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Muito conhecimento sobre os habitats das ilhas barreira e sobre duas das principais espécies de aves marinhas que ali nidificam, a remoção de vegetação invasora e até ferramentas para evitar a captura acidental de aves nas artes de pesca são alguns dos resultados do LIFE Ilhas Barreira, que anda há cinco anos a estudar a Ria Formosa e cujos parceiros prometem manter o trabalho que vêm fazendo, mesmo após o fim do financiamento europeu.

Os resultados deste projeto financiado pela União Europeia, coordenado pela Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) e que conta como parceiros com a Universidade do Algarve e os seus centros de investigação CCMAR e CIMA, com o MARE da Universidade de Coimbra, com o ICNF, com o RIAS e com a empresa Animaris, foram apresentados na quarta-feira, dia 9, no Centro de Educação Ambiental de Marim, na sede do Parque Natural da Ria Formosa, em Olhão.

À margem da sessão, Joana Andrade, coordenadora do projeto LIFE Ilhas Barreira e do departamento de conservação marinha da SPEA, fez um balanço positivo do projeto, em declarações ao Sul Informação.

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«Durante estes 5 anos, os vários parceiros do projeto, de forma muito articulada, conseguiram trabalhar em várias vertentes da conservação das ilhas Barreiras. As espécies alvo do projeto, que eram as aves marinhas e a vegetação prioritária, as dunas cinzentas, foram alvo de uma série de intervenções», revelou.

Uma das “batalhas” foi contra as espécies invasoras. «Tentámos combater o problema das espécies não nativas de plantas e de animais, sobretudo na Ilha Deserta. Mas também trabalhámos a nível da sensibilização das várias atividades que existem na Ria Formosa, como o turismo, que é uma atividade muito relevante, e tentámos que diminuíssem, no fundo, as pressões do turismo sobre este habitat tão sensível e tão importante da Ria Formosa».

«No campo das espécies invasoras, conseguimos remover as principais plantas invasoras da Ilha Deserta. Neste momento, temos uma ilha livre das plantas mais nocivas», disse ao nosso jornal Joana Andrade.

Também foi possível «mapear a distribuição dessas espécies de plantas invasoras nas restantes ilhas. Isso permitiu que alguns municípios começassem a utilizar essa informação para também remover gradualmente essas plantas».

Ao combater as espécies não nativas, permite-se «que o habitat natural das Ilhas Barreira seja restaurado, que as plantas nativas que existiam e que foram, de certa maneira, ocupadas por estas, possam ter a possibilidade [de prosperar], porque isso torna as ilhas mais resilientes também à sua função, que é, no fundo, defender a Ria Formosa do mar».

No futuro e na sequência deste projeto, explicou Óscar Ferreira, do CIMA – Centro de Investigação Marinha e Ambietal da UAlg, manter-se-á a monitorização das dunas cinzentas da Deserta.

Além de «algum pisoteio», tem contribuído para a degradação deste habitat a crescente presença de gaivotas-de-audouin. No entanto, os investigadores acreditam que, sendo este um fator natural de degradação, é expectável que a vegetação consiga recuperar assim que as gaivotas escolham outros locais mais abrigados para nidificar.

 

Sul Informação

 

Este projeto, que está na reta final, também permitiu entender melhor «a importância da Ria Formosa para as aves marinhas nidificantes, como é o caso da gaivota-de-audouin, que é uma espécie de gaivota ameaçada, e a chilreta, que é uma pequena andorinha do mar».

«Para além da monitorização que foi feita, que nos permitiu avançar com ações para as proteger da melhor forma, vão ser promovidas outras iniciativas, agora que o projeto terminou. Com os resultados que temos, vamos conseguir manter algumas dessas ações no terreno, como a vedação das colónias de chilreta, porque são na praia. A nidificação acontece na mesma altura em que temos mais visitantes nas praias e há o risco de pisoteio dos ninhos. A vedação dessas áreas e a sinalética permite que as pessoas estejam alerta para evitar perturbar as colónias», contou Joana Andrade.

No caso da gaivota-de-audouin, «a população tem crescido. Ao longo do projeto, conseguimos perceber que ela se foi expandindo, nomeadamente para a ilha vizinha da Culatra, o que nos traz agora também mais desafios para o futuro».

Enquanto a gaivota-de-audouin estava restrita à Ilha Deserta, «que é uma ilha que não tem habitantes e que sofre apenas da pressão da visitação», na ilha da Culatra há várias comunidades residentes, «com as vantagens e as desvantagens que isso pode trazer, nomeadamente a presença de cães e gatos, que são um dos principais fatores de ameaça para estas aves nidificantes».

