O músico algarvio Dino d’Santiago recebeu, esta quarta-feira, 20 de Dezembro, a Medalha de Mérito Cultural, dada pelo Governo. A cerimónia ocorreu, de forma simbólica, no Estabelecimento Prisional do Linhó, onde o artista tem desenvolvido o projeto “De dentro para fora”.
Em comunicado, o Ministério da Cultura explica que decidiu dar este galardão a Dino d’Santiago «em reconhecimento do contributo que tem dado para a criação musical em língua portuguesa e para a sua projeção no mundo e pelo seu papel na promoção do diálogo cultural entre os povos que falam português».
A isto junta-se o empenho que o artista, natural de Quarteira, «tem posto na defesa da igualdade e no combate a todo o tipo de discriminação».
A entrega da Medalha de Mérito Cultural pelo ministro da Cultura Pedro Adão e Silva, na presença da ministra da Justiça Catarina Sarmento e Castro, teve lugar no Estabelecimento Prisional do Linhó, onde Dino integra semanalmente a iniciativa “De dentro para fora”, coordenada pelo professor Filipe Gameiro Neves, fazendo da música um espaço de liberdade no interior da cadeia.
«Este projeto que o Dino faz, e muitas outras coisas que o Dino faz, tem este princípio: utilizar a cultura para promover uma ideia de virtude. Fazer o bem e criar uma comunidade de pertença», diz o ministro Pedro Adão e Silva.
«A forma como o Dino tem aproximado as várias linguagens culturais tem ajudado a tornar o nosso país mais aberto e a projetar uma imagem de uma sociedade mais plural e diversa e, por isso, mais rica», acrescenta.
O cantor, músico e compositor Claudino Jesus Borges Pereira, mais conhecido como Dino d’Santiago, nasceu a 13 de Dezembro de 1982 em Quarteira.
Filho de pais cabo-verdianos, cresceu num bairro de habitações precárias – o Bairro dos Pescadores –, vindo a mudar-se para o Porto aos 21 anos e fixando, uma década mais tarde, residência em Lisboa. Ainda assim, nunca perdeu a ligação a Quarteira, onde regressa várias vezes e onde tem feito vários projetos.
Sempre que possível, tem também passado temporadas na Ilha de Santiago, de onde os seus pais são naturais
A sua ligação à música começou ainda em criança, quando, seguindo o exemplo dos pais, integrou o coro da igreja. Mais tarde, na adolescência, passou a atuar ao vivo em espetáculos de rappers do Algarve, seus amigos, estreando-se então como compositor e criador das suas próprias canções.
No plano nacional, Dino tornou-se conhecido em 2003, de maneira quase fortuita: ao acompanhar uma amiga a um casting para o programa televisivo “Operação Triunfo” (RTP), é ouvido a cantar por um dos elementos da organização, que o insta a tomar parte no concurso. Passa então na seleção do júri e interpreta um tema da banda portuguesa de hip-hop “Black Company”, além de músicas da sua própria autoria.
Desenvolve, a partir daí, uma série de projetos onde se fundem os universos do soul, do hip-hop e do R&B. Em nome coletivo, merecem destaque “Dino & The SoulMotion”, ao lado de Sam The Kid, Tito Paris, Valete, Pacman, Virgul e outros, bem como a banda “Nu Soul Family”, que integra mais uma vez na companhia de Virgul.
O seu primeiro álbum em nome individual é “Eva”, de 2013, e tem desde então revelado um interesse sempre crescente numa criativa mistura afro-pop que combina o hip-hop e a soul com os ritmos caboverdianos do batuku e do funaná.
Músicas como “Nova Lisboa”, “Esquinas”, “Kriolu”, “Como Seria” ou “Nôs Funaná” são alguns dos seus êxitos.
Ao longo da sua carreira Dino d’Santiago tem recebido inúmeros prémios e distinções. Em 2021, foi distinguido com a Medalha de Mérito da Câmara de Loulé.
Foi várias vezes premiado nos Cabo Verde Music Awards, por ocasião dos álbuns “Eva” e “Mundu Nôbu”. É, até hoje, o artista que mais galardões recebeu nos Play – Prémios da Música Portuguesa. Em 2010, o projeto Nu Soul Family ganhou o MTV Europe Music Award para Melhor Artista Português, prémio para o qual o próprio Dino seria depois indicado, em nome individual, em 2020.
Em 2022, recebeu o Prémio de Melhor Intérprete nos Globos de Ouro.
Dino D’Santiago tem dado também muito da sua projeção a projetos sociais. É um dos fundadores “Sou Quarteira”, uma iniciativa de dinamização cultural dessa cidade algarvia que inclui um festival multicultural.
Desde 2021, é mentor e diretor artístico da Lisboa Criola, projeto que dá ênfase à diversidade cultural da capital do país.