Sem arroz, nem água desperdiçada a montante, lagoa de Alcantarilha está quase seca

A 10 de Julho, morreram muitos peixes, sobretudo tainhas

Peixes mortos e lagoa quase sem água – Foto: Almargem

A falta de água na Foz da Ribeira de Alcantarilha que levou à recente morte de peixes, denunciada esta semana pela associação ecologista Almargem, deve-se sobretudo ao facto de este ano, devido à seca, não ter sido cultivado arroz e estar a ser desperdiçada menos água nas zonas de regadio agrícola a montante.

Em resposta às perguntas colocadas pelo Sul Informação, depois da denúncia da Almargem, que classificou a situação como «dramática», a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) explicou que o que está a ocorrer na ribeira de Alcantarilha «decorre da situação de seca hidrológica associada à ausência de caudais naturais, da eliminação das descargas de água no final dos canais de distribuição do perímetro de rega de Silves, Lagoa e Portimão, decorrentes das medidas de eficiência hídrica adotadas (modernização do sistema de distribuição de água) e das restrições decorrentes da implementação do plano de contingência para mitigação dos efeitos da seca, que impede a realização da exploração de arroz no corrente ano».

A APA acrescenta, na sua resposta, que a ribeira de Alcantarilha «tem beneficiado de excedentes de água provenientes do perímetro de rega de Silves, Lagoa e Portimão e das culturas temporárias que tradicionalmente são realizadas no perímetro, assim como o contributo das rejeições de duas ETAR de Lagoa, o que permitiu a manutenção de grandes planos de água no troço terminal da ribeira – Lagoa de Alcantarilha, funcionando em regime seminatural».

Ora, este ano, a situação alterou-se, o que levou a que a lagoa na foz da Ribeira de Alcantarilha quase tenha secado, provocando, segundo a Almargem, uma «enorme mortandade de animais, em particular de peixes, face a falta de água e a baixa concentração de oxigénio».

 

Foto: Almargem

 

A APA acrescenta igualmente que as águas que costumavam alimentar a lagoa de Alcantarilha durante o Verão eram «afluências artificiais de água», pelo que, no período estival, «o desafio colocado na gestão da Lagoa de Alcantarilha foi, ao longo dos tempos, evitar que o nível de água não ultrapassasse determinados valores para prevenir riscos de inundação e insalubridade na zona baixa de Armação de Pêra» e também para evitar «a criação de condições favoráveis à proliferação de mosquitos», como aconteceu em 2013.

Para evitar tudo isso, «ao longo dos últimos anos, eram realizadas aberturas da foz da ribeira, permitindo a descarga das águas no troço terminal da ribeira para o mar». Por norma, havia «várias aberturas ao longo do período estival em função da evolução do nível de água na zona húmida».

A APA acrescenta que tem estado a acompanhar o «decréscimo dos níveis de água da zona húmida», tendo constatado uma «mortalidade de peixes, maioritariamente tainhas, a 10 de julho».

Por isso, «em articulação e colaboração do Município de Silves», foi decidido abrir foz, «no período de ocorrência de marés vivas, que corresponde à janela temporal mais adequada para assegurar a entrada de água salgada no troço terminal da ribeira, potenciando o sucesso da operação, e assim minimizar a morte dos peixes».

A operação acabou por ter lugar no dia 22 de julho, tendo sido feita «a título experimental» e «com algumas reservas quanto à eficácia da transferência de água, no sentido mar-ribeira, tanto no que respeita ao volume, bem como, ao aumento significativo da cota de água na lagoa e respetiva manutenção durante a janela temporal de marés mortas».

 

Foto: Almargem

 

Além disso e ao contrário do que a associação Almargem afirmava, no seu comunicado, a APA garante que «o canal principal da ribeira não se encontra em condições de eutrofização, estando colonizado por plantas aquáticas».

A APA-ARH Algarve acrescenta que os seus serviços têm feito «um acompanhamento da situação no local, sendo necessário continuar a avaliar a eficácia da abertura realizada e a respetiva evolução dos níveis de água na zona húmida».

No seu comunicado, a associação ambientalista Almargem exortava «as entidades com competência sobre esta área, a promoverem a urgente valorização (que não passe apenas por intervenções pontuais de cosmética), bem como classificação desta importante zona húmida, por forma a que recupere o seu enorme potencial numa área tão icónica que reúne valores naturais de relevância especial e que se prepara para receber nas proximidades uma “Área Marinha Protegida” (AMPIC da Pedra do Valado)».

Os ambientalistas algarvios recordavam ainda que «a Foz Ribeira de Alcantarilha se encontra incluída na área proposta para integrar a futura Reserva Natural [da vizinha Lagoa dos Salgados] – cuja criação continua pendente por razões desconhecidas, volvidos mais três anos após a Consulta Pública».

A APA, por sua vez, enquadrando as transformações que esta pequena zona lagunar tem sofrido, explicou que a ribeira de Alcantarilha se inclui «num conjunto de sistemas húmidos costeiros do litoral algarvio em processo de colmatação, o que significa que as suas fozes têm estado ativas (abertas ao mar) de forma intermitente ao longo dos últimos séculos».

Neste caso, «embora possam ocorrer, de forma esporádica, aberturas espontâneas para o mar em situação de precipitação significativa na bacia hidrográfica», é o município de Silves quem «assegura a gestão do nível de água na zona húmida em função das condições de drenagem das águas pluviais nas áreas urbanas adjacentes, sobretudo no núcleo urbano mais antigo e a cotas mais baixas».

 

Fotos: Almargem

 

 

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