Há espetáculos e concertos em todo o concelho, mesmo em locais menos habituais, exposições, masterclasses, residências artísticas, filmes, instalações, open studios, uma feira, trabalho com a comunidade, um centro de documentação, chefs cientistas e até passeios pela paleontologia.
Tudo isto é o Pedra Dura – Festival de Dança do Algarve que, de 7 a 16 de novembro, regressa a Lagos para desafiar “um corpo erradamente fixo”.
«Trata-se de um festival inteiramente criado no concelho, que espero que cresça, até porque está plenamente integrado no nosso Plano Estratégico Municipal para a Cultura», sublinhou Sara Coelho, vereadora da Cultura da Câmara de Lagos, entidade que é, desde a primeira edição, parceira do Pedra Dura.
A autarca salientou que há «um envolvimento total, completo e absoluto da comunidade» neste festival, que tem atividades pensadas para os alunos «do 1º ciclo ao Secundário, dos dois Agrupamentos de Escolas de Lagos, para a Universidade Sénior e para o público em geral», seja o do concelho, seja quem vem de fora.
O programa, acrescentou, é «abrangente, transversal, com grande diversidade de artistas envolvidos».
Daniel Matos, diretor artístico (com Joana Flor Duarte) e curador do Pedra Dura, salientou, por seu lado, que o festival «abraça o município na sua totalidade, desde a cidade, às suas periferias e freguesias».
A vereadora da Cultura não escondeu a ambição: a ideia é «fazer de Lagos um polo fundamental no Algarve ao nível da dança», apostando na atração de pessoas de fora, mas também no «desenvolvimento dos públicos» locais, na «integração das pessoas, dos cidadãos, dos jovens», levando-os a ter «uma atitude crítica perante a vida e perante a comunidade em que nós estamos» e a própria arte.
Esta que será a terceira edição do festival foi apresentada ontem, em Lagos, com a presença de jornalistas, parceiros, e até de alguns dos intervenientes nas propostas artísticas.
O festival volta este ano a crescer e as suas 37 propostas podem ser consultadas no site, clicando aqui. Ao todo, salientou Daniel Matos, haverá «três estreias absolutas e cinco estreias nacionais» entre as propostas de artistas de várias latitudes e expressões que serão apresentadas ao longo das duas semanas do Pedra Dura.
Num mundo em ebulição, é preciso inventar novas formas de viver em coletivo. Por isso, a 7 de Novembro, o festival arranca simbolicamente numa escola do 1.º ciclo, com Coreografia em sala de aula, de João dos Santos Martins.
Depois, o Pedra Dura orbita em torno do Centro Cultural de Lagos, onde é apresentado o espetáculo de La Compagnie Non Nova – Phia Ménard, L’après-midi d’un foehn – Versão 1.
No mesmo dia, é exibido o filme Darktraces: on ghosts and spectral dances de Jo Castro & João Catarino e inaugura a instalação Cisnografia: a reescrita do cisne de Luiz Antunes, que irá estar no Centro Cultural de Lagos até 31 de Dezembro, bem como a exposição do CenDDA – Centro de Documentação de Dança do Algarve, em parceria com a Biblioteca Municipal.
Ao longo das duas semanas seguintes, as propostas serão tão variadas quanto quem as protagoniza. Vera Mantero apresenta ___chãocéu| com Henrique Furtado Vieira e João Bento.
Os Papillons d’éternité (Matthieu Ehrlacher & Tânia Carvalho) fazem a estreia nacional do concerto Greta Oto.
E depois da estreia no Museu do Louvre (Paris), o coreógrafo brasileiro Volmir Cordeiro apresenta em Lagos Rua, com Washington Timbó e Outrar. Mas há mais.
Novidade desta edição é a aposta nas residências artísticas. O objetivo é «criar vínculos mais duradouros entre artistas e comunidade».
Do Brasil, Andrei Bessa e Izabel Nejur partilham os seus processos de criação, no contexto da Queer Art Lab, projeto que promove a diversidade artística e cultural, incentivando propostas inovadoras e colaborativas que refletem a pluralidade de vozes e experiências da comunidade LGBTQIA+.
De Itália, Matteo Sedda desenvolve a experiência hipnótica de Fuck me blind e interpreta neverstopscrollingbaby de Vitamina.
E Beatriz Marques Dias e Alexandre Moniz mergulham durante 15 dias no Centro Ciência Viva de Lagos para encontrar um Universo no céu da boca.
As novidades continuam com Márcia Lança a apresentar o solo Cavala, espetáculo apresentado apenas em Barcelona e que aqui terá estreia nacional.
