos numa segunda fase.

SI -E que outros projetos é que pode haver para o Parque das Cidades?

TP – Há o Hospital Central, que é importante que aconteça. Também há projetos na área do desporto, agregando os dois municípios. Gostava de criar no Parque das Cidades uma dinâmica nas áreas da saúde e do desporto, porque já temos ali aquele estádio e, quer se goste ou não, é um investimento que está feito e é rentável.

SI – Aquela ideia que as pessoas tinham de que o Estádio Algarve se iria transformar num elefante branco não se confirmou…

TP – O Estádio tem uma boa gestão, que faz com que isso não aconteça. É importante para nós, porque há estádios neste país que estão abandonados e que dão um prejuízo imenso.

SI – O concelho de Loulé vai ter em breve a sua terceira cidade, a de Almancil. Que responsabilidade acrescida é que traz para o município?

TP – Se formos ver, duas cidades não há em muitos municípios, em todo o país. O mais comparado com Loulé, e não sei se terá essa dimensão, é o Município de Ourém, já que Fátima pertence a esse concelho e é cidade. Aqui no Algarve, Albufeira é também um município que tem um orçamento grande, muito idêntico ao de Loulé, mas só tem um centro urbano com escala de cidade.
Nós aqui passamos a ter três cidades e os serviços têm de ser outros. Loulé vai ter de ter a capacidade de colocar em Almancil um Centro Autárquico, de ter outras respostas em termos de Centro de Saúde, por exemplo.
Temos de ter a capacidade de gerir de cima, ou seja, olhar para os três centros urbanos, perceber as suas necessidades concretas e dar as melhores respostas. É preciso haver muita astúcia e capacidade para conseguir fazer esta gestão e responder às necessidades de uma cidade nova.

SI – Ambiente, saúde/inovação e cultura. Estes foram provavelmente os temas “mais queridos” dos três mandatos de Vítor Aleixo. Se for eleito presidente da Câmara, também serão as áreas em que mais apostará? Será um trabalho de continuidade ou também imprimirá a sua marca?

TP – Gosto sempre de imprimir a minha marca em tudo o que faço, mas essas são áreas importantíssimas por diferentes razões.
Loulé pode ser a referência do Algarve em termos de Cultura. Quem está mais próximo do mar tem outras dinâmicas e oportunidades. Loulé tem que fazer uma aposta e a cultura pode ser esse caminho. Traz-nos outro tipo de pessoas, de visitantes.
Os problemas do Ambiente continuarão a ser muito importantes. Pensemos no problema da água, a que eu, como engenheiro civil, sou muito sensível. Fala-se da dessalinizadora, para dar uma resposta, mas ainda nos falta fazer muito na questão da perda de água, na questão da utilização das águas residuais tratadas. Estamos ainda a dar os primeiros passos, mas temos que ir por esse caminho.

 

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Telmo Pinto – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

SI – No Ambiente, Loulé já tinha duas áreas protegidas locais – Benémola e Rocha da Pena -, criou recentemente outra – Reserva Natural do Trafal e Foz do Almargem – e está a trabalhar em mais duas – Nave de Barão e a Gruta de Loulé. Isso, além de participar muito ativamente no projeto do Geoparque Algarvensis. Esta aposta é para continuar?

TP – Isso são consequências do projeto que o Vítor Aleixo pensou para o ambiente. É difícil tomar estas decisões “à frente”, nem sempre as pessoas compreendem. Preparou o caminho e agora esses projetos estão na fase de concretização. Em termos turísticos, é uma forma de promover Loulé e de diferenciar o concelho, no fundo, marcar aqui um target do turismo. Hoje em dia vivemos problemas ambientais, alguns causados pelas alterações climáticas, em todo o mundo e eu acho que Loulé se tem diferenciado naquilo que são as suas propostas. Agora temos de concretizar tudo, temos de dar velocidade para as coisas fisicamente existirem.

SI – Uma das áreas em que as Câmaras ultimamente voltaram a apostar é na habitação, não só social, mas voltada também para as famílias da classe média. Quais são os seus planos nesta área?

