Peritos de 20 países iniciam debate de estratégias para a literacia do Oceano

Especialistas querem introduzir o Oceano no currículo escolar

Especialistas de duas dezenas de países, Portugal incluído, reúnem-se a partir de quarta-feira em Itália para definir estratégias de promoção internacional da literacia do Oceano, podendo uma delas ser “a introdução do Oceano no currículo escolar”.

Em declarações à Lusa, Raquel Costa, geóloga marinha que de Portugal integra o “think tank”, explicou que uma das estratégias de que mais se tem falado é a introdução do Oceano no currículo escolar, a nível mundial, o que não é fácil, mas seria “um grande feito”.

Outro dos objetivos, explicou, «é mostrar aos decisores políticos a importância da literacia e do seu financiamento», defendendo que a literacia tem sido sempre o parente mais pobre nas questões ligadas aos oceanos, que vem por arrasto quando se financiam projetos.

O grupo de 20 especialistas deverá desenvolver um plano de ação para promover a literacia para os próximos quatro anos, identificando áreas de intervenção prioritárias e formas de seguir o progresso dessas intervenções.

O «laboratório de ideias» surge no âmbito da Década das Nações Unidas das Ciências do Oceano para o Desenvolvimento Sustentável (2021-2030) e é promovido pela Comissão Oceanográfica Intergovernamental (COI) da UNESCO.

Liderado por Francesa Santoro, da COI/UNESCO e responsável pelo programa global de Literacia do Oceano, o grupo tem especialistas em diferentes áreas e vai de artistas a cientistas.

Raquel Costa é educadora marinha e coordenadora nacional da Rede Escola Azul do Atlântico, que junta quase uma dezena de países ligados ao oceano Atlântico.

O objetivo do grupo é «contribuir para a cooperação internacional e promoção da Literacia do Oceano em todas as partes do mundo, através da partilha de conhecimentos, técnicas e projetos de diferentes setores», explica num comunicado a COI-UNESCO, segundo o qual a primeira reunião dos especialistas acontece em Veneza na quarta e na quinta-feira.

«A Literacia do Oceano considera as relações entre o oceano e os demais aspetos da vida na Terra e catalisa ações para proteger, conservar e usar o oceano de forma sustentável, envolvendo a sociedade como um todo», explica Francesca Santoro no comunicado.

Nas declarações à Lusa, Raquel Costa lamentou que a literacia do Oceanos não tenha sido até agora considerada muito importante, como outros temas como a economia azul, a biodiversidade ou o lixo marinho, salientando o esforço da COI/UNESCO, no âmbito da década dos oceanos, de colocar o tema ao lado dos outros.

Raquel Costa, cuja participação no grupo foi proposta pela COI/UNESCO de Portugal, disse, quando questionada pela Lusa, que não há, em Portugal e em muitos outros países, falta de conhecimento sobre os oceanos, as sua importância, problemas e formas de os resolver.

Mas, acrescentou, «transformar esse conhecimento em mudanças de atitudes e comportamentos é outra questão». Porque não basta saber mais, é preciso saber discutir, tomar decisões e mudar comportamentos em prol da sustentabilidade. E porque em 20 anos viram-se poucas mudanças na sociedade em geral.

Nestas matérias, nas palavras da especialista, há muitas “cops” (conferências das partes das Nações Unidas), reuniões, cimeiras…

«A política é importantíssima. Mas falamos, falamos, e depois? Acontece o quê? Pouco. Por isso é que eu acho que a intervenção da literacia é importante, porque é ir ao fundo, ir ao âmago da questão, à mudança».

 

 



Comentários

pub