Lavrar o Mar desce a Portimão para revelar a Cidade Invisível

Envolvendo a comunidade de Portimão, os 100 anos da cidade vão ser comemorados de forma cheia de criatividade

Apresentação da Biblioteca de Cordas e Nós – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

Portimão vai ter, ao longo de 2024, ano em que comemora o centenário da sua elevação a cidade, «uma programação artística e cultural de dimensão e respiração europeia». A garantia foi deixada ontem por Giacomo Scalisi, da Cooperativa Lavrar o Mar, que vai ser a grande responsável por um ano de arte e cultura.

A apresentação foi feita esta segunda-feira durante a sessão solene do Dia da Cidade e deixou quem assistiu com água na boca. É que apenas uma pequena parte do véu foi levantada.

Giacomo Scalisi anunciou que, «no início de 2024, entre os meses de janeiro e fevereiro, reuniremos uma equipa pluridisciplinar, de alguma forma ligada à cidade de Portimão, com competências nos campos da antropologia, da arquitetura, da literatura, da história, entre outros».

O resultado deste exercício, acrescentou, «será o ponto de partida para, ao longo de 2024, dar forma a uma programação cultural que irá, em crescendo, surgir em diferentes formatos, com o objetivo de preparar aquilo que será o momento final desta celebração, a data de elevação a cidade, que acontecerá no mês de dezembro, daqui ao ano».

«Haverá uma forte presença de espetáculos de novo circo, de teatro, de música, de dança, das artes plásticas», cuja intenção é «construir uma ocupação progressiva da cidade de Portimão».

Através deste projeto artístico, «imaginado com diferentes artistas, nacionais e internacionais, e os seus universos artísticos, vamos poder acrescentar e surpreender, um novo olhar sobre a vida quotidiana da própria cidade», disse ainda Giacomo.

Será «um percurso de desenvolvimento de atividade artística que irá interpelar os diferentes setores da sociedade, sejam as estruturas culturais locais, sejam as escolas, as praças, os museus, os lares, as ruas, o teatro e, claro, a própria população de Portimão».

Quer saber mais? «No final de fevereiro de 2024, o projeto de programação será apresentado em todos os seus detalhes», anunciou.

 

Giacomo Scalisi a apresentar projeto «Cidade Invisível» – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

Mas ontem já foi possível ficar a conhecer três projetos que integram esta programação da «Cidade Invisível», apresentados pelo artista espanhol José António Portillo, que por eles será responsável.

Ajudado, na tradução, por Madalena Victorino, Portillo revelou que o primeiro projeto será a «Biblioteca de Cordas e Nós», que «trabalhará profundamente com a comunidade escolar, com crianças entre 6 e 14 anos e seus professores».

«É como um coração que vai pulsar dentro da cidade, uma instalação dentro da cidade, para ser visitada por muitas crianças e seus professores», acrescentou o artista, que já foi, ele próprio, professor primário.

«Não vou falar sobre o conteúdo, mas vou dizer que esta Biblioteca fala de uma escola que é intemporal, que mantém os princípios universais, como a capacidade de escutar e de fazer silêncio. E isso é muito importante numa sociedade que está cheia de ruído, onde as pessoas já não sabem escutar, nem descodificar toda a informação que recebem», acrescentou.

«Também é uma homenagem à importância do narrar o conhecimento». Virando-se para a assistência, disse: «Se eu lhes perguntar, a qualquer um de vocês, se se lembram de algum professor, de certeza que se lembram daquele que narrava bem, não somente os contos, mas a matemática, a história, a geografia…».

No fundo, a «Biblioteca de Cordas e Nós», que já viaja pela Europa há 22 anos e que, em Portimão, ganhará uma «nova pele», pretende «mostrar que o ensino analógico pode conviver perfeitamente com o digital».

 

Museu do Tempo – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

O segundo projeto será o Museu do Tempo. «É um museu que faremos em Portimão, sustentável, que não gerará gastos públicos, não gerará gastos de eletricidade e de gás, nem terá funcionários», brincou José António Portillo.

Trata-se de «um museu que estará abaixo da terra, a 50 centímetros de profundidade, insisto, sustentável».

E como será construído? «Durante o ano, vamos contactar com vários grupos de diferentes gerações, dos mais novos aos mais velhos. Pediremos que busquem na sua memória um objeto que esteja ligado a Portimão e à sua vida pessoal». Esse objeto será enterrado, dentro de uma «caixa metálica, que até pode ser uma lata de conservas», a 50 centímetros de profundidade, «para que esta memória permaneça».

Esses «locais de enterramento» vão ser escolhidos pelas próprias pessoas, como locais importantes para si, dentro da cidade. «E esses vários pontos, onde essas memórias ficam guardadas, vão construir um novo mapa para Portimão. Dentro dessa caixa, abaixo da terra, vai ser colocada uma carta, «escrita por este menino, ou esta senhora, ou este homem, ou rapaz, ou rapariga», falando das «razões muito importantes pelas quais quis guardar para sempre a memória desse objeto, dentro do chão da sua cidade».

No fundo, «é como se a memória de Portimão não fosse só de ordem coletiva, fosse também de ordem individual e pessoal, e quase anónima. Porque as pessoas que nela vivem também são construtoras de uma memória para a cidade, que não se vê, a tal cidade invisível». Promete!

 

Caminhos Orgânicos – Foto: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

O terceiro projeto tem um título que usa «um termo roubado a Fernando Pessoa»: Caminhos Orgânicos.

Aqui, o objetivo será trabalhar com adolescentes, um público mais difícil de cativar.

«Vamos encontrar uma série de adolescentes, a quem vai ser pedido para nos mostrarem os caminhos que percorrem na cidade e aquilo que acontece nas suas vidas nesses caminhos. Nesse caminho, vamos descobrir o que é a Portimão invisível, que tem cheiros, que tem ruídos, que tem desenhos de lugares, recantos. São, no fundo, caminhos invisíveis», explicou ainda José António Portillo.

Depois, será escolhido «o sítio mais importante para este jovem e, através de uma fotografia feita por um fotógrafo profissional, vamos recolher a sua sombra. Finalmente, será feita uma exposição com as fotografias, com um QR code, onde poderemos escutar qual é o caminho orgânico de cada adolescente. Será uma exposição de fotografia, mas com um sistema áudio, para que se possa ouvir os relatos destes adolescentes sobre os seus caminhos pessoais invisíveis através da cidade».

No mínimo intrigante, não é? A concluir, o artista espanhol admitiu: «são três projetos aparentemente muito simples, mas que, para mim, como ex-professor da escola primária, me parecem muito estimulantes e entusiasmantes de fazer e de realizar».

Agora só resta esperar que tudo isto comece a concretizar-se. E só em Fevereiro se saberá qual a restante programação deste Lavrar o Mar que vai ajudar a comemorar os 100 anos de Portimão enquanto cidade.

 

Fotos: Elisabete Rodrigues | Sul Informação

 

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