Só poeiras e incêndios “estragam” os «bons níveis de qualidade do ar» no Algarve

Valores de qualidade do ar monitorizadas nas quatro estações da região têm estado «consistentemente abaixo dos valores limite de qualidade do ar que estão legislados em Portugal»

O Algarve «tem, em regra, bons níveis de qualidade do ar», sobretudo no que diz respeito aos poluentes de origem antropogénica, ou seja, resultantes da atividade humana. Mas, sempre que há um episódio de poeiras vindas do Norte de África, como aconteceu ontem, ou um incêndio, a qualidade do ar pode piorar.

Para explicar como funciona a rede de estações de monitorização da qualidade do ar em funcionamento na região, o Sul Informação falou com Maria José Nunes, diretora da Unidade de Ambiente, Conservação da Natureza e Biodiversidade da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional (CCDR) do Algarve.

É que a CCDR Algarve é a entidade responsável pela gestão e manutenção das quatro estações, situadas no Cerro (Alcoutim), Escola Joaquim Magalhães (Faro), Cerro do Malpique (Albufeira) e Escola Major David Neto (Portimão).

 

Figura 1 – rede de estações de monitorização da qualidade do ar no Algarve

 

Maria José Nunes explica que a estação de Alcoutim é rural de fundo, enquanto as de Albufeira e Faro são de fundo. E o que quer isso dizer?

Que «não há fonte de emissão antropogénica por perto», ou seja, que não há fonte de emissão de eventuais poluentes causados pela atividade humana nas imediações.

«No caso da Estação Urbana de Fundo do Cerro de Malpique, em Albufeira, e da Estação Urbana de Fundo da Escola Joaquim de Magalhães, em Faro, elas estão na cidade, mas são de fundo porquê? Porque não estão junto de uma via rodoviária com muito trânsito, acima de x veículos por dia», explicou Maria José Nunes.

«A estação de Faro está dentro do recinto da Escola Joaquim de Magalhães, portanto está num sítio muito recatado. A estação de Malpique, em Albufeira, está lá em cima do depósito de água, também é um sítio extremamente recatado, os valores são baixinhos».

Por exemplo, «se nós fôssemos pôr uma estação na Avenida Cidade de Hayward, aqui em Faro, seria uma Estação Urbana de Tráfego». E os índices de poluentes seriam com certeza diferentes, bem mais elevados.

Das quatro estações para medir a qualidade do ar existentes no Algarve, apenas a de Portimão é «de tráfego», tendo sido instalada «ao lado de uma das vias de acesso à V6», um dos locais com mais trânsito na cidade.

«Realmente, à hora de ponta, esta estação regista valores mais elevados de óxidos de azoto e de partículas», devido à movimentação dos automóveis, mas esses valores são considerados bons, uma vez que «não chegam a violar o limite que está previsto na lei».

Ontem à tarde, nessa estação da cidade de Portimão (ver figura 2), apesar de os índices de dióxido de azoto e monóxido de carbono estarem normais, o índice de partículas PM10 (partículas de diâmetro igual ou inferior a 10 micrómetros µm) estava um pouco alto, como se pode ver no gráfico. Esse valor de partículas terá tido a ver com a presença de poeiras, fazendo com que a qualidade do ar nessa estação fosse apenas média.

 

Figura 2 – Níveis de partículas na estação de Portimão, ontem à tarde

 

De tal forma que, como se pode ver na figura 1, o amarelo desta estação contrastava com o verde escuro (boa qualidade) das estações do Cerro de Malpique (Albufeira) e do Cerro (Alcoutim) ou mesmo com o verde claro (muito boa qualidade) da Escola Joaquim de Magalhães, em Faro.

A estação mais a sul do continente é a de Alcoutim. Apesar de se situar num local alto, com bons ares, «é aquela que geralmente apanha em primeiro lugar os eventos de partículas, como tivemos há duas semanas, quando os valores registados foram muito elevados».

«Nós não temos nenhuma estação próxima de zonas industriais, porque, conhecendo o tecido económico da região, não temos indústrias pesadas, portanto também não sentimos essa necessidade», acrescentou aquela responsável.

É que «as localizações das estações são fruto de diretivas e notas técnicas que indicam a distância a que têm que estar, o que é que lá tem que estar, o que é que tem que ser medido».

«Tudo isto é um trabalho que é feito pelos técnicos da unidade orgânica que eu dirijo na CCDR Algarve, e que é um trabalho extremamente bem qualificado pelos laboratórios nacionais, uma vez que é preciso fazer toda a manutenção. Isto não é como um aspirador lá de casa em que nós só limpamos o filtro de vez em quando. Aqui há muita coisa para fazer, muita coisa para mudar, para medir, para calibrar, de modo a que os dados que estão no site QualAR sejam rigorosos».

«Isto significa que tem que haver um compromisso financeiro muito elevado, uma vez que estes equipamentos são muito sensíveis», disse ainda a diretora da Unidade de Ambiente.

Maria José Nunes salientou, na sua entrevista ao Sul Informação, que, «em geral, os valores da qualidade do ar no Algarve são bons ou muito bons».

Só há «violações» dos valores máximos quando há os episódios de partículas em suspensão, as tais poeiras do deserto trazidas do Norte de África pelos ventos do sul e sueste, bem como «quando há incêndios». «De resto, é uma situação que é perfeitamente pacífica», garante a responsável técnica da CCDR Algarve.

 

 


O tecido económico da região do Algarve, alicerçado na sua maioria nas atividades de comércio, serviços e transformação agroalimentar, «não gera emissões atmosféricas relevantes, pelo que os valores de qualidade do ar monitorizadas nas quatro estações de monitorização da região têm estado consistentemente abaixo dos valores limite de qualidade do ar que estão legislados em Portugal, através do Decreto-Lei n.º 102/2010, de 23 de setembro», salienta a CCDR Algarve.

Os principais poluentes indicadores da situação de qualidade do ar na região são as partículas em suspensão, o ozono e os óxidos de azoto, sendo igualmente monitorizados, os compostos orgânicos voláteis, o dióxido de enxofre e o monóxido de carbono.

Face à proximidade do continente africano, «a região é frequentemente destino de massas de ar contendo grandes concentrações de partículas em suspensão, classificado como evento natural e que são previamente alvo de aviso à população para cuidados redobrados sobre a exposição a estes fenómenos», acrescenta a CCDR Algarve.

Os dados da qualidade do ar monitorizados nas estações de monitorização podem ser consultados online em QualAR, podendo ser obtidos relatórios de cada estação e de cada poluente medido.

 

Leia mais um pouco!
 
Uma região forte precisa de uma imprensa forte e, nos dias que correm, a imprensa depende dos seus leitores. Disponibilizamos todos os conteúdos do Sul Infomação gratuitamente, porque acreditamos que não é com barreiras que se aproxima o público do jornalismo responsável e de qualidade. Por isso, o seu contributo é essencial.  
Contribua aqui!

 



Comentários

pub