TP – Há pouco tempo, foi falar comigo um investidor, que tem 700 fogos para construir em Quarteira, por trás do Pingo Doce. Eu disse-lhe: faz também prédios para as pessoas que vão trabalhar para o teu aldeamento, porque 700 fogos vão originar uma quantidade de serviços, esses serviços têm de ser prestados por pessoas, que nós não temos cá, em Quarteira, no concelho de Loulé, no Algarve. É preciso que os próprios empresários se envolvam nessa dinâmica de criar casas, a casa é o mais importante que nós precisamos agora.
Até para a integração dos estrangeiros, para tirar esta falsa imagem. Hoje grande parte da mão de obra na hotelaria e na restauração do concelho de Loulé é estrangeira. Se perguntar a uma pessoa de um restaurante: “queres que eles vão embora? Não, porque senão não trabalhamos”. Em Loulé, 25% da população é estrangeira.
Portanto, nós temos de ter um processo de integração como deve ser, que eu acho que o governo ainda não implementou.
Loulé, aliás, vai criar um grande gabinete de integração, porque, se facilitarmos a vida destas pessoas, também cortamos a hipótese de vingar aquela mensagem de que os imigrantes são maus e trazem coisas más. Não! Nós precisamos destas pessoas e a habitação é importantíssima, até como forma de as integrar.
Mas também temos planos para a população local. O governo está a fazer uma aposta na habitação social, mas não há financiamento para a habitação acessível, para professores, guardas, médicos, não há. Por isso, tal como as coisas estão agora, a aposta tem que ser 100% dos municípios. Nós temos que lutar contra isto. Ou seja, temos de mostrar aos governos que precisamos de habitação para professores, para guardas, para médicos, e isso não está ainda no financiamento do PRR e em outros financiamentos.
A habitação é o mais importante de tudo aquilo que eu falei aqui, porque habitação significa a estabilidade de uma família.
Quando falamos da habitação, se não se for arrojado e não se tomar medidas de escala, esqueça. O PDM não me resolve minimamente o problema, o que me resolve são medidas de escala, como esta que o governo está a tomar com a Lei dos Solos, ao dar liberdade às autarquias para usarem os solos para fins urbanos. Eu sou defensor de um PIN autárquico, acho que as autarquias deviam ter a liberdade de construir novos centros urbanos.

SI – A questão dos estrangeiros também se coloca nas escolas e ao nível das necessidades que as escolas têm. As Câmaras Municipais agora passaram a ter novas responsabilidades, novas competências, no fundo em quase todas as áreas. Acha que pode criar problemas à gestão? É necessário contratar mais técnicos, por exemplo?

TP – Num concelho como Loulé, tudo tem escala. Mas não podemos pensar que isso nos cria problemas. Os problemas servem para nós crescermos.
Quanto às Escolas, precisamos ter uma máquina de manutenção para as escolas, os equipamentos municipais têm de ter gabinetes e se calhar ser autónomos. Por exemplo, na Educação, tem de haver um gabinete que tenha autonomia para melhorar a sua resposta nos trabalhos de manutenção das escolas.
Eu vou muito às escolas e apercebi-me de uma coisa falando com os professores e os diretores: que há cada vez mais miúdos como necessidades educativas especiais em cada turma. O que é que significa? Os professores têm muita dificuldade e, na maior parte das turmas, só há uma pessoa a apoiar. Essa tem de ser uma aposta, se nós olharmos para este crescimento não como um problema, mas como algo que vamos resolver para melhorar a educação dos miúdos.
O miúdo não pode estar com frio ou com calor na escola, tem de ter ar condicionado, mas para isso temos também de ter manutenção que garanta que o equipamento funciona nas melhores condições. Também temos de garantir que há apoio aos professores para esses miúdos como necessidades educativas especiais. Se não tivermos também isso direcionado, não temos as condições para melhorar o sistema educativo do nosso concelho.
Temos igualmente de crescer em número de escolas, há falta de espaço para responder ao crescimento populacional que o concelho tem vivido nos últimos anos, apesar dos investimentos já feitos.

