Sines, território vinculado ao Atlântico, é o concelho de destino do Festival Terras sem Sombra no próximo fim de semana, dia 26 e 27 de Outubro. Mais uma vez, além da grande música, o festival alentejano percorre ainda os caminhos do património e da biodiversidade, com atividades abertas a todos.
Num fim-de-semana que revela a surpreendente diversidade da criação musical contemporânea da República da Sérvia, país-chave para a compreensão da rica cultura da região balcânica, o programa em Sines convida também à descoberta de uma estrutura arquitetónica premiada, o Centro de Artes de Sines, e a aprofundar conhecimento sobre um ecossistema frágil, o cordão de dunas das praias do concelho.
Considerado um dos mais vibrantes e inovadores ensembles no panorama da música atual em Belgrado, o Aratos Trio, depois de se apresentar em diversas capitais europeias, chega aos palcos portugueses.
Em Sines, este agrupamento – fundado em 2014 por Katarina Popović (violino), Mihailo Samoran (clarinete) e Vladimir Vanja Šćepanović (piano) – apresenta, no Centro de Artes (21h30), o concerto “From Serbia With Love: Música para o Novo Milénio”. Momento que oferece à audiência peças musicais compostas, entre outros, por Alexander Arutiunian, Francis Poulenc, Isidora Žebeljan e Ivan Brkljačić, o que se torna muito revelador dos notáveis cruzamentos que a criação atual conhece, nesse país fascinante que é a Sérvia.
O programa da noite de 26 de Outubro patenteia um dos traços do ensemble sérvio, apostado na exploração artística de peças para trio de clarinete, com especial ênfase na música dos séculos XX e XXI.
O seu repertório dedica especial atenção a trabalhos de autores sérvios contemporâneos, num percurso experimental que se mantém arreigado às grandes tradições da música europeia.
O Aratos Trio realizou inúmeras gravações para rádio e televisão, nomeadamente um concerto no Studio 6 da Rádio Belgrado, em Fevereiro de 2020, com transmissão em direto no programa televisivo RTS3, que teve enorme êxito.
Em 2021, na digressão por várias cidades sérvias, apresentou o projeto Four Sides of the World, com o objetivo de dar a conhecer obras para trios de clarinete de diferentes partes do mundo.
Centro de Artes de Sines, um edifício singular
A anteceder o momento musical, o Centro de Artes de Sines recebe, na tarde de 26 de Outubro (15h00), todos aqueles que quiserem conhecer os bastidores deste notável edifício, vencedor do prémio AICA/MC 2005 e finalista do Prémio Mies van der Rohe 2007, galardão da União Europeia para a arquitetura contemporânea.
O complexo, que se situa no espaço anteriormente ocupado pelo Cineteatro Vasco da Gama e pelo Teatro do Mar, resulta de um projeto assinado pelos arquitetos Francisco e Manuel Aires Mateus, muito ligados ao Alentejo litoral e, em particular, a Grândola.
Estes tomaram como ideia base a criação de uma estrutura que agregasse várias funções, servisse toda a população e funcionasse ao mesmo tempo como parte da cidade e “porta” do centro histórico.
“A arquitectura do edifício assume uma dimensão monumental. A escala escolhida é a do centro histórico e o jogo de transparências e opacidades sugere a combinação de aberturas e seteiras das muralhas do Castelo”, salienta o município de Sines a propósito deste edificado.
Com ponto de encontro no Centro de Artes, a visita na tarde de sábado, subordinada ao título “Arquitetura, Património e Sociedade: O Centro de Artes de Sines” conta com a presença de Jorge P. Silva, o arquiteto do Atelier Aires Mateus e Associados, também ele com raízes na região, que coordenou o projeto.
A visita é um convite a conhecer a singularidade deste edifício, no apelo sensorial que constitui, nos materiais e na volumetria, na experiência do espaço, ora lúdica, ora reflexiva, na integração de várias dimensões do conhecimento e da criação humanas. O Arquivo, a Biblioteca, o Auditório, o Centro Histórico e a belíssima “Caixa Negra” serão objeto da visita.
“Beleza vital, mas frágil”: o cordão dunar
A manhã de domingo, 27 de Outubro (9h30), aproxima da linha de costa os participantes da atividade dedicada à Salvaguarda da Biodiversidade. “Uma Beleza Vital, mas Frágil: As Dunas da Costa de Sines e a sua Biodiversidade” é como se intitula a ação que, com ponto de encontro na Praia de Morgavel, conta com a participação de Carlos Pinto Gomes e Catarina Meireles, professores da Escola de Ciências e Tecnologia da Universidade de Évora.
Ao longo da manhã, o foco incide no cordão dunar, estrutura móvel formada por areias arrastadas pelo vento e importante barreira à preservação do litoral. Protege as zonas costeiras dos temporais marítimos, é suporte de vegetação e garante habitats ecologicamente importantes.
Em particular, o cordão de dunas do concelho de Sines abriga um coberto vegetal tido como prioritário nos esforços de conservação à escala europeia. Os zimbrais dunares possuem um elevado valor ecológico, mas são extremamente vulneráveis: estão sujeitos a um conjunto de ameaças que têm sido responsáveis pela drástica degradação deste coberto vegetal em todo o Mediterrâneo, como a exploração florestal, o desenvolvimento urbano e turístico e as espécies invasoras.
Terras sem Sombra até ao fim do ano
Até ao fim do ano, o Terras sem Sombra continua a percorrer o Alentejo, com a sua tripla proposta de música, património e biodiversidade.
Assim, a 2 e 3 de Novembro, o Festival Terras sem Sombra agenda novas atividades, desta feita, no concelho de Montemor-o-Novo. A componente musical estará entregue ao ensemble espanhol Entre Quatre com o concerto “Coplas Errantes: Leste e Oeste na Música para Guitarra”.
A ação dedicada ao Património trilha “Nas Elevações e Plainos de Montemor: Património Cultural da Freguesia de São Cristóvão”.
Por sua vez, a atividade de Salvaguarda da Biodiversidade detém-se no tema “De Território Urbano a Zona Agricultada e Espaço de Lazer: A Biodiversidade no Castelo de Montemor-o-Novo”.
A 9 e 10 de Novembro, o festival irá rumar a Arronches, onde irá apresentar um concerto das vozes jovens do Sing Philippines Yout Choir, sob direção do maestro Mark Anthony Carpio e com a colaboração do Grupo das Pedrinhas de Arronches.
Na tarde de dia 9, a ação sobre Património leva os participantes a descobrir o Convento e a Igreja de Nossa Senhora da Luz, enquanto na manhã de domingo, 10 de Novembro, será a biodiversidade da Ribeira de Arronches.
A 23 e 24 de Novembro, o Terras sem Sombra regressa a Beja, levando na bagagem a música da Camerata Ducale, com direção musical de Guido Rimonda. No sábado, no Museu Rainha D. Leonor, a tarde será dedicada a descobrir os segredos do «porqueinho doce», enquanto a manhã de domingo será ocupada com uma visita em Neves, para descobrir os tesouros do tempo dos mouros: as hortas nos arredores de Beja.
A temporada do Festival em 2024 fecha no fim de semana de 7 e 8 de Dezembro, em Alcáçovas. A música, no Monte das Herdades, estará a cargo das violinistas do Duo Zerbina, que farão uma incursão por Mozart, Fontes, Haydn e Ysaye.
A tarde de sábado será destinada ao tema «Alcáçovas no Contexto da Globalização: O Paço Real», com uma visita ao Paço dos Henriques, numa atividade guiada por Frederico Carvalho (presidente da Junta de Freguesia de Alcáçovas) e José António Falcão (historiador de arte).
A fechar a temporada com chave de ouro, a manhã de domingo, 8 de Dezembro, será destinada a «Pensar a Sustentabilidade no Cerne do Alentejo: O Monte das Herdades», uma atividade à descoberta do vinho, da vinha e de outras riquezas naturais guiada por Rui Reis (arquiteto paisagista).
Toda a programação da presente temporada pode ser consultada no site do Festival Terras sem Sombra.
O ciclo de atividades do Terras sem Sombra em Sines conta com o apoio do município local e da Embaixada da República da Sérvia em Lisboa. O Festival tem o apoio mecenático da Fundação “La Caixa”.