Please ensure Javascript is enabled for purposes of website accessibility
zoomarine
Sul Informação - A Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Alentejo: uma visão de futuro

A Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Alentejo: uma visão de futuro

Os territórios e em especial as áreas de baixa densidade (ABD) não são pobres, estão pobres. Muitos recursos estão expectantes e aguardam que alguém os converta em ativos territoriais. A cooperação local e regional é um desses recursos expectantes mais decisivos. Sem a cooperação e a reinvenção do associativismo de base local e regional não há comunidades inteligentes. Sem plataformas e redes colaborativas não há ator-rede capaz de gerar a intensidade-rede suficiente para dinamizar os territórios.

Os sinais distintivos territoriais (SDT) são a base de partida da economia criativa regional e o mapeamento dos mercados locais, fileiras económicas e cadeias de valor a base de partida da economia produtiva. Estas duas bases territoriais precisam de ser reinventadas e interagir intensivamente, mas de modo muito mais inteligente e imaginativo. Nestas hiperligações entre economia criativa e economia produtiva a caixa de instrumentos tecno-digitais e a smartificação do território das áreas de baixa densidade (ABD) desempenham um papel fundamental. A digitalização do território em conjunto com um associativismo intermunicipal mais vigoroso transporta as comunidades inteligentes para outros patamares de desenvolvimento territorial.

Em síntese. É preciso reinventar o associativismo de base regional para gerar comunidades mais inteligentes. É preciso criar plataformas digitais colaborativas para aumentar a intensidade-rede das comunidades. É preciso reinventar a narrativa territorial acerca dos SDT para recriar as hiperligações entre economia criativa e produtiva. É preciso usar o colar de pérolas da economia criativa – património e paisagem, ciência e tecnologia, arte e cultura – para promover os intangíveis criativos e transferir as suas inovações para a economia produtiva.

recrutamento zoomarine 2025

Finalmente, é preciso transformar uma nomenclatura estatística (NUTS III) num território-desejado e mobilizar a inteligência emocional, através da arte e da criatividade, para o desenvolvimento consistente das áreas de baixa densidade. Pensemos, por exemplo, na Comunidade Intermunicipal do Alto Alentejo (CIMAA) e numa visão de futuro para esta sub-região no horizonte 2030. Quais são as perguntas mais críticas e pertinentes neste momento e nesse horizonte temporal?

1 – Quais são em cada município e na sub-região CIMAA os SDT com maior visibilidade e efeito multiplicador e que cadeias de valor eles podem alavancar?

2 – Qual é o estado da arte em matéria de associativismo local e sub-regional e qual é a sua projeção e relevância territorial regional, inter-regional, transfronteiriça e internacional?

3 – Quais são os bens e serviços que podem ser considerados emblemáticos e representativos da economia sub-regional e aqueles com um potencial de crescimento mais inovador e mais global?

4 – Quais são os bens e serviços criativos que já estão incorporados nos bens e serviços da economia produtiva e aqueles com um potencial importante para serem parte do branding territorial da sub-região?

5 – Qual é o estado de saúde empresarial da sub-região e qual é o potencial de sucessão e rejuvenescimento empresarial que pode ser promovido daqui até 2030?

6 – Quais são os projetos estruturantes que a sub-região necessita, impreterivelmente, no horizonte 2030 para encetar um ciclo virtuoso de desenvolvimento e que acelere as hiperligações entre economia criativa e economia produtiva?

Para responder a estas perguntas mais críticas e pertinentes podemos ensaiar o esboço de uma visão para 2030, o horizonte temporal dos principais instrumentos de política pública europeia, nacional e regional. Como é obvio, este elenco é da minha inteira responsabilidade.

 

Eis a minha proposta:

1- Centro partilhado de recursos digitais: o objetivo é criar uma plataforma analítica territorial para a sub-região.

2- Incubadora de Base Rural: o objetivo é gerir um banco de solos e apoiar os jovens empresários rurais na sua instalação.

3- Distrito Agroindustrial do CAIA: o objetivo é criar um parque logístico e empresarial na parte sul da sub-região no quadro das relações transfronteiriças.

4- Parque agroecológico da Serra de S. Mamede: o objetivo é criar um sistema agroalimentar de base local que seja exemplar na gestão do mosaico agropaisagístico da serra de S. Mamede.

5 – Escola Secundária de Artes e Tecnologias: o objetivo é criar na CIMAA os jovens talentos e o capital humano e social do futuro da sub-região.

6 – Rede de Co-Housing e envelhecimento ativo: o objetivo é criar um programa de envelhecimento ativo, uma rede de cuidados ambulatórios de saúde e bem-estar e, assim, iniciar a desindustrialização da velhice.

7 – Banco de Oportunidades Jovens: o objetivo é criar uma plataforma que reúna informação sobre estágios, bolsas, residências, empregos, microcrédito, clubes de jovens empresários, etc.

8 – Rede de mercados locais e agricultura familiar: o objetivo é criar uma rede de circuitos curtos de comercialização e uma logística própria para a pequena agricultura.

9 – Rede Intermunicipal de economia circular: o objetivo é criar uma rede que articule todas as iniciativas e projetos nesta área, desde as comunidades de energia alternativa até à gestão de resíduos e compostagem para a agricultura regenerativa.

10 – Rede Intermunicipal de ofícios, artes e cultura: o objetivo é criar uma plataforma colaborativa de crowdsourcing e crowdfunding para sustentar um movimento cultural e criativo na sub-região que seja inspirador e, assim, cative os mais jovens a ficar na CIMAA.

Nota Final

Estes e outros projetos estruturantes, por exemplo, o empreendimento de fins múltiplos do Crato e a barragem de Pisão, devem fazer parte de um Programa Integrado de Desenvolvimento para a sub-região e inscrito no âmbito mais geral dos programas operacionais do PRR, do PT 2030, dos programas europeus e transfronteiriços e, obviamente, do programa operacional regional do Alentejo. Para o efeito, julgo indicado criar um sistema operativo apropriado a esta visão de futuro, se quisermos, através da criação de um ator-rede para a sub-região que seja uma administração executiva do conselho estratégico da sub-região.

A terminar, gostaria de deixar expresso uma espécie de aviso à navegação, chamado custos de oportunidade. As áreas de baixa densidade (ABD) sofrem de um forte handicap. Quando o país tem pouco capital próprio e as ABD uma baixa taxa de retorno no espaço e no tempo, fica mais difícil investir em bens não-transacionáveis nas ABD do interior em vez de bens transacionáveis nas áreas mais intensivas do litoral.

Por isso, uma diferenciação ou discriminação geral e transversal nas ABD pode afigurar-se contraproducente, não obstante a sua comprovada necessidade. Fica o alerta, uma política meramente redistributiva entre municípios para financiar bens não-transacionáveis não nos leva muito longe.

 

Autor: António Covas é Professor Catedrático Aposentado da Universidade do Algarve

 



Banner lateral albufeira
festival de caminhadas

Também poderá gostar

Orquestra Ligeira de Lagos

Orquestra Ligeira de Lagos celebra 10 anos com dois dias de festa

Eleições Legislativas 2025 Assembleia de Voto

Votaram 25,56% dos eleitores até às 12h00

panorâmica São Brás de Alportel (4) (Medium)

São Brás de Alportel tem uma nova Carta Social