 

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Telmo Pinto – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

SI – E na área da Saúde, que é também uma competência que passou para os Municípios? O que deve ser feito?

TP – A Câmara iniciou esse processo na saúde, mas até está a ir para lá daquilo que são as suas competências. As pessoas têm de sentir que têm uma resposta. Em Quarteira, havia 11 mil utentes sem médico de família, mas agora todas as pessoas têm médico de família. Isso é importantíssimo! Temos os médicos, temos assistentes a telefonar às famílias, isso é importantíssimo. Sentiu-se a melhoria nesse aspeto, mas temos de melhorar o equipamento. Nós desenrascámos com os contentores, precisamos agora também fazer um novo edifício. Almancil também precisa e em Loulé já está quase pronto. Eu noto essa diferença: as pessoas sentem-se protegidas se tivermos esta resposta na saúde.

SI – E quanto à segurança? Sendo Loulé um dos principais concelhos turísticos do Algarve, a segurança é sempre um fator crítico. O que prevê fazer?

TP – Loulé vai avançar com a videovigilância e com a Polícia Municipal. A videovigilância vai começar em Vilamoura, mas o protocolo abriu oportunidade para começarmos pelos grandes eixos. Eu acho que temos de começar por patamares.
O que nós queremos muito rapidamente é que Quarteira, Loulé e Almancil venham a seguir. Vamos decidir quais serão as avenidas, quais são os locais onde se concentram mais pessoas e vamos começar a fazê-lo. Isto é o futuro. E a Polícia Municipal vem também aliviar um pouco do trabalho da GNR, que é o que nós temos aqui, nós não temos PSP, mas que eu acho que está muito esquecido.
Nós temos aqui quartéis sem viaturas, sem manutenção, sem guardas. Se nós fossemos avaliar até ao pormenor, veríamos que há pessoas a trabalhar muito mais do que deviam porque não temos guardas. Isso não pode acontecer num concelho como Loulé. Não podemos ter apenas um piquete no mês de Agosto para Loulé, Quarteira e Almancil. Nós temos de reivindicar e não nos podemos calar perante os governos, seja eles quais forem, porque isto já estava assim no passado e agora continua. Nós temos de reivindicar e de lutar, porque a segurança é o mais importante de tudo.
O concelho de Loulé tem vindo a registar um grande crescimento de investimentos, nos grandes centros turísticos, com a marina melhorada e ampliada, novos grandes aldeamentos turísticos, empreendimentos de luxo. Isso traz-nos visitantes de grande nível e nós temos de apostar cada vez mais na qualidade. A qualidade passa também pela segurança, percebida ou real.

SI – Se ganhar a Câmara, o que é que vai mudar na gestão e na orientação do município?

TP – Eu preciso das pessoas! Há uma coisa que eu aprendi: quando entrei na Junta de Freguesia de Quarteira, tínhamos 17 funcionários. Hoje temos 120, 130 funcionários. Nenhuma das minhas ideias fluía se não fossem as pessoas. Recursos humanos é das coisas mais importantes que nós temos. Eu não vou para a Câmara para mudar a Câmara. Não sou nenhum mágico, nem descobri a pólvora. Vou para a Câmara para trabalhar em conjunto com as pessoas.
É lógico que, se ganhar a Câmara, serei o líder e tomarei decisões, mas preciso das melhores pessoas, das melhores equipas. Foram essas pessoas que fizeram a diferença quando estive na Junta, são essas pessoas que fazem a diferença numa empresa lá fora e são essas pessoas que, aqui na Câmara, fazem a diferença do trabalho.
Para o futuro executivo, tenho um objetivo muito grande, que é o de trazer uma parte da sociedade civil para dentro, de trazer pessoas de fora com conhecimento técnico e das áreas, para poder envolver essas pessoas nestas novas políticas que eu vou querer implementar para o futuro.

SI – Como têm sido estes primeiros tempos enquanto candidato do PS à Câmara de Loulé?

