Abel da Silva Santos tinha 29 anos quando, a 12 de Dezembro de 1976, se tornou o primeiro presidente da Câmara Municipal de Lagoa a ser eleito diretamente pela população. Foi nas primeiras Eleições Autárquicas após a Revolução do 25 de Abril, que tinha ocorrido pouco mais de dois anos antes.
O socialista Abel Santos foi, então, o mais jovem presidente de Câmara eleito no Algarve e um dos mais jovens de todo o país, marcando o nascimento de uma nova geração de autarcas.
Foi nessa condição de primeiro autarca eleito em Lagoa que Abel Santos, hoje com 77 anos, foi homenageado na quinta-feira, dia 16 de Janeiro, data em que se assinalavam os 252 anos da criação deste concelho. Uma homenagem que se integra nas comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril em Lagoa, capitaneadas por José Águas da Cruz, presidente da Assembleia Municipal lagoense.
O ponto alto da homenagem, que decorreu no Auditório Municipal Carlos do Carmo e durou quatro horas, foi o lançamento do livro «Nove Anos de Autarca e Toda uma Vida de Abel Santos», da autoria do jornalista Neto Gomes, que contou também com a colaboração de Diogo Vivas, diretor do Arquivo Municipal de Lagoa.
Mas as homenagens começaram às 14h30, com a missa de sufrágio pelos autarcas de Lagoa já falecidos, na Igreja Matriz.
Seguiu-se um “Lagoa de Honra”, no foyer do Auditório, e a abertura da exposição «Vivências», com pinturas e fotografias do homenageado, bem como com cerâmicas pintadas à mão pela sua mulher, Isabel Maria, o grande amor de Abel Santos, falecida ainda muito jovem, mas várias vezes recordada durante a homenagem ao antigo autarca.
A exposição contou com música de Eduardo Ramos.
A cerimónia protocolar começou de novo com música, desta vez a cargo de um quarteto da Orquestra de Jazz do Algarve, dirigido pelo seu maestro e trompetista Hugo Alves.
A sala do Auditório estava completamente cheia, com amigos e familiares de Abel Santos, outros antigos e atuais autarcas lagoenses, antigos funcionários da Câmara que com ele trabalharam, membros da comissão de honra da homenagem, bem como com as delegações dos Municípios de Boavista e São Domingos (em Cabo Verde) e da Lagoa (Açores), com os quais o concelho algarvio está geminado, e ainda os presidentes das Câmaras Municipais de Portimão (Álvaro Bila) e de Vila Real da Santo António (Álvaro Araújo), José Apolinário, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Custódio Moreno, diretor regional do IPDJ, e Mendes Bota, antigo presidente da Câmara de Loulé (e ex deputado).
Na apresentação do livro biográfico, Luís Encarnação, atual presidente da Câmara de Lagoa, destacou Abel Santos como «uma figura fundamental da história contemporânea do nosso concelho» e um dos «principais protagonistas do desenvolvimento de Lagoa no pós 25 de Abril».
Abel da Silva Santos, que tinha trabalhado nas Finanças e depois na empresa imobiliária TAU, esteve três mandatos (de 1977 a 1985) à frente da Câmara de Lagoa.
Os seus mandatos, ainda antes de Portugal aderir à Comunidade Económica Europeia (CEE), foram «marcados por desafios imensos», mas o então jovem autarca tinha «uma visão arrojada».
Lagoa era, por esses anos, um concelho com «muitas carências» e um Município quase sem receitas, com poucos funcionários e técnicos.
Muita coisa teve de ser feita, como vários dos oradores recordaram e o próprio Abel Santos evocou, com «poucos meios financeiros». Em 1977, estava quase tudo por fazer em áreas fundamentais como o abastecimento de água, as redes de esgotos, a drenagem de águas pluviais ou a habitação social. Necessidades básicas em que, ainda sem Lei das Finanças Locais, foi preciso investir o pouco que a Câmara Municipal arrecadava de receitas.
Mas houve ainda outros investimentos urgentes, no Convento de São José, que estava semi arruinado, na criação da biblioteca municipal, no próprio edifício da Câmara.
Foi também nesses anos que, com o início da estabilidade democrática, foi possível voltar a atrair para Lagoa investimento, nomeadamente no setor do imobiliário e da construção, garantindo mais emprego para a população e mais receitas para a autarquia.
Como haveria de dizer o homenageado, no seu discurso, a «insuficiência monetária» da autarquia e «a queda constante de sucessivos governos», que não permitia dar estabilidade ao país, foram os seus grandes adversários.
Mas uma das obras que ainda hoje perdura, dos mandatos de Abel Santos, é a Fatacil, criada em 1981, e que, de pequena feira local haveria de tornar-se o mais importante certame a Sul do Tejo.
Depois de ter sido derrotado quando tentava um quarto mandato sucessivo, em 1985, por Jacinto Correia (PSD), Abel ainda se manteve mais um ano e meio como vereador da oposição. Acabou por afastar-se da Política, desiludido até com os do seu próprio partido, e dedicar-se à sua vida profissional.
O antigo presidente da Câmara afirmou, na cerimónia, a «tranquilidade do dever cumprido». E garantiu que aqueles foram «os melhores anos» da sua vida.
Após mais um momento musical, a cargo da jovem fadista Catarina Cândido, seguiu-se a habitual sessão de autógrafos, e um jantar para convidados, no hotel Tivoli Carvoeiro, ao som de Beto Kalulu.
O livro «Nove Anos de Autarca e Toda uma Vida de Abel Santos» está agora à venda no Convento de São José, em Lagoa, revertendo as receitas a favor da Associação Oncológica do Algarve.
Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação e CM Lagoa