Os Palcos Instáveis Segunda Casa saltam do Porto para Lagos para trazer performances de Maria R. Soares & Antonio Marotta e Margarida Constantino. Esta última, aliás, tem «raízes e família em Lagos, embora resida atualmente na Holanda». Será a primeira vez que se apresenta na cidade algarvia.
O angolano Fábio (Krayze) Januário revisita o passado de guerra civil em Angola para desvendar a força de resistência do kuduro, em Musseque.
De regresso ao Pedra Dura, estão Ana Borralho & João Galante, que tinham marcado presença na primeira edição e apresentam agora O centro do mundo, bem como Silvana Ivaldi, que apresenta Icona a partir do capítulo Paraíso, da Divina Comédia de Dante, e Von-Cente, que aquecerá o final da primeira semana com um Dj set de sonoridades forradas a sofisticação.
Para os amantes de imagens em movimento, o festival conta ainda com projeção do documentário Obcecada com a Luz, um filme sobre a bailarina Loïe Fuller, que se estreou em Cannes, bem como Crying Cycle 1, a estreia do primeiro capítulo de uma trilogia de vídeo-dança de Daniel Matos & João Catarino.
Aos mais novos, está reservada a mostra de vídeo-dança, Little Shadow.
No universo da música, Violeta Azevedo faz-se acompanhar de uma orquestra eletrónica em Canção para Caranguejes e Lana Gasparotti é a responsável pela instalação sonora e live act, L Í Q U I D A, na Taberna do Guerreiro, um «espaço muito pequeno» da cidade de Lagos.
Daniel Matos explicou que Lana Gasparotti é a «artista local responsável pela identidade sonora do festival».
A encerrar o festival, o Armazém Regimental de Lagos vai encher-se ao som daquele que é já uma lenda urbana e suburbana, o DJ Marfox.
Para ficar a conhecer todos os detalhes deste programa, que conta ainda com uma jam session de Rina Marques (cruzando música, artes plásticas, dança, escrita), com a F.E.R.A. – Feira de edições realizadas por artistas da Apneia Colectiva, com o lançamento do jornal Coreia 11# (que será distribuído de forma gratuita em Lagos), com masterclasses de Silvana Ivaldi, Sylvia Rijmer & Cláudia Sevivas, Connor Scott e Pedro Sena Nunes, com propostas do Centro Ciência Viva de Lagos e com um podcast e conversas com artistas conduzidas por Tiago Mansilha, aceda ao site do festival, clicando aqui.
No ano passado, o festival Pedra Dura contou com mais de 3000 pessoas nas suas diversas iniciativas. «Ficámos completamente assoberbados pela resposta do público», garantiu Joana Flor Duarte, uma das diretoras artísticas. «Tivemos eventos praticamente esgotados», muitas vezes com um público que se notava não estar habituado a espetáculos de dança ou, pelo menos, àquele tipo de dança.
A própria data escolhida para o festival – em Novembro, fora da época alta do turismo – tem um objetivo: é dirigir este evento «para as pessoas de cá que, no Verão, não têm tempo». Mas também apanhar todos os outros, como os nómadas digitais, que têm bastante expressão no concelho de Lagos.
«A dança é uma linguagem universal, sem barreiras linguísticas» o que facilita essa transversalidade, acrescentou Joana Flor Duarte.
O Pedra Dura, que conta com a direção artística de Daniel Matos e Joana Flor Duarte, é uma coprodução da Cama – Associação Cultural e do Município de Lagos, com o apoio da Direção Geral das Artes (DGArtes).
Conta ainda com o apoio da RTCP – Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, através do Centro Cultural de Lagos.
As parcerias locais envolvem o LAC – Laboratório de Actividades Criativas, o Teatro Experimental de Lagos (TEL), o Centro Ciência Viva de Lagos, o Museu, a Biblioteca Municipal.
Todos estes são «espaços de diálogo, de reflexão», que «nos ajudam a conseguir construir e a desenhar uma programação cada vez mais completa».
A fechar, a vereadora Sara Coelho rematou: «muito obrigada por este festival, porque vem mexer com o tecido social e levar a que as pessoas participem. A questão dos momentos abertos, acessíveis ao público, a diversidade de públicos e de propostas é tremendamente importante para que nós possamos, de facto, mudar mentalidades e levar as pessoas a novos horizontes».
No fundo, como frisou Joana Flor Duarte, o Pedra Dura, que já é, em si, um festival descentralizado, fora dos grandes centros, também quer «descentralizar a mente».
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