TP – Têm sido interessantíssimos. Uma amiga da Universidade que me disse uma coisa: “Telmo, arrisca! Arrisca trazer uma boa equipa com conhecimentos e teres uma boa equipa para fazer trabalho. Não queiras ganhar eleições só por ganhar!”. Eu não vou levar ninguém na minha equipa só para ganhar eleições! Não, não há tempo para isso! Os ciclos políticos são de quatro anos, os procedimentos são complicados, os processos também, a lei cada vez é mais rígida. Precisamos de ter pessoas astutas e com conhecimentos, pessoas que possam fazer a diferença.

 

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Telmo Pinto – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

SI – Em relação à composição das listas, já está fechada? Espera-se mudanças?

TP – Está quase, está quase. Temos falado com as pessoas, estão disponíveis, as pessoas vêm até ter connosco, a dizer que querem participar, e isso é um bom sinal. Significa que as pessoas reconhecem que há trabalho, reconhecem que o futuro lhes dá oportunidades para fazer a diferença.
Muito em breve estaremos a apresentar candidatos, listas e tudo mais.

SI – Mas além do fim de ciclo na Câmara, também há várias juntas de freguesia cujo presidente vai mudar. Como está esse processo?

TP – Sim, vai mudar em Almancil, Quarteira e São Clemente. E também já está bem encaminhado. Esta semana, em princípio, vamos começar a apresentar os candidatos.

SI – O processo de escolha do candidato do PSD também tem sido conturbado e, à data, ainda não se conhece oficialmente quem será o seu oponente. Isso é uma vantagem? Ou teme a “concorrência”?

TP – Só é uma vantagem por uma coisa: não conseguimos baixar a guarda. Eu faço sempre esta comparação ao futebol: quando nós facilitávamos, ao jogar com equipas fracas, tínhamos um dissabor no final. Por isso, nas Autárquicas, sejam quem forem os nossos adversários, não podemos baixar a guarda.
Há seis anos que disse que ia ser candidato, não foi agora, foi há seis anos. Eu disse ao Vítor Aleixo que queria ser candidato à Câmara, não escondi isso de ninguém dentro do partido, nem das pessoas que estão à minha volta. Digo isso de uma forma tranquila, porque também informei toda a gente desse meu objetivo para o futuro.
As pessoas às vezes não imaginam que Loulé tem mais de 15 mil empresas, 99% das quais são micro, pequenas e médias empresas. Ou seja, Loulé tem um potencial enorme. Com todos os projetos que nós temos, podemos fazer a diferença nas pessoas
Eu não consigo aumentar o salário mínimo, mas conseguimos fazer escolas, conseguimos fazer creches, conseguimos fazer lares, conseguimos fazer equipamentos desportivos. Conseguimos estar lado a lado com o turismo e com a economia local, e abrir portas aos investidores.
Quem não tiver ideias vai sempre atacar o adversário, quem tiver ideias vai querer mostrar, que é o que eu faço aqui nesta entrevista, vou desbobinando, mostrando aquilo que se pode fazer para diferenciar o concelho. Porque nós temos a capacidade de fazer a diferença para as pessoas.

SI – A terminar, que mensagem pretende deixar aos munícipes de Loulé, seus votantes potenciais?

TP – Direi que não há nem presidentes nem executivos que façam tudo sozinhos. Eu só quero aproveitar o conhecimento das pessoas, do território, para trabalharmos lado a lado. Estou a aprender todos os dias com as pessoas. Vou aprendendo com quem está nos locais e quem vive o dia-a-dia, a experiência, sejam as pessoas das escolas, dos centros de saúde, das associações. Esses é que realmente sabem o que são as necessidades.
Vou usar a minha experiência autárquica para conseguir ser arrojado, para ter um projeto conjunto, de uma equipa forte, para conseguirmos concretizar todos os nossos planos.
O que eu quero dizer é que, nós, em conjunto, podemos fazer as mudanças e colocar este concelho onde eu acho que ele merece estar sempre, e está, que é na posição de ser um dos maiores concelhos deste país.

 

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Telmo Pinto – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

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