«Os desafios no futuro vão passar por trabalhar de forma mais próxima com as comunidades da ilha da Culatra, com as autoridades, como é o caso do ICNF, e com os municípios, para tentarmos perceber se a colónia que agora se instalou na ilha da Culatra tem possibilidade de se manter no futuro, em equilíbrio também com as comunidades existentes», antecipou a coordenadora do projeto.

No caso da Chilreta, como explicaram durante a sessão os investigadores do MARE – Centro de Ciências do Mar e Ambiente da Universidade de Coimbra, foi feito um censo da população existente, tendo sido estipulado que nidificam, em média, cerca de 350 casais da também conhecida por andorinha do mar anã na zona lagunar algarvia, havendo uma tendência de aumento nos últimos anos, em relação ao início do século.

A equipa de Coimbra também fez o seguimento do número de casais de gaivota-de-audouin, que estão a crescer desde 2014 – a maior colónia do mundo desta espécie ameaçada situa-se na Ria Formosa. Entre 2018 e 2024, o número de casais nidificantes desta espécie, no Algarve, aumentou 2934 para 7292.

 

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Foto: Elisabete Silva | SPEA

 

Os parceiros do LIFE Ilhas Barreira também se focaram no desenvolvimento «das ferramentas necessárias» em várias frentes, desde logo a da «sensibilização».

«Houve uma série de ações com todas as escolas dos vários municípios da Ria Formosa, foram produzidas ferramentas que se usavam nessas atividades e que são agora mantidas. Também criámos um caderno pedagógico para professores que permite que eles, no contexto escolar, possam trazer a Ria Formosa para a sala de aula, nomeadamente as Ilhas Barreira», este último apresentado na sessão de dia 9.

Além das ações em terra, o Life Ilhas Barreira também olhou para a parte marinha e para as atividades que ali ocorrem, nomeadamente a pesca, dada «a importância que o meio marinho tem para estas espécies».

Uma das preocupações dos parceiros do projeto foi perceber como se mitiga o problema das capturas acidentais de aves marinhas.

Neste campo, os investigadores do CCMAR testaram diversas soluções, nomeadamente um dispositivo sonoro, com o som de aves em stress, um papagaio com a forma de uma ave de rapina e a adoção de boas práticas na gestão dos resíduos de peixe, dentro das embarcações, mantendo as redes limpas e reservando todas as rejeições e vísceras de peixe dentro de um balde, a bordo – que mais tarde atiravam ao mar, quando o lançamento das redes estivesse já terminado.

Esta última solução, segundo a investigadora Ana Marçalo, foi a que se mostrou mais eficaz.

Outra das preocupações foi tentar que «a área protegida que atualmente existe, designada como Zona de Proteção Especial, seja alargada por causa da presença da gaivota-da-audouin e da chilreta», espécies «que dependem muito da zona marinha para a sua alimentação durante o período de reprodução. Portanto, estamos em conjunto com o ICNF e com outros parceiros a rever, a propor um alargamento da ZPE da Ria Formosa, que esperamos que seja também um dos grandes contributos deste projeto».

 

Sul Informação

 

Nos próximos cinco anos, os parceiros comprometeram-se a continuar a fazer o trabalho que fizeram no terreno, durante o projeto. «A diferença é que não vamos ter agora o apoio do Programa Life a financiar essas ações. É, no fundo, um compromisso de todos».

Isto significa que se vão manter «as monitorizações, algumas ações de conservação, sensibilização, formação de professores e de operadores turísticos» e que vai continuar «o trabalho com os pescadores», aproveitando identificar essas prioridades de trabalho no futuro e procurar sinergias para as poder manter.

No futuro, os promotores do Life Ilhas Barreira esperam que o trabalho que realizaram possa inspirar novas iniciativas.

«Este projeto esteve muito focado nas Ilhas Barreira, sobretudo na Ilha Deserta, que era a ilha principal, digamos assim, das áreas de intervenção. Mas temos toda uma Ria Formosa» onde focar a atenção, considerou Joana Andrade.

«Eu diria que isto foi só o início. Esperemos que todos estes parceiros e outros que se juntem possam, no futuro, contribuir para que toda a Ria Formosa, que é uma área muito particular no nosso país, possa manter-se e ser sustentável», concluiu a coordenadora do LIFE Ilhas Barreira.

 

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