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Estamos em pleno século XXI. A tecnologia tem avançado, como nem os filmes do Regresso ao Futuro suspeitavam. Transformou totalmente a forma como vivemos e até como idealizamos o nosso dia a dia. O mundo atualmente é completamente diferente de de há 50 anos.

Por isso, torna-se fundamental compreender o que se passa hoje, de forma a prever o amanhã. Neste sentido, pensei em dedicar este artigo a um assunto que afeta todas as gerações, desde a Z até aos Baby Bloomers: tempo com os ecrãs.

Apesar de ter sido sempre um tema de conversa recorrente, desde a minha infância, quando os pais proibiam o uso do telemóvel à mesa ou restringiam o tempo passado com os novos dispositivos, a realidade com que hoje nos deparamos é completamente diferente, podemos até dizer que se inverteu.

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Esta nova realidade presencia os filhos a pedirem aos pais para deixarem o telemóvel, em troca de atenção, ou então, o recurso imediato a este tipo de dispositivos para os acalmar, quase como um substituto de chupeta (melhor até!).

Os ecrãs têm-nos permitido viver constantemente no presente e dado a possibilidade de estar presente em qualquer parte do mundo.

Foi através deste tipo de superfícies que pudemos constatar em direto imagens dos primeiros passos de Neil Armstrong na Lua, ou até acompanhar com a mesma emoção a final do campeonato europeu de futebol de 2016. Os ecrãs dão-nos histórias, dão-nos experiências, dão-nos conhecimento.

Hoje, porventura, as funcionalidades dos ecrãs vão para além de uma fonte de informação e entretenimento, como a televisão. Hoje, os ecrãs são tudo: ferramentas de trabalho, câmaras fotográficas, agenda, alarme, arquivos de música ou de livros.

Os telemóveis, em particular, tornaram-se um instrumento crucial e indispensável no quotidiano – é a nossa vida transcrita em pixels e megabytes. De forma gradual infiltraram-se na nossa vida e, posso dizer, em quase todas as nossas atividades. Deixámos de estar indisponíveis. E claro que o estar sempre ligado tem um preço. Afinal de contas, todas as baterias precisam de carga.

O que mais me preocupa atualmente é a forma como estamos deliberadamente a deixar que os ecrãs substituam aquilo que é crucial ao ser humano e à nossa vivência enquanto membros de uma sociedade: a comunicação.

A comunicação define-se como a capacidade de transmitir informação e não é exclusiva da nossa espécie. Por exemplo, quando os cães ladram, podem fazê-lo com o intuito de mostrarem alguma agressividade ou de avisar a matilha de que há perigo, ou seja, comunicam através da vocalização.

No entanto, a comunicação humana distingue-se da do mundo animal pela sua incomparável complexidade, estrutura, expressão e ainda pela incrível variabilidade entre diferentes grupos.

O que contribui para tal riqueza é o que denominamos de linguagem – isto sim, exclusivo entre o ser humano – e traduz o nosso principal meio de comunicação, feito através de símbolos, e na maioria, falada ou escrita.

Sejamos práticos: enquanto leem este artigo, a informação é direcionada para uma área específica do vosso cérebro, que interpreta o significado de cada palavra e por sua vez processa toda a sua informação.

Por outro lado, quando vemos um vídeo no Youtube com cerca de 10 segundos, parte da informação já está processada, podemos até comparar com a comida processada.
Um vídeo é o equivalente a um chocolate com açúcares de absorção rápida, sabe bem e até se quer mais no momento, mas não lhe proporciona a nutrição necessária, o que realmente o seu cérebro precisa.

Estudos referem que o impacto de tempo excessivo aos ecrãs (acima de 2 horas por dia) em adultos contribui não só para uma diminuição da massa cinzenta do nosso cérebro, como para um compromisso na capacidade de aprendizagem, memória e saúde mental.

O que nos estamos a aperceber atualmente é que quem está a ser mais prejudicado com a relação indivíduo-ecrã são as nossas crianças (as nativas digitais).

Enquanto, nos anos 70, as crianças eram expostas a ecrãs aos quatro anos de idade, atualmente, é em média, a partir dos quatro meses. Trata-se, portanto, de um assunto emergente e de saúde pública.

Para além dos aspetos acima referidos, a exposição aos ecrãs nesta fase de vida pode implicar no seu normal desenvolvimento. As competências linguísticas são adquiridas através de interações com os adultos, sendo cruciais os primeiros anos de vida para a aquisição de vocabulário e compreensão dos sons (fonética).

Se, entre pai e criança, um dos dois está comprometido com o ecrã, esta interação fica mais pobre. Para além do impacto na linguagem, é também importante interiorizar o compromisso que tempo excessivo aos ecrãs tem nas funções executivas, cognitivas e até sociais.

Vamos a outro exemplo que certamente todos nós já presenciámos. Quando uma criança está a comer e tem como primeiro plano visual um tablet, há muita informação que não está a ser processada como seria expectável ou desejado.

O tempo da refeição é muito mais do que simplesmente comer. Inclui a componente social, com a promoção de um espaço de interação entre os vários membros à mesa, e, claro, o da alimentação – que integra a estimulação sensorial através do cheiro, do observar as cores e formas dos alimentos, ao seu sabor e textura, e ainda a componente motora, com a manipulação dos talheres, mastigação e deglutição.

Um momento tão simples e rotineiro como o alimentar-se é, de facto, uma fonte insaciável de informação para o cérebro, e, por sua vez, para o desenvolvimento.

Percebo que é inevitável evitar totalmente os ecrãs – fazem hoje parte da nossa vida. É esta a nossa nova realidade e temos de saber vivê-la da melhor forma, no sentido que os benefícios sejam sempre superiores aos riscos.

Podemos procurar otimizar a gestão do tempo durante o qual estamos expostos aos ecrãs, como deixar o telemóvel fora do quarto, restringir tempo direcionado para certas aplicações ou desativar notificações.

Por outro lado, podemos explorar formas bastante mais enriquecedoras de estimular o cérebro, como praticar atividade física, ler, conversar ou simplesmente contemplar.

Este é certamente um tema cuja pertinência não tem prazo de validade e no qual precisamos de focar a nossa atenção.

Temos de redefinir a forma como queremos viver e, mais importante que tudo, como queremos delinear a vida das futuras gerações.

Às vezes, precisamos mesmo de nos desligar para estarmos totalmente presentes!

Não tenha receio de se colocar em “modo de avião”, procure focar o seu tempo em si e nos que estão presentes.

 

Autora: Adriana Justo Correia é Médica Interna de Medicina Geral e Familiar e escreve todos os meses no Sul Informação

 

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