Mesquita de Faro ainda nem no papel está e já há quem a critique

Tema tem gerado polémica

O sol está a pôr-se. São quase 20h00 e terminou mais um dia de trabalho. No Bom João, em Faro, dezenas de homens dirigem-se para uma pequena loja de um prédio transformada em local de culto. Levam kufis (chapéus de oração), alguns jelaba (peça de vestuário tradicional). São à volta de 70, 80, num espaço exíguo. Por vezes, centenas. Querem construir uma mesquita que lhes dê condições para poderem rezar, mas a ideia está a gerar controvérsia, ao ponto de se pedir que seja feito um referendo local. 

No dia em que o Sul Informação visitou o Centro Islâmico de Faro, na rua José Pedro de Almeida, ainda os muçulmanos estavam no período do Ramadão que terminou esta quarta-feira, 10 de Abril.

No chão, a mesa estava disposta, com tâmaras, chá ou bolachas. Era a primeira refeição do dia, após o jejum desde o nascer do sol.

Ossama Solayman, líder do Centro Islâmico de Faro, não esconde a tristeza que lhe tem causado a polémica em volta da ideia de construir uma mesquita na capital algarvia.

«Nós estamos em Faro desde 2001. A comunidade cresceu 400%, temos cerca de 2000 pessoas crentes atualmente e só temos um espaço exíguo, com poucas condições», diz.

O tema veio à baila após uma nota de imprensa enviada às redações pela Distrital do Chega.

 

 

 

 

Nesse documento, o partido político alega que a Câmara de Faro iria ceder, ao CIF, um terreno para a construção da mesquita, pedindo que fosse feito um referendo local.

E porquê? Porque este é um «tema fraturante», que «não esteve em apreciação no programa dos partidos» nas últimas Autárquicas, e que esta «discriminação positiva» beneficiaria uma «confissão religiosa».

O Chega/Algarve defende mesmo que a «falta de terrenos para a construção de fogos a preços controlados» torna a decisão ainda mais passível de contestação.

Isto apesar de ainda não existir qualquer decisão da Câmara.

Ossama Solayman garante que «nem sequer há, ainda, um local definido», até porque seria necessário que o terreno, no PDM, estivesse destinado a um equipamento de uso público/coletivo.

«A autarquia está sensibilizada, isso sim, para tentar arranjar uma solução», acrescenta, com Rogério Bacalhau, presidente da Câmara, a já ter inclusive visitado a atual sede do Centro Islâmico de Faro.

 

Comitiva do Chega, liderada por João Graça, nas ruas de Faro

 

O Chega alega também que o tema irá à Assembleia Municipal no próximo dia 29 de Abril, mas Ossama Solayman diz que «não recebeu qualquer confirmação oficial».

«Nós pedimos ajuda no sentido de pôr Faro no mapa, dada até a herança islâmica do Algarve. Nós queremos as mesmas coisas do Chega, como mais habitação. Os problemas de Faro só apareceram agora?», pergunta, indignado.

Ossama Solayman acusa mesmo o partido de André Ventura de estar a «fazer um ataque cerrado, vergonhoso, a pessoas que trabalham em Portugal e que cá moram».

Segundo o líder do Centro Islâmico, além da construção da mesquita, cujo investimento seria de cerca de 1 milhão de euros, suportados por um imigrante muçulmano residente na Europa, o projeto prevê também um supermercado halal (produtos islâmicos), bem como salas de reuniões.

«Isto até criaria, no mínimo, uns seis postos de trabalho», vinca Ossama Solayman.

No início desta semana, na segunda-feira, 8 de Abril, o tema levou João Graça, líder da Distrital do Chega e deputado na Assembleia da República, e Sandra Ribeiro, também deputada eleita pelo Chega, a percorrer as ruas de Faro para «perceber a opinião dos farenses relativamente à cedência de um terreno público para a construção de uma Mesquita».

Segundo uma nota publicada no Facebook, a «falta de habitação foi sem dúvida a prioridade invocada por quem se sente abandonado na sua cidade onde vive e trabalha, paga impostos e sem ver o retorno do cumprimento das necessidades dos habitantes».

Ossama Solayman responde com uma frase: «o Chega está a querer atiçar o ódio».

 

Fotos: Pedro Lemos | Sul Informação

 

 

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