Nem toda a gente se pode gabar disto, mas eu posso. Passou depressa, foi só por um dia, mas fui Presidente – de uma mesa de voto nestas eleições europeias.
Parece não ser grande coisa, mas o meu espírito cívico vem de longe e recordo-me de, logo a seguir ao 25 de Abril, me voluntariar para fazer parte das mesas de voto, numa altura em que não se recebia nada. Quando começaram a pagar aos membros da mesa, deixei de achar piada à coisa e dei o lugar a outros.
Agora, no estado de reformado e sabendo da dificuldade que existe em arranjar pessoal para as mesas, mesmo pagando, voluntariei-me e, talvez devido à minha provecta idade, nomearam-me logo Presidente. E ainda bem que estou em boa forma física, pois o saco com o material eleitoral pesa uns 10 quilos!
Vamos agora ao caso presente, destas últimas eleições europeias que, segundo a documentação recebida, implicava começar às 6 da manhã e prolongar-se até às 22 horas. Por este dia de trabalho, o pessoal das mesas vai receber cerca de 50 euros, portanto a dose de civismo tem que ser superior à motivação financeira.
Além disso, as eleições europeias são muito mais finas. Até aqui, os cadernos eleitorais eram em papel, agora são virtuais e computorizados! Isto é tão moderno que tivemos direito a um dia de formação, em que fomos testar o sistema. Correu bem, até tentei votar três vezes com o meu cartão de cidadão, só para testar, mas o sistema não deixou, só aceitou da primeira vez.
No domingo, lá peguei no saco com o material e abalei para a secção de voto onde já havia uma série de zombies, ou seja, a malta das mesas.
Quando as portas do local da votação abriram, às 6 da manhã em ponto, fui para a secção onde já estava o TAI (técnico de apoio informático) a começar a montar os computadores. Como só estávamos dois membros da mesa, esperámos e chegou o terceiro, o que nos permitiu constituir a mesa, e chegou o quarto, o que já nos dava hipótese de fazer uma escala para ir almoçar (recordo que têm que estar sempre três membros na mesa).
Tudo preparado, tratámos dos votos antecipados, e ficámos à espera dos votantes. A nossa perspetiva era de que iríamos ter uma afluência muito baixa, devido a vários fatores, nomeadamente a tradição da baixa votação nas europeias.
Houve um fator extra para a fraca presença na minha mesa: estávamos num sítio em que, para lá chegar, o eleitor passava por outras mesas e, obviamente, votava logo aí. Ou seja, só iam ter connosco os fiéis que se lembravam onde tinham votado na última vez ou aqueles que íamos arrebanhando porque, de vez em quando, um de nós ia angariar clientes às mesas que tinham bichas, fazendo publicidade que, na nossa mesa, não tinham ninguém à frente e despachavam-se depressa.
O sistema informático portou-se bem, com exceção da agitação quando falhou perto do meio dia, mas tudo se resolveu, permitindo o voto em mobilidade – e tivemos muita gente de férias no Algarve a votar! E, mais uma vez tentei votar duas vezes, mas o sistema não deixou.
Perto das 19 horas, aproximando-se a hora do fecho das urnas, aumentou a excitação, procedemos de acordo com as regras, contamos os votos, bateu tudo certo, preenchemos a papelada e fui entregar tudo na Câmara.
Uma palavra para os meus colegas de mesa: fomos espetaculares, simpáticos, competentes, ou seja, uma verdadeira equipa que já está disposta a ir às próximas eleições.
Resumindo: Dever cívico cumprido!!!