No D. José, há 50 anos que há uma dona Maria José

Trabalhadora mais antiga do hotel fez 50 anos em casa, em Setembro

D. Maria José – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

A dona Maria José lembra-se bem do dia em que chegou a Quarteira: 6 de Setembro de 1973. «A camioneta parava ali, onde hoje é o calçadão», aponta. Na ideia, trazia a vaga para um posto de telefonista que, afinal, já estava preenchido. Acabou por ficar na mesma, mas na caixa do restaurante de um Hotel D. José que ia dando os primeiros passos, em Quarteira. 50 anos depois, é lá que continua a trabalhar – e nem lhe falem da reforma. 

«A dona Maria José tem um tal estatuto que só sai daqui quando quiser», graceja João Soares, diretor do D. José. Estamos no lobby de entrada do hotel, numa tarde de ainda calor e com clientes a entrar e a sair.

Há muitos que Maria José conhece ou não fosse ela uma trabalhadora com 50 anos de casa.

«Tenho amizades com pessoas, clientes, de anos e anos. Alguns chegaram-me a deixar, por exemplo, a morada para os visitar. Outros já têm perguntado por mim», conta.

A vida da dona Maria José confunde-se com o próprio hotel que, quando foi inaugurado, tinha o nome “Toca do Coelho”. Foi lá que chegou muito nova, 21 anos, e com vontade de ficar no Algarve.

 

D. Maria José e João Soares, diretor do hotel – Foto: Pedro Lemos | Sul Informação

 

«Vim de Lisboa com um contrato de três meses para trabalhar no Eurotel (Altura). Ao fim desse tempo, acabou-se o contrato, mas eu decidi ficar no Algarve», diz. Acabou por descobrir uma vaga para telefonista no Hotel D. José, em Quarteira.

«Quando cá cheguei, disseram-me que, naquele dia, já tinha entrado uma telefonista, mas o senhor Soares, dono do hotel, disse-me que havia outras vagas e assim foi».

Naquele Setembro de 1973, Maria José começou a trabalhar na caixa do restaurante. «Na altura, chamava-se controlo: tinha de fazer pequenos almoços, almoços e jantar», recorda.

Mais tarde, passou para os serviços de escritório, onde ainda trabalha hoje, aos 71 anos, e onde foi colega… de João Soares, neto do fundador, que viu crescer, e atual diretor.

Por isso, não é de estranhar que, para Maria José, trabalhar no D. José seja como trabalhar «numa casa de família».

«Foi aqui que conheci o meu ex-marido, casei-me, tive três filhos… Muitas vezes, as pessoas perguntam-me como é que aguento 50 anos numa casa. Isto tudo tem um porquê. Quando comecei a formar família, por exemplo, tudo se conciliou com o meu horário de trabalho», conta, sorridente.

Ao longo dos anos, a dona Maria José foi recolhendo histórias. Umas, confessa, não pode contar, mas há uma de que se recorda logo.

 

 

 

«Houve um cliente que me quis levar para Inglaterra porque simpatizou comigo. Ainda tive o bilhete pago, mas desisti. Era um cliente que já me conhecia e que queria que fosse tomar conta da sua esposa. Ainda equacionei, mas não fui», conta.

O crescimento do hotel – e do turismo em Quarteira – também foi acompanhado na primeira pessoa, bem como momentos difíceis (elege a pandemia de Covid-19 como um dos principais).

«Era uma Quarteira muito diferente quando cá cheguei. Já o hotel tem tido remodelações para melhor, mas a essência mantém-se. E porquê? Porque os donos continuam cá à mesma», considera.

É essa a essência que a faz continuar a trabalhar, aliada, confessa, à «necessidade» financeira. «Mas também não me estou a ver a ficar parada!», atira, prontamente.

«Chegamos a um ponto que quase vivemos os problemas do hotel como se fossem nossos», conclui.

 

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