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Os signos distintivos territoriais e a arte da composição das CRP

Aos olhos do observador inteligente, os territórios são cristais multifacetados, reinventados e recriados de forma continuada.

Acresce que a cooperação territorial descentralizada, um recurso acessível e barato, aumenta os ativos à nossa disposição e valoriza os elementos que antes podiam ser considerados marginais.

Além disso, se dermos um passo atrás, podemos observar como os padrões na natureza e na sociedade se reforçam mutuamente e formam outros tantos signos distintivos da nossa identidade.

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Estas breves referências servem apenas para recolocar o nosso problema, ou seja, os territórios têm muitos mais recursos e ativos do que nós imaginamos, apenas não foram ainda redescobertos e recompostos pela investigação-ação da economia criativa.

Esta é, também, a essência dos signos distintivos territoriais (SDT), fruto da arte da recomposição de fatores socioeconómicos e socioculturais, que permite novas hermenêuticas territoriais e, portanto, novos significados e significações, enquanto transporta valor imaterial para a valorização de sistemas produtivos locais e regionais.

Na verdade, uma indicação geográfica, uma denominação de origem, uma marca coletiva, uma figura prestigiada, uma paisagem literária, um ícone histórico-cultural, um endemismo local, o artesanato de qualidade, a gastronomia tradicional, todos são um bom pretexto para iniciar a arte da recomposição das cadeias de valor tradicionais.

A economia criativa, nas suas múltiplas dimensões – artística e cultural, mas, também, economia circular e economia dos bens comuns colaborativos – joga aqui um papel decisivo pois abre a porta a inúmeros fatores imateriais e intangíveis que contribuem fortemente para recriar as cadeias de valor hoje existentes.

Há mesmo, em alguns casos, uma inversão da cadeia de valor, pois é a mais-valia simbólica da economia do imaterial e do intangível que determina a importância e a projeção económica da cadeia de valor material.

É uma grande oportunidade para as regiões mais pobres em recursos materiais.

No mesmo sentido, joga a economia circular, pois na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Tal como a economia do imaterial, também a economia circular transforma profundamente as cadeias de produção e valor.

A sinergia toma progressivamente o lugar da entropia e isto por duas vias: os resíduos que se transformam em recursos, por sua vez internalizados em atividades económicas, e as externalidades negativas que são reduzidas ou eliminadas e que são, igualmente, internalizadas na atividade económica.

A produção específica de internalidades é, doravante, não apenas um campo específico de investigação, mas, também, uma forma de autorregulação da cadeia local de valor e ao privilegiar a prestação de serviços é toda a comunidade local que beneficia com essa nova rede de trocas.

A título de exemplo, creio que, no próximo futuro, naquilo que eu designo como a 2ª ruralidade, a novidade mais importante será, justamente, a emergência de uma grande variedade de redes e plataformas tecnológicas e sociais, com graus diferenciados de enraizamento no território.

Inicialmente, tudo poderá parecer um pouco caótico, mas na 2ª ruralidade os neorurais vindouros desempenharão um papel fundamental e tornarão o campo quase irreconhecível tal como o conhecemos hoje.

Formar-se-ão comunidades locais e atores-rede onde o capital social será tão ou mais decisivo que o capital financeiro.

A responsabilidade social, ambiental e cultural irá progressivamente incorporar a inteligência coletiva territorial que, assim, adotará uma coreografia política e social mais complexa e diferente da atual, com um lugar especial para a solidariedade social e a ética do cuidado, ou seja, os bens comuns da sociedade colaborativa.

Esta será a principal tarefa do próximo futuro, a criação de uma inteligência coletiva territorial capaz de enquadrar o ecossistema do rural profundo.

Não tenho dúvidas, haverá mais campo na cidade e mais cidade no campo. As plataformas colaborativas serão uma ferramenta fundamental para montar esta inteligência coletiva territorial.

Eis alguns exemplos onde podemos fazer a prova da conexão necessária entre comunidades inteligentes, redes distribuídas e plataformas digitais (CRP): rede de alojamento local, rede local de micro e pequenas agriculturas (e banco de solos), rede de economia circular, rede de cuidados ambulatórios de saúde, rede local de produção de energia, rede de mercados de ocasião, rede de cohousing e envelhecimento ativo para a comunidade sénior, rede de promoção de cuidados terapêuticos, rede de promoção do património natural e cultural, rede de mobilidade partilhada, rede de artes e ofícios tradicionais, rede de cooperação e extensão rural, rede de trabalho voluntário, etc.

A arte da composição das CRP vai trazer-nos uma espécie de realidade aumentada sob a forma de gestão comunitária e agrupada de aldeias e vilas, de economia da partilha e economia circular, de cohousing e economia solidária, onde não haverá recursos ociosos e expectantes e onde a patrimonialização dos recursos arqueológicos e históricos e a sua moderada turistificação serão, também, uma realidade.

 

Nota Final

Ao contrário das redes centralizadas que reproduzem o poder hierárquico e vertical, as redes digitais distribuídas são relações sem poder, laterais e colaborativas, sem um centro ordenador.

As redes distribuídas fazem parte da chamada internet primordial ou internet dos cidadãos, através da qual se praticará a economia dos bens comuns colaborativos, uma economia entre pares de intermediação muito mais simples.

Os espaços de coworking, os fablab, as incubadoras e as empresas start up, os centros de investigação, as escolas profissionais e as escolas superiores agrárias, as associações de desenvolvimento local, as comunidades intermunicipais, os clubes e associações de produtores e consumidores, serão os locais privilegiados para fazer nascer estas redes distribuídas.

Hoje, porém, à nova economia digital não bastam as comunidades online criadas de geração espontânea em espaços de coworking ou fablab municipais.

Esta é a versão fashion do problema que temos entre mãos e que as políticas públicas de coesão alimentam amiúde, com incentivos de ocasião, quantas vezes sem sucesso visível ou aparente.

Também não bastam as start-up geradas em incubadoras e aceleradoras, quais corredores solitários em busca de uma pista segura que lhes garanta um mínimo de sustentabilidade.

De facto, há uma diferença enorme entre o conforto de uma rede digital gerida por uma comunidade online e o desconforto de um problema real gerido por uma comunidade offline, já para não falar da qualidade do ator-rede que administra a rede digital distribuída.

Nestes termos, a rede digital não será distribuída, será apenas mais um vendedor de ilusões sem impacto real sobre os problemas existentes.

À nossa frente está, portanto, um trabalho enorme de construção social e política de uma sociedade colaborativa a partir de uma base comum de inteligência coletiva territorial (racional, emocional, natural e artificial) que as CRP podem ajudar a montar e operar.

 

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