Meia centena de investigadores da Península Ibérica e Norte de África vão debater os espaços funerários no sudoeste do Al-Andalus no “Seminário Maqbara II: Do Šharq ao Garb: Espaços funerários, sociedade e urbanismos islâmicos”, que vai decorrer a partir de amanhã, dia 16 e até sábado, dia 18, no Cine Teatro Marques Duque, em Mértola, vai acolher
Este será o segundo grande evento internacional organizado pelo projeto de I&D “Maqbara. Arabização, islamização e resistências através dos espaços cemiteriais no sudeste do al-Andalus”, com a colaboração do Campo Arqueológico de Mértola, da Universidade de Granada – Departamento de História Medieval, financiado pelo Ministério da Ciência, Inovação e pela Câmara Municipal de Mértola e entidades locais.
«Os espaços funerários, conhecidos como maqbara, ḍarīḥ, ğabbāna ou rawḍa, têm sido muitas vezes tratados como lugares isolados, sem ter em conta a sua relação com o grupo humano que os fundou, os utiliza para enterrar os seus entes queridos e os gere. Do ponto de vista escatológico, para as três religiões do livro, os cadáveres têm um valor especial, para além do sentimental, devem seguir rituais para garantir a salvação. Assim, os cemitérios (κοιμητήριον) tornam-se os dormitórios dos mortos até ao dia da ressurreição», segundo os organizadores do evento.
Os objetivos do projeto Maqbara II «são analisar as últimas descobertas sobre as maqbaras do Al-Andalus, debater sobre as contribuições das ciências, como a estatística, a antropologia ou a biomedicina para o estudo das sociedades medievais e, finalmente, estabelecer uma proposta sobre a relação entre os seres vivos e os cemitérios».
«A prosopografia, a perspetiva de género e a análise de objectos também estarão presentes. Assim, a interdisciplinaridade é assegurada para, em última análise, responder à questão principal do projeto: islamização, arabização e presença de grupos que preservam a sua identidade», acrescentam.
Neste caso, «foi dada prioridade a propostas e programas de investigação sobre o atual território português, sabendo-se que são escassos ou mesmo inexistentes os trabalhos que tentam compilar e coligir resultados para dar o grande salto que implica gerar um conhecimento mais exaustivo sobre estas comunidades islâmicas. É necessário, aqui e ali, integrar os estudos sobre as zonas cemiteriais nas linhas de investigação histórica e arqueológica. As maqbaras não são espaços vazios e pouco frequentados, nem são o negativo das cidades, mas lugares cheios de vida, de construções e em contacto direto com as zonas urbanas